EDP tem duas das fábricas mais poluentes da Europa, uma em Portugal e outra em Espanha

Centrais da EDP em Sines e em Gijón estão na 22.ª e 23.ª posição do ranking das mais poluentes da UE. A nível nacional, central do Pego e refinaria da Galp são as segundas e terceiras mais poluentes.

A central termoelétrica da EDP em Sines foi a 22.ª fábrica mais poluente da Europa no ano passado, período em que expulsou mais de 7,4 milhões de toneladas de gases poluentes para a atmosfera. E esta não é a única fábrica da elétrica liderada por António Mexia a surgir neste ranking, já que logo na posição seguinte surge uma unidade detida pela EDP em Espanha, que emitiu pouco mais de sete milhões de toneladas — valendo-lhe a segunda posição entre as mais poluentes do país vizinho. Fonte oficial da EDP atribui as elevadas emissões destas centrais ao facto de serem das mais eficientes no seu portefólio, o que faz com que produzam de forma mais intensiva.

A Comissão Europeia (CE) publicou no início de abril a lista das emissões de gases poluentes (ficheiro excel) das empresas europeias ao longo de 2018. O ranking, que verifica os níveis de emissões de mais de 14 mil unidades ou empresas, é dominado pela indústria alemã, com sete centrais termoelétricas — unidades que produzem eletricidade a partir da queima de carvão — entre as dez mais poluentes.

Apesar deste domínio alemão, a liderança dos mais poluentes da União Europeia a 28 cabe, no entanto, a uma termoelétrica polaca que, sozinha, expeliu 38,3 milhões de toneladas de gases poluentes em 2018. Do segundo ao oitavo posto surgem então as sete centrais alemãs, que expulsaram entre 32,1 milhões e 10,2 milhões de toneladas no ano.

Entre as 14 mil empresas ou unidades fabris europeias consideradas no ranking da CE, surgem contabilizadas emissões de 246 infraestruturas sedeadas em território nacional, número que compara, por exemplo, com as mais de 1.000 registadas na economia espanhola, por exemplo.

Analisando os dados sobre a economia portuguesa, o caso da central termoelétrica da EDP em Sines é mesmo bastante singular, já que nem somando as três seguintes fábricas mais poluentes do país se chega ao nível de emissões desta central.

Sines: O município com a ‘fava’ do carbono

A central da EDP em Sines, com quatro grupos de geradores e uma potência total instalada a rondar os 1.300 megawatts, foi responsável por 7,4 milhões de toneladas de emissões em 2018, marca que a coloca, e por uma enorme vantagem, à frente da tabela portuguesa dos mais poluentes. Nos segundo, terceiro e quarto postos dos mais poluentes do país surgem outra central termoelétrica, uma refinaria e uma central de ciclo combinado, de acordo com os dados da CE.

Falamos da termoelétrica do Pego, detida pela Tejo Energia, uma parceria entre a TrustEnergy e a Endesa, da refinaria da Petrogal, detida pela Galp, e da central de ciclo combinado da Tapada do Outeiro, detida pela Engie (antiga GDF Suez). A central do Pego expeliu 2,79 milhões de toneladas, a refinaria da Galp 2,35 milhões e a central de ciclo combinado da Engie “apenas” 1,5 milhões de toneladas [ver tabela]. Tudo somado, as três mais poluentes do país depois da central da EDP emitiram 6,65 milhões de toneladas, menos 779 mil toneladas que a termoelétrica de Sines.

Seguindo os dados apurados pela CE para Portugal, é de destacar também a preocupante concentração de grandes poluentes num único município do país, já que se encontram em Sines duas das três fábricas que estão no pódio nacional. Além da termoelétrica de Sines, também a refinaria da Petrogal citada se encontra neste concelho, o que eleva para perto de dez milhões de toneladas as emissões de gases poluentes que saem deste município.

As mais poluentes em Portugal

* em toneladas de emissões CO2 equivalentes. Fonte: Comissão Europeia.

 

Apesar dos elevados valores apresentados pela central da EDP em Sines em comparação com as restantes unidades presentes em Portugal, certo é que tanto esta instalação, como a grande maioria das que foram identificadas pela CE evidenciam uma evolução bastante positiva face às emissões registadas em 2017.

Neste campo, e fechando a análise apenas às 15 mais poluentes do país, nota-se que apenas três registaram subidas, destacando-se o caso da TAP, não só por ser a primeira empresa fora das indústrias tradicionalmente mais poluentes, como por ter registado um aumento de emissões em 2018, o que a própria companhia justificou com a forte subida no total de voos, apontando que em termos de emissões por passageiro transportado tem melhorado a sua pegada, tal como o ECO deu conta.

A EDP fez um investimento significativo para reduzir impactos ambientais, tendo aplicado nos últimos anos cerca de 500 milhões de euros nos ativos térmicos em Portugal e Espanha para garantir o cumprimento dos mais exigentes requisitos ambientais.

