#eleganhou. O populista com uma agenda económica liberal
Qual é o futuro do Brasil? Autoritária e militar, ou liberal na economia. Isto é o princípio de uma nova vida para o país ou é o último episódio, o fim de um ciclo, a degeneração final?
Jair Bolsonaro é o novo presidente eleito do Brasil, Lula da Silva perdeu, desta vez nas urnas, por interposta pessoa (Fernando Haddad), e o país ganhou um líder de extrema-direita, populista, autoritário, ultraconservador nos costumes, que mistura a religião com a política e o Estado, e com uma agenda económica liberal. Um albergue ideológico – sem consistência – mas com um apoio popular que foi muito além dos brasileiros de ‘alta renda’. O militar que era pouco mais respeitado do que o famoso ‘Tiririca’ chegou ao Palácio da Alvorada. E agora?
A primeira conclusão destas eleições é mesmo a de que os brasileiros fartaram-se da corrupção, da utilização que o PT e Lula da Silva fizeram do Estado, da crise económica em que mergulharam o país. Da criminalidade que atingiu níveis insuportáveis. E a eleição de Jair Bolsonaro foi, em primeiro lugar, uma derrota do PT, de 13 anos de governação de Lula da Silva e de Dilma Roussef. “Foi a corrupção do PT que criou as condições para a candidatura de Bolsonaro”, afirmou André Jordan, um empresário brasileiro há muitos anos em Portugal, em entrevista ao ECO. A esquerda portuguesa ‘redescobriu’ o Brasil, os riscos de Bolsonaro, mas nunca foi capaz de criticar o PT de Lula e, pelo contrário. insistiu nas razões políticas da detenção do anterior presidente. Mas os brasileiros, esses, quiseram a mudança. Também porque não se viu na campanha de Haddad nada mais do que o #elenão e o apoio a Lula, até a promessa de que poderiam tentar a sua libertação, e a continuidade das políticas que trouxeram o país até aqui.
Agora, o mais importante é o dia seguinte: Quem leu e ouviu Bolsonaro só pode ficar preocupado com os tiques autoritários, com as mensagens racistas e xenófobas, com a perspetiva de um Presidente que, se levar à prática algumas das coisas que disse nos últimos anos, só pode resultar na transformação do país numa democracia musculada ou, se calhar, numa ditadura ‘soft’. Uma versão do Chile de Pinochet do século XXI? Uma Venezuela com sotaque português? Queremos, claro, acreditar que as instituições vão funcionar – é o que sugere o The Economist – para evitar tentações. Mas o Brasil, é preciso acrescentar, não é os EUA. Saiu da ditadura militar – elogiada por Bolsonaro – em 1985, portanto, não foi assim há tantos anos.
A agenda política de Jair Bolsonaro tem de ser negociada, muito negociada, por causa da dispersão de partidos no congresso e no senado. Bolsonaro não é um outsider da política, como Trump, foi congressista durante anos e está habituado aos corredores do poder. Está habituado à negociação no congresso, e essa experiência será crítica para concretizar o seu programa. Não deixa de ser contraditório, e por isso difícil de tipificar, a agenda autoritária e militarizada com os princípios da liberdade económica. O fascismo – palavra normalizada para a esquerda classificar os oponentes de direita – é outra coisa, como bem refere Madeleine Albright no livro “Fascismo. Um alerta”. Bolsonaro pode vir a tornar-se uma versão renovada de Pinochet do tempo das redes sociais ou o espelho de Maduro, mas a verdade é que “Liberdade” é uma das palavras mais usadas pelo presidente eleito no seu programa eleitoral. E também o foi no discurso de vitória, como o respeito pela Democracia e pela Constituição. A liberdade de iniciativa privada, e de propriedade, a diminuição do peso e da intervenção do Estado na economia, as privatizações, o reequilíbrio das contas públicas, a abertura da economia brasileira (que é protecionista) ao mundo.
Jair Bolsonaro escolheu para o super-ministério da Fazenda um nome reconhecido junto dos investidores. Paulo Gudes é um economista liberal, que vem dos mercados financeiros. Fundou o Banco Pactual e, agora, trabalha na Bozano Investimentos. Tem a escola de Chicago e uma intervenção pública regular, isto é, conhece-se a sua agenda e orientação. Não será uma surpresa para os brasileiros. É ele que tem de convencer os investidores da bondade das reformas económicas e sociais que estão no Programa de Bolsonaro. As contas certas, a reforma do mercado de trabalho prometida – com mais flexibilização – e mais exigência na educação, entre outras.
O presidente eleito tomará posse apenas a 1 de janeiro. Os próximos dois meses serão particularmente relevantes, mais do que o normal, para avaliar qual será o Brasil dos próximos anos, e qual é a agenda que vai ser a marca de Bolsonaro. A autoritária, e militar, ou a liberal na economia. Isto é o princípio de uma nova vida para o Brasil ou é o último episódio, o fim de um ciclo, a degeneração final?
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