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“Nós acreditamos que não é possível viver bem sem ideias”

José Manuel dos Santos, diretor da revista Electra (e diretor cultural da Fundação EDP) explica as razões e motivações desta "revista de pensamento".

O que é a Electra? A Electra é uma revista de pensamento, diz o diretor José Manuel dos Santos. “Temos a pretensão de pensar que os artigos desta revista têm uma longevidade maior do que a daqueles que se esgotam logo que se publicam. Por isso, dizemos que a Electra é uma revista que podia ser um livro e é um livro que é uma revista”.

Faz um ano que a Electra foi lançada. O que mudou?

Quando apresentámos a Electra, dissemos que, no edifício da nossa comunicação social, havia uma vasta casa vazia. Foi essa casa que quisemos ocupar. Assim, o que mudou foi deixar de haver uma falta tão notória e tão nociva: a falta de uma revista internacional de pensamento, crítica cultural, ensaio, pesquisa, reflexão, literatura, ciência, arte contemporânea, sociedade e política. Uma revista que não é nem académica, nem especializada, nem técnica, mas que também não é um revista-magazine, de informação sensacionalista vertiginosa ou de comentário imediatista hipertrofiado.

A Electra é uma revista de pensamento. E como eu e o António Soares dissemos no Editorial do primeiro número: “Pensar é trocar a opinião – e os seus atrevimentos exibicionistas, gratuitos e arrogantes – pela aventura arriscada, dolorida e dura do conhecimento, do saber e, quando se lá consegue chegar, da sabedoria”.

Há quem diga que a leitura de um texto pode mudar quem o lê, mudando o seu pensamento sobre alguma coisa importante para muitos ou até para todos. Esperamos que alguns textos da nossa revista tenham esse poder. Nós acreditamos que, como disse Antero de Quental a António Feliciano de Castilho, não é possível viver bem sem ideias.

Quem são os leitores da Electra?

Cada revista tem a obrigação de criar os seus próprios leitores. Os leitores da Electra – os atuais e os potenciais, os que já temos e os que queremos vir a ter – são todas as pessoas que desejam compreender melhor o tempo e o mundo em que vivem. Compreendê-los para além das imagens superficiais e simplistas, das opiniões irrelevantes e gratuitas, do abuso das ideias-feitas e da repetição dos lugares comuns que diariamente povoam e saturam o espaço público.

Dirigimo-nos a um público com interesses culturais, aberto e curioso, com desejo de conhecer e com vontade de pensar. Dirigimo-nos a um público exigente consigo e connosco. Dirigimo-nos a um público contemporâneo, mas com memória, e cosmopolita, mas com identidade. Dirigimo-nos também a um público inconformista e inconformado, que rejeita a satisfação fácil, a anestesia consentida e a alienação festiva que fundamentam o espetáculo da sociedade do dito.

Temos verificado, com alegria, que, entre os nossos leitores, há muitos jovens. Além de fitarem o futuro, onde estão mais do que muitos de nós, garantindo a longevidade do seu interesse pela Electra, trazem-nos a sua inquietação, a sua curiosidade e a sua expectativa. É também com isso que uma revista como esta se faz, se amplia, se renova.

Dou um exemplo: para apresentar a Electra 4, cujo assunto foi dedicado ao jornalismo e aos media, fizemos um debate na Escola Superior de Comunicação Social com estudantes. O que nos perguntaram e o que nos responderam foram sinais de uma leitura atenta e inteligente da revista, que muito nos agradou a inspirou.

Por outro lado, as reações que temos recebido daqueles que, no estrangeiro, leem a revista mostram que há aí um amplo campo de expansão a explorar. A Electra mereceu o interesse de uma conhecida distribuidora brasileira e está neste momento a ser vendida em bancas e livrarias do Brasil.

Em conclusão: temos já muitos leitores, portugueses e estrangeiros, ativamente fiéis da revista, mas pensamos que esse público pode e deve ser alargado. O trabalho de enraizamento, divulgação e projeção de uma revista como esta, que tem duas edições, uma em português e outra em inglês, e que visa um público nacional e internacional, nunca está feito. Há sempre mais a melhor a fazer. Cada nova edição é um convite que se reforça a que mais leitores se juntem aos leitores que já existem.

Juventude é o tema da edição que está nas bancas. Porquê?

