Editorial

Rio à beira da vitória, Montenegro depende dos abstencionistas

Há uma segunda volta no PSD, já no próximo sábado, por 0,56% dos votos. Rui só tem de fazer mais do mesmo, Montenegro vai ter de ganhar votos junto dos nove mil abstencionistas.

Os resultados desta primeira volta nas eleições do PSD dão para tudo. É verdade que Rui Rio ficou à porta da maioria absoluta, e não se cansou de repetir que os 49,44% registados foram uma “vitória expressiva”, ou a 0,56% da vitória absoluta. Mas também é verdade que a maioria, escassa, de militantes do PSD