Mercados “vulneráveis” a correções deixam seguros e fundos em risco
Natureza do negócio das seguradoras e dos fundos de pensões, que têm de assegurar retornos estáveis por muito tempo aos clientes, coloca estes dois setores na linha da frente do risco.
Ações e obrigações estão sobrevalorizadas nos mercados financeiros na Zona Euro, deixando os investidores mais vulneráveis ao risco de correções, alerta o Banco de Portugal (BdP) no Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro. A tendência está relacionada com o ambiente de baixas de juro do Banco Central Europeu (BCE) e coloca, especialmente, em risco seguradoras e fundos de pensões.
“No decorrer de 2019, observou-se uma valorização significativa do mercado acionista e obrigacionista, sem uma correspondência dos fundamentos económicos, em particular crescimento económico, confiança ou resultados empresariais. Esta tendência de valorização histórica deixa os mercados financeiros vulneráveis“, refere o BdP.
As taxas de juro em mínimos históricos fazem cair o preço do dinheiro e leva a dificuldades acrescidas dos intermediários financeiros em conseguirem rendibilidades em linha com a remuneração esperado por investidores e acionistas. Os institucionais são empurrados para maior risco e os prémios reduzem-se.
O BdP considera que a situação de “mispricing“, “acumulação de riscos” e “vulnerabilidades para a estabilidade financeira”, que se poderão acentuar face às perspetivas de persistência do cenário por um longo período de tempo. “Esses desafios serão particularmente relevantes para o setor segurador e dos fundos de pensões que, pela natureza do seu modelo de negócio, têm de assegurar um perfil de rendibilidade estável por um período mais longo”, aponta o regulador.
“Nesse sentido, e de modo a garantir a correspondência entre a rendibilidade dos seus ativos e pagamentos subjacentes às suas obrigações, estes dois setores, a nível da área do euro, têm aumentado a sua exposição a ativos de menor qualidade creditícia e com maior remuneração esperada, alguns dos quais localizados fora da área do euro, tornando assim as suas carteiras de investimento especialmente sensíveis aos riscos de crédito e cambial e, em alguns casos, aos preços do imobiliário“, sublinha.
O comportamento reflete a necessidade de obtenção de rendibilidade face à diminuição sucessiva das taxas de desconto consideradas para a valorização dos passivos destas instituições financeiras. Esta pressão sobre os descontos obriga seguradoras, em especial do ramo vida, a maiores responsabilidades financeiras. Já os fundos de pensões com planos de benefício definido sofrem uma contração dos níveis de financiamento.
De modo a garantir a correspondência entre a rendibilidade dos seus ativos e pagamentos subjacentes às suas obrigações, estes dois setores, a nível da área do euro, têm aumentado a sua exposição a ativos de menor qualidade creditícia e com maior remuneração esperada, alguns dos quais localizados fora da área do euro, tornando assim as suas carteiras de investimento especialmente sensíveis aos riscos de crédito e cambial e, em alguns casos, aos preços do imobiliário.
Já no que diz respeito a fundos de investimento, tem-se observado a nível europeu uma redução dos ativos de elevada liquidez nas carteiras devido não só à mesma questão dos baixos juros como também aos custos associados aos depósitos. Especialmente nos fundos especializados no segmento de fixed-income, as gestoras têm reforçado exposição a geografias com rendibilidades ainda positivas.
“A redução nos níveis de liquidez deste setor e a similaridade nas estratégias de investimento introduzem uma potencial pró-ciclicidade no sistema financeiro da área do euro”, explica. Assim, as carteiras de investimento ficam “particularmente vulneráveis” a correções abruptas nos preços de mercado e resgates já que o compromisso de liquidez e resgate imediato pelos participantes poderá exacerbar desvalorizações numa situação de stress nos mercados financeiros internacionais.
O BdP alerta ainda para a criação de um “canal de propagação de choques entre diferentes segmentos de mercado e economias mundiais”. No entanto, a situação dos fundos de investimento é menos preocupante para o mercado português em comparação com a Zona Euro dado que a relevância sistémica dos fundos de investimento era 100% do PIB em junho nos países da moeda única, mas apenas 9% do PIB em Portugal.
Fundos de investimento sem expressão na composição do sistema financeiro português
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