FMI: “Pequenos choques” podem forçar novo resgate

O FMI acredita que Portugal continua capaz de reembolsar antecipadamente a ajuda, mas sublinha necessidade de ter almofadas financeiras “adequadas” para resistir a “múltiplas vulnerabilidades”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que Portugal poderá ter de recorrer a um novo resgate porque até “pequenos choques” podem comprometer o acesso do país aos mercados.

Baixo crescimento, despesa pública por reformar e bancos fracos impossibilita a convergência muito necessária (e ainda possível) e poderá levar a uma perda de acesso aos mercados mesmo perante pequenos choques“, alerta o FMI no documento que resultou da consulta a Portugal ao abrigo do Artigo IV referente a 2016. “Sem uma política decisiva, Portugal não terá capacidade de se ajustar aos constrangimentos de uma união monetária ou explorar os benefícios de uma total integração”, acrescenta ainda o Fundo.

A instituição liderada por Christine Lagarde considera que “os riscos para a capacidade de Portugal reembolsar o Fundo são geríveis”, mas sublinha que perante a intenção de reembolso antecipado “é importante manter almofadas financeiras adequadas” para fazer face a “múltiplas vulnerabilidades”.

 

"Baixo crescimento, despesa pública por reformar e bancos fracos impossibilita a convergência muito necessária (e ainda possível) e poderá levar a uma perda de acesso aos mercados mesmo perante pequenos choques.”

FMI

Consulta ao abrigo do Artigo IV

“Os diretores aplaudiram a avaliação do staff de que os riscos para a capacidade de Portugal reembolsar o FMI são geríveis. Com a intenção das autoridades em reembolsar o Fundo antecipadamente, foi sublinhada a importância de manter almofadas financeiras adequadas”, referiu o FMI no documento que resultou da consulta a Portugal ao abrigo do Artigo IV referente a 2016, e onde identifica três fragilidades principais que podem comprometer o “atual conforto no acesso ao mercado de financiamento”: o sistema bancário (que se debate com elevados níveis de crédito mal parado), as finanças do setor público e as perspetivas económicas.

“Um problema proveniente de uma destas áreas terá impacto nas outras, com potencial para ter um efeito espiral”, alertam os responsáveis do Fundo, para quem “quaisquer desenvolvimentos que agravem as dinâmicas da dívida pública podem apertar o gatilho de uma mudança repentina no sentimento do mercado”.

“Poderão ser desvios orçamentais em resultado da reversão das políticas ou um choque macroeconómico, ou então a materialização das elevadas responsabilidades contingentes, incluindo do sistema bancário. E um agravamento sério dos custos de financiamento irá piorar ainda mais as dinâmicas da dívida, podendo forçar um ajustamento orçamental enorme e agravar o impacto no crescimento económico”, resume o FMI.

"Um agravamento sério dos custos de financiamento irá piorar ainda mais as dinâmicas da dívida, podendo forçar um ajustamento orçamental enorme e agravar o impacto no crescimento económico.”

FMI

Consulta ao abrigo do Artigo IV

Para a instituição, é o Banco Central Europeu (BCE), com o seu programa de compra de ativos no setor público, quem tem ajudado a amparar as taxas de juro de Portugal nos mercados de dívida. E o que tem justificado o atual diferencial face a Espanha e Itália é o risco inerente ao próprio país, assume o FMI.

Evolução do diferencial dos juros da dívida portuguesa a 10 anos face à dívida alemã e espanhola

Fonte: Bloomberg (valores em pontos)
Fonte: Bloomberg (valores em pontos)

 

Por isso, “a política macroeconómica precisa de ser reforçada para assegurar um acesso duradouro ao financiamento assim que a política monetária do banco central for normalizada”, salientam as autoridades internacionais, que têm visto com bons olhos o sucesso de Portugal nas emissões de dívida de longo prazo, com baixas taxas de juro, e o facto de Portugal encontrar-se totalmente financiado para o resto do ano.

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