A Electra não é uma revista de um só tema. Tem, em cada número, um dossiê – o assunto – sobre um tema relevante. Diríamos: estratégico. Mas, em número de páginas e em média, o assunto ocupa, com os seus vários artigos, menos de metade da revista. Há muitos outros temas e diversas secções: entrevistas, portfólios, diários, perfis, recensões críticas, debates com diferentes pontos de vista, temas urbanos, artigos sobre cidades, dicionário de palavras e ideias.

A Electra é uma revista plural, que conta com colaboradores de muitos países, de muitas formações, de muitas experiências e de muitos saberes, mas com capacidade de dialogarem com o exterior desses saberes, da sua obra ou da sua especialidade. Esta revista quer olhar o tempo que passa e o mundo que acontece com distância crítica e proximidade analítica, pondo-os em perspetiva. Mas quer fazê-lo com uma linguagem que, sem concessões ao infantilismo ou à banalidade, se dirige a um público intelectualmente vivo e culturalmente motivado e ativo.

No dossiê de cada edição, trata-se um assunto que dá um traço ao rosto com que a nossa época se desenha. No primeiro número esse tema foi Nesta Grande Época, servindo de introdução ao nosso propósito de fazer um levantamento dos tópicos e motivos que configuram a nossa contemporaneidade.

O dossiê do próximo número 6 desta revista trimestral é sobre o Dinheiro e não vale a pena dizer como o dinheiro é hoje o eixo em volta do qual o nosso mundo gira ou para. Com estes temas, pensados por intelectuais, escritores e artistas conceituados e diversos, vamos fazendo uma mapa que nos permita uma visão do todo.

José Manuel dos Santos

O segundo número olhou a Estupidez, que é de todas as épocas, mas cada época tem a sua, segundo a afirmação de Flaubert, de que fizemos um mote. O terceiro número tratou do Turismo, esse fenómeno dos tempos modernos que nos leva ao mundo e nos traz o mundo, com consequências positivas e negativas que foram pensadas com originalidade. O quarto foi dedicado ao Jornalismo, os Média e outros poderes, que são ao mesmo tempo a causa e o efeito do que vemos, ouvimos e lemos. O assunto deste número 5 é dedicado à Juventude, porque: “À altíssima quota que a ideia de juventude detém no mercado de valores estético-sociais não corresponde a situação real dos jovens que, por um lado, são nalguns aspectos uma geração dilapidada e, por outro, só eles estão aptos a acompanhar o tempo que acelerou”.

O dossiê do próximo número 6 desta revista trimestral é sobre o Dinheiro e não vale a pena dizer como o dinheiro é hoje o eixo em volta do qual o nosso mundo gira ou para. Com estes temas, pensados por intelectuais, escritores e artistas conceituados e diversos, vamos fazendo uma mapa que nos permita uma visão do todo.

E uma coisa é certa: ter o António Guerreiro como editor da revista é ter a certeza de que tudo o que de importante e de novo se pensa hoje não fica fora do nosso radar.

Sendo próxima da atualidade, a Electra é uma revista de longa duração. Que artigos desta edição acredita que serão “jovens para sempre” ou que viverão mais tempo?

Temos a pretensão de pensar que os artigos desta revista têm uma longevidade maior do que a daqueles que se esgotam logo que se publicam. Por isso, dizemos que a Electra é uma revista que podia ser um livro e é um livro que é uma revista.

Mas a eternidade que o “para sempre” da pergunta supõe pertence a Homero, a Dante, a Shakespeare, a Holderlin, a Pessoa. Não sendo nossa, podemos e queremos ao menos escrever sobre os que a têm. E assim a eternidade deles passa a ser nossa e dos leitores por um tempo…

Têm procurado fazer capas distintivas. Qual é a história desta?

A imagem que escolhemos para a capa de cada edição da Electra corresponde à atmosfera estética, ao clima cultural, à proposta temática dessa edição.

Essas imagens, da autoria de pintores, escultores, fotógrafos, arquitetos, designers, são um morse visual que nos transmite os conteúdos daquele número da revista e o seu movimento para os leitores. Cada capa quer ser um íman.

Para este número 5, escolhemos uma fotografia do conhecido fotógrafo e editor Claude Norri. É uma imagem de 1976 e nela está a juventude, a efémera e a eterna, de que o nosso Assunto fala.

Mas, ao longo de toda a revista, há uma escolha de imagens que nunca é apenas ilustrativa, documental ou ocasional. As imagens na Electra constituem um discurso visual que fortalece, esclarece e acrescenta sentidos aos outros discursos de que a revista se faz. Por isso, dizemos que esta é uma revista que se lê e que se vê! É também uma revista que se guarda e que se coleciona.

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