Rede de segurança de Draghi alivia risco das dívidas. Juro português toca mínimo de sete meses
BCE garantiu que irá continuar a comprar dívida pública nos próximos meses. Analistas consideram que Portugal será um dos países beneficiados pela nova estratégia que começa em janeiro de 2019.
O anúncio do fim do programa de compra de ativos do Banco Central Europeu (BCE) e os primeiros detalhes sobre os próximos passos estão a ser recebidos com agrado pelos mercados. O risco dos países da Zona Euro segue em queda, esta quinta-feira, com a yield das Obrigações portuguesas a 10 anos a caírem para mínimos de sete meses. Os analistas consideram que Portugal poderá vir a ser beneficiado pela nova estratégia.
“Não foi uma surpresa, mas, ainda assim, foi uma grande feito e, para alguns, até histórico. O BCE anunciou, ou melhor, confirmou o fim do programa de compra de ativos (QE). O que parece puro tédio é, de facto, o resultado de uma comunicação magistral, que estabeleceu o piloto automático e preparou os mercados financeiros“, afirmou Carsten Brzeski, economista-chefe do ING Alemanha, numa nota de research após a reunião.
O presidente do BCE, Mario Draghi, anunciou esta quinta-feira que a política de reinvestimentos dos juros recebidos pela dívida que detém e do montante dos títulos que atingem as maturidades irá continuar até depois da primeira subida das taxas de juros de referência, que estão atualmente em mínimos históricos. Apesar de ter revisto em baixa as estimativas para o crescimento económico, o italiano mostrou confiança no papel preponderante do QE na recuperação da economia.
Não há montantes nem datas específicas para os reinvestimentos, mas Mario Draghi explicou que há espaço para ajustamentos: não é obrigatório que reinvestimento aconteça no mesmo país de origem dos ativos inicialmente comprados. Pelo contrário, poderá aproveitar para corrigir as proporções de dívida que detém, com base na chave de capital (que determina o peso de cada país no total do programa).
“Na prática, o que significa é que irá comprar em países como Portugal e um pouco na Irlanda e Chipre, em detrimento potencialmente de Itália ou Espanha porque detém mais Obrigações do que deveria desses países”, explicou Marchel Alexandrovich, economista financeiro da Jefferies, citado pela agência Reuters.
No mercado secundário, o juro da dívida benchmark portuguesa cai para 1,676%, o valor mais baixo desde maio de 2018. A tendência estende-se aos vários países do sul da Europa: a yield da dívida de Itália recua para 2,956%, a de Espanha para 1,424% e a da Grécia para 4,24%. Em contraciclo, a yield das Bunds alemãs a 10 anos sobe para 0,285%.
“Alguns podem argumentar que o fim do QE chega tarde demais, alguns outros consideram que pode ser cedo demais. Em qualquer caso, o BCE conseguiu arquivar o primeiro instrumento de crise não convencional, sem distorcer os mercados ou a economia. Contrariando os temores de turbulência no mercado ou aumento dos rendimentos dos títulos, o BCE conseguiu acabar com o QE, e ninguém parece importar-se“, acrescentou Brzeski.
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