Carlos Moedas: “Estive em total desacordo com as medidas da geringonça para a economia”
Em fim de funções como comissário europeu, Carlos Moedas lamenta que a coligação de esquerda que apoiou anterior Governo tenha estagnado as reformas de que Portugal precisa.
Em fim de funções como comissário europeu, Carlos Moedas diz-se agora “mais livre de compromissos” para criticar o que foi a governação do país com a geringonça. “Vou dizer algo que nunca abordei publicamente e estou a dizê-lo aqui pela primeira vez: estive sempre em total desacordo com as medidas tomadas pelo Governo da geringonça em relação à economia“, referiu o antigo secretário de Estado Adjunto do Executivo de Passos Coelho em entrevista ao Observador (acesso condicionado).
Questionado sobre o facto de se ter “dado muito bem com os atores principais da geringonça” enquanto foi comissário europeu para a Inovação, Carlos Moedas referiu que isso aconteceu porque, “nos temas europeus, o PS e o PSD não têm, felizmente, grandes diferenças” e que conseguiu entender-se bem com o Governo nesses temas. Mas não no que toca a temas económicos, em relação aos quais mostrou total desacordo.
“Testemunhei os danos da medida das 35 horas. Vi aquilo que se estava a fazer na Saúde e que felizmente o Presidente da República travou, que era: «A saúde só pode ser pública, o SNS só pode ser público». Mas porquê? Do mesmo modo que temos de focalizar a educação no aluno, há que focalizar a saúde no doente, e ele não quer saber se um hospital é privado ou público, quer ser bem tratado. Essa ideologia e esse estigma que são o produto da geringonça não fizeram senão puxar mais o PS para um forte conservadorismo de esquerda de que resultou que tenham sido quatro anos de travagem brutal”, exemplificou.
"Agora que estou no fim da minha carreira de comissário e mais livre de compromissos, vou dizer algo que nunca abordei publicamente, estou a dizê-lo aqui pela primeira vez: estive sempre em total desacordo com as medidas tomadas pelo governo da geringonça em relação à economia.”
Carlos Moedas também criticou a geringonça pelo facto de ter sido responsável pela estagnação “das reformas que já estavam na calha e de que o país evidentemente tanto precisava”.
Na entrevista, Carlos Moedas considera que “parece que as pessoas estão bem” com o caminho seguido pelo Governo de António Costa porque se “acomodaram” após os anos de crise económica com a presença da troika e também com a “habilidade partidária da esquerda” que “é tão forte que de certa forma anestesia a parte do país mais desligada da política”.
“Apesar de termos ganho de novo as eleições, as pessoas depois acomodaram-se: ‘Agora o défice está mais ou menos controlado, façam o que quiserem’. Mas o Governo nada fez… Por isso é que sempre detestei a ideia da geringonça, que representou exatamente o nada fazer na área estrutural do país. Sempre a puxaram para o imobilismo”, assinalou.
Sobre o seu futuro no partido, Carlos Moedas toma as notícias que o apontavam para a liderança do PSD como “elogios” e “um reconhecimento do que foi o meu trabalho nestes cinco anos, antecedidos pelo trabalho sério no governo”, mas afasta qualquer candidatura. “O meu comprometimento agora não é esse. Tive um convite para a administração da Gulbenkian e considerei que era a boa altura da minha vida para seguir esse caminho”, disse.
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