Está o caso malparado

Há menos malparado, mas a banca continua cheia dele. Com a economia a abrandar, estará a banca pronta para ajudar?

Portugal sofreu com a crise. E um dos setores que levou a maior cacetada foi o da banca. Milhares e milhares de milhões de euros de créditos concedidos, a empresas e famílias, deram lugar a milhares de milhões de euros de empréstimos não produtivos. Mas vamos chamar as coisas pelos nomes: malparado.

Esta expressão há muito passou a fazer parte do léxico dos portugueses, de tanta vez que já a viram escrita nos jornais. E vão continuar a ver. É que apesar da crise já ir lá longe, o problema não. O problema só há pouco tempo começou a merecer resposta por parte dos bancos que, primeiro, tiveram de resolver outro problema mais premente: a sua sobrevivência.

A banca chegou a ter quase 50 mil milhões de euros em malparado. Um fardo demasiado grande que tem vindo a encolher. Mas mesmo depois de anos de esforços, faltam ainda 30 mil milhões de euros. Cá dentro, vangloria-se a quebra de cerca de um terço do valor do malparado face ao pico. Lá fora, olha-se, e bem, para os dois terços que ainda têm de desaparecer.

Boa parte da quebra do malparado tem sido resultado da limpeza que tem sido feita pelo Novo Banco, o banco que resultou da resolução do BES. Era neste banco que estavam concentrados muitos dos créditos tóxicos. E continua a ter uma “fatia de leão” do malparado, mas está a reduzir esses créditos a olhos vistos.

Tinha, em setembro, 8,5 mil milhões de euros em malparado. Vendeu 2,15 mil milhões no final do ano passado. E agora vai limpar mais mil milhões. Está a limpar como nenhum outro banco do sistema português. A explicação é simples: tem as costas quentes. O dono, o Lone Star, muniu-se de um mecanismo de milhares de milhões de euros que será utilizado até ao último cêntimo neste processo.

Vai custar milhões de euros por ano aos portugueses, já que parte do dinheiro desse mecanismo vem do Orçamento do Estado, mas também aos restantes bancos, que são os donos do Fundo de Resolução. Mas, pelo menos, está a cumprir a promessa de despachar o que não está a fazer nada no seu balanço.

E os outros bancos? Depois de tantos milhares de milhões de euros de dinheiro públicos, porque não reduzem também o malparado que têm em carteira? Porque não aceleram o processo de limpeza? Mesmo depois de tantos aumentos de capital, com dinheiros públicos e privados, continua a faltar-lhes dinheiro para limpar de vez a casa.

Limpar malparado é caro. E come capital, obrigando a reforçar rácios com… mais dinheiro dos acionistas. Mas em vez de se fazer isso, há já bancos que, depois de anos a pedirem dinheiro, vão dar dinheiro em dividendos. Querem aliviar o fardo dos seus acionistas, mas a que custo? De voltarem a pedir mais daqui a pouco tempo? Não faz sentido.

Portugal está ainda no top entre os países da Zona Euro em termos de malparado. E o país precisa de sair rapidamente deste pódio. Precisa de ter bancos saudáveis. A qualidade dos seus ativos é crucial para que estes sejam capazes de se defenderem perante novos choques. E para poderem dar o seu contributo para a economia. E isto é por demais relevante dado o contexto atual de abrandamento da economia, não só da nacional, nem da europeia, mas de todo o mundo. O ciclo está a virar.

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