Criptomoeda do Facebook pode “limitar capacidade” do BCE na política monetária
Ao limitar a capacidade do BCE, a moeda digital do Facebook "converter-se-ia num risco potencial" para os Estados-membros da Zona Euro, advertiu Yves Mersch, membro da Comissão Executiva do BCE.
A criptomoeda do Facebook, a Libra, poderá “limitar a capacidade” do Banco Central Europeu (BCE) para estabelecer a sua política monetária, advertiu esta segunda-feira o membro da Comissão Executiva do supervisor do sistema financeiro europeu, Yves Mersch.
Numa conferência em Frankfurt, na Alemanha, Yves Mersch avisou que a criptomoeda do Facebook, ao limitar a capacidade do BCE, “converter-se-ia num risco potencial” para os Estados-membros da Zona Euro.
O grupo tecnológico Facebook e 27 outras entidades que formam a Associação Libra (entre elas Visa, Mastercard, Uber, Lyft, PayPal, eBay, Vodafone e Spotify) anunciaram a criação desta criptomoeda em 2020, podendo ser usada no WhatsApp e no Messenger.
“Dependendo do nível de aceitação da Libra e do papel do euro no cabaz de moedas de reserva, poderia reduzir o controlo do BCE sobre o euro”, avisou Yves Mersch, citado pela agência de notícias financeiras Bloomberg.
E prosseguiu: “Espero sinceramente que a população da Europa não seja tentada a deixar para trás a segurança e solidez das soluções de pagamentos estabelecidas”, lembrando que se trata de uma “cativante, mas traiçoeira promessa”.
Como explicou o Facebook aquando da apresentação da libra, no início de junho, a diferença para outras criptomoedas, como a bitcoin, teria a ver com o facto de a Libra estar apoiada num cabaz de ativos (subjacentes), nomeadamente noutras moedas e ter, além disso, uma reserva constituída por depósitos bancários e dívida de vários países, que estabeleceriam o seu valor.
Mersch alertou ainda para o risco que existiria no caso de ocorrer uma “redução da procura” da Libra, pois, advertiu, poderia afetar “a liquidez do sistema financeiro” da zona euro e do papel internacional da moeda comunitária”.
O membro da Comissão Executiva do BCE considerou também que “as moedas privadas têm poucas ou nenhumas perspetivas de tornarem-se alternativas viáveis às moedas emitidas pelos bancos centrais”.
“Espero sinceramente que a população da Europa não se sinta tentada a abandonar a segurança e a solidez das soluções e canais de pagamento estabelecidos a favor das promessas sedutoras, mas traiçoeiras, dos cantos de sereia do Facebook”, lembrou o responsável.
Mersch afirmou ainda que “o dinheiro somente pode cumprir a sua função se estiver apoiado por um Estado”, ou seja, “pelo setor público”, lembrando também que o ecossistema da Libra “é não só complexo, como é parecida a um cartel”, uma vez que, esclareceu, “os conglomerados de entidades empresariais só prestam contas aos seus acionistas e membros”, o que os diferencia dos bancos centrais.
Em 10 de julho, o presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Jerome Powell, disse no Congresso que o projeto de criptomoeda do Facebook, a Libra, suscitava “grandes preocupações” relativas a proteção de dados e estabilidade financeira.
Poucos dias depois, o grupo tecnológico Facebook assegurou que não lançaria a sua criptomoeda Libra até serem esclarecidas todas as “preocupações regulatórias e ter recebido as aprovações necessárias”, o que seria “um longo” caminho.
Os ministros das Finanças do G7, em 17 de julho deste ano, chegaram a um consenso sobre “a necessidade de agir rapidamente” quanto ao projeto de criação desta criptomoeda.
Aquando da apresentação pelo Facebook da Libra, o grupo tecnológico disse que a criptomoeda iria ser gerida pelo consórcio de empresas agrupadas sob a direção da Associação Libra, com sede em Genebra, Suíça.
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