Fonte oficial da EDP

Um outro apanhado possível de fazer partindo dos dados compilados pela Comissão Europeia passa pelo total de emissões por que cada grupo empresarial é responsável — ou seja, quantas milhões de toneladas somam as diferentes centrais e/ou fábricas detidas pela mesma empresa. Assim, extraindo e somando cada uma das parcelas respeitantes a Portugal, conclui-se que o grupo com mais entidades consideradas no ranking da CE não é a EDP ou a Galp, mas sim a Semapa nas suas diferentes ramificações — como a cimenteira Secil ou a papeleira Navigator, por exemplo.

Ao todo, são nove as fábricas do grupo Semapa que surgem no ranking da CE, ainda que com níveis de emissões inferiores ao milhão de toneladas. Ainda assim, e somando as emissões de todas as unidades da Semapa, conclui-se que estas responderam por 2,19 milhões de toneladas de emissões de gases poluentes em 2018. Já a Cimpor, com três unidades identificadas, somou 2,09 milhões, e a Galp atingiu os 3,21 milhões.

Quanto à EDP, em Portugal respondeu por um total de 8,97 milhões de toneladas, já que às 7,43 milhões da já referida central de Sines, devem somar-se as emissões das centrais termoelétricas de Lares e Ribatejo, com emissões de 660 mil e 870 mil toneladas.

EDP investiu 500 milhões na redução do impacto

Contactada, a EDP explica que as duas centrais em causa — Sines e Gijón, em Espanha –, são das unidades mais eficientes que detêm, razão pela qual acabam por ser as que produzem de forma mais intensiva.

“É a maior eficiência das centrais da EDP que justifica que surjam nesta posição, uma vez que a sua competitividade em mercado resulta em maiores níveis de produção. Nesse sentido, a EDP fez um investimento significativo para reduzir impactos ambientais, tendo aplicado nos últimos anos cerca de 500 milhões de euros nos ativos térmicos em Portugal e Espanha para garantir o cumprimento dos mais exigentes requisitos ambientais“, apontou fonte oficial da empresa ao ECO.

As centrais termoelétricas mais eficientes permitem minimizar a pegada de carvão enquanto não é possível ou rentável recorrer a formas de produção limpas, refere a própria EDP na sua página dedicada às centrais de carvão, onde salienta também que a central de “Sines está no top 3 das centrais a carvão mais eficientes da Península Ibérica”.

Já nas declarações ao ECO, fonte oficial da empresa portuguesa enalteceu o papel destas centrais na corrente fase de transição energética, considerando-as fundamentais enquanto se vai aumentando a aposta em fontes renováveis. Num momento em que se torna incontornável a transição energética, estas centrais desempenham um papel fundamental na estabilidade e segurança de abastecimento do sistema energético. A EDP continuará, por isso, a fazer a melhor gestão destes ativos e, em simultâneo, centrará a sua estratégia de crescimento no investimento em energias renováveis.

Duas maiores emitem 70 milhões de toneladas

A termoelétrica de Sines, além de liderar o ranking das mais poluentes de Portugal, surge na 22.ª posição do ranking europeu de maiores emissores de gases poluentes para a atmosfera, tabela onde na posição imediatamente seguinte surge outra central detida pela EDP, agora em Espanha. Trata-se da termoelétrica Aboño 1 y 2, em Gijón, responsável por pouco mais de sete milhões de toneladas expulsas para a atmosfera no ano passado, segundo a CE.

Esta termoelétrica controlada pela EDP Espanha, além de ter lugar no top30 das mais poluentes da Europa, surge também destacada no ranking de emissões do país vizinho, agora na segunda posição, sendo apenas superada por outra termoelétrica, mas detida pela Endesa, que emitiu mais de 7,9 milhões de toneladas ao longo de 2018.

Apesar do nível de emissões das termoelétricas da EDP colocarem a empresa com dois lugares no top30 europeu, certo é que nem somando todas as emissões de todas as unidades da elétrica portuguesa em Portugal e Espanha se chega a metade das emissões das duas fábricas que lideram a poluição europeia.

Seja em Sines, Gijón, Lares ou Ribatejo, o total de emissões da EDP em 2018 atingiu as 15,97 milhões toneladas, valor que representa 41,6% das emissões da termoelétrica polaca de Bełchatów (38,34 milhões) ou 49,7% das registadas pela alemã de Neurath (32,15 milhões), as duas maiores poluentes da UE28. E ao contrário da grande maioria das mais de 14 mil unidades ou empresas que entram no ranking, tanto a unidade polaca como a alemã aumentaram o total de emissões de 2017 para 2018, em 1,86% e 7,55%, respetivamente.

As mais poluentes da Europa:

* em toneladas de emissões CO2 equivalentes. Fonte: Comissão Europeia.

 

Desta tabela, destaque final para a companhia irlandesa Ryanair que, à imagem do que acontece com a TAP em Portugal, surge como a primeira empresa fora das indústrias tradicionalmente mais poluentes da Europa.

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