Da economia às greves, até às eleições. Marcelo e Costa frente a frente
Em ano de eleições e protestos, Marcelo aproveita a sua última mensagem de 2018 para deixar recados a grevistas, eleitores e candidatos. Já Costa defende melhoria da vida de todos de modo equilibrado.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa fecharam 2018 com temas semelhantes, mas posições um tanto diferentes. Na economia, o Presidente vê “tempos difíceis” enquanto que o primeiro-ministro ignora as incertezas; sobre as greves, um pede respeito e o outro escolhe contornar a matéria, salientando ainda assim o “muito” que precisa de ser feito; já nas eleições, há recados sérios dirigidos não só a eleitores, mas também a candidatos.
Num ano que promete ficar marcado por três idas às urnas e pelo clima de contestação social, estes são os votos do primeiro-ministro e do Presidente da República, frente a frente.
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Marcelo vê tempos difíceis, Costa ignora incertezas
Para Marcelo, os “tempos continuam difíceis” em vários aspetos que podem pôr em perigo a economia, tendo em conta uma Europa “que fica mais pobre com a partida do Reino Unido, desacelera na economia”. E neste campo, o Presidente pede respostas para vários cenários. “Podemos e devemos ter a ambição de assegurar que a nossa economia não só se prepare para enfrentar qualquer crise que nos chegue, como queira aproximar-se das mais dinâmicas da Europa, prosseguindo um caminho de convergência agora retomado.”
Em matéria de finanças públicas, o chefe de Estado é omisso na sua mensagem de ano novo: não há referências diretas ao défice ou à dívida pública. Pelo contrário, António Costa destaca a vontade de “eliminar o défice e de continuar a reduzir a dívida, condições da credibilidade internacional que reconquistámos, e que é fundamental para reduzir os juros que Estado, empresas e famílias pagam”. A par da “política de responsabilidade e equilíbrio para continuar a melhorar a vida de todos”, Costa conta com uma economia a crescer. “Pela primeira vez desde o início do século a nossa economia cresceu mais do que a média europeia”, disse António Costa, que sublinhou o impacto deste crescimento no emprego. Este otimismo acontece apesar das dúvidas já reveladas pelo Presidente da República que classificou o cenário do Governo como “mais generoso”, aquando da promulgação do Orçamento do Estado para 2019.
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Marcelo e Costa juntos no combate à pobreza
O Presidente da República e o primeiro-ministro deixam mensagens semelhantes no que diz respeito ao combate à pobreza. António Costa salienta que, “virada a página dos anos mais difíceis”, uma das questões essenciais que se coloca é a do alargamento dessas melhorias a “cada vez mais pessoas”. Marcelo Rebelo de Sousa acompanha o sentimento, apelando ao reforço da “justiça social”, ao “combate à pobreza” e à “correção das desigualdades”. O chefe de Estado diz ainda que é preciso garantir a “dignidade” de todos, a começar pelos que estão mais “frágeis, excluídos, ignorados”.
Na sua mensagem de Natal, o primeiro-ministro aproveita ainda para notar que, apesar de terem sido criados 341 mil empregos, há “ainda muitas pessoas” à procura de trabalho e, embora os “rendimentos tenham melhorado”, persistem “níveis elevados de pobreza”. Por isso, o líder do Executivo determina que é “preciso continuar a melhorar os rendimentos e a dignidade no trabalho”.
Marcelo Rebelo de Sousa acrescenta: “Podemos e devemos ter a ambição de ultrapassar a condenação de um em cada cinco portugueses à pobreza e a fatalidade de termos Portugais a ritmos diferentes, com horizontes desiguais”. A propósito, António Costa também reforça a necessidade de um “pleno aproveitamento” do território nacional.
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Marcelo pede respeito, Costa contorna greves
Na sua tradicional mensagem de Ano Novo, Marcelo Rebelo de Sousa faz questão de deixar ainda uma nota sobre o clima de contestação social que o país tem vivido. O Presidente da República aconselha os portugueses a chamarem “a atenção dos que querem ver eleitos” para os seus direitos e “escolhas políticas” não apenas através da opinião, mas também através de manifestações e greves.
Num momento em que vários setores nacionais enfrentam (ou acabaram de enfrentar) paralisações críticas — como a dos enfermeiros, que acabou por resultar no adiamento de cerca de dez mil cirurgias — o chefe de Estado sublinha que, mesmo em protesto, é necessário respeitar os outros: os que apresentam opiniões diferentes e “os que podem sofrer as consequências” dessas lutas.
Por sua vez, António Costa contorna este tema, mas defende que o país está “melhor”, embora haja ainda “muito” para “melhorar”. “Temos de continuar a investir na qualidade dos serviços públicos, como o Sistema Nacional de Saúde ou os transportes”, reforça o primeiro-ministro, na sua mensagem de Natal.
Apesar de dizer não “ignorar” essas necessidades, o líder do Executivo frisa que é preciso fazer tal investimento sem deixar de “eliminar o défice” e reduzir a dívida. “Há, pois, que prosseguir com ambição e determinação esta política de responsabilidade e equilíbrio para continuar a melhorar a vida de todos em Portugal”, afirma.
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Marcelo quer políticos “mais confiáveis”, Costa evita tema das eleições
Marcelo vai direto ao ponto na sua mensagem ao exigir a todos os portugueses que participem nas eleições. “O que vos quero pedir, hoje, é simples mas exigente. Votem. Não se demitam de um direito que é vosso, dando mais poder a outros do que aquele que devem ter.” Mas o Presidente da República faz mais do que isso ao exigir à classe política responsabilidade. Na mensagem de Ano Novo é possível encontrar duas passagens sobre esse ponto em concreto. “Se quiserem ser candidatos analisem, com cuidado, o vosso percurso passado e assumam o compromisso de não desiludir os vossos eleitores”, alerta o chefe de Estado, numa altura em que se somam casos que põem em dúvida a ética da classe política.
Mais adiante na sua intervenção, Marcelo expressa o seu desejo para 2019: “Ponto de encontro entre povos, economia mais forte, sociedade mais justa, política e políticos mais confiáveis. Será pedir muito a todos nós, neste ano de 2019? Não. Não é.” E pede que não sobrem dificuldades. “Debatam tudo, com liberdade, mas não criem feridas desnecessárias e complicadas de sarar.”
Já António Costa não se refere diretamente ao ano eleitoral. No entanto, a mensagem de Natal acabou por ser marcada pelo clima pré-eleitoral. Depois de desfiar um conjunto de indicadores que mostram resultados positivos, o primeiro-ministro afirmou: “Estamos melhor, mas ainda temos muito para continuar a melhorar. A primeira condição é dar continuidade às boas políticas que nos têm permitido alcançar bons resultados”. Leia-se: para o país melhorar os portugueses têm de confiar em quem os governa no presente. O clima pré-eleitoral é também notório quando diz que não se ilude e defende que “não nos podemos iludir com os números”, abrindo assim o espaço necessário para tentar mostrar uma proposta de futuro.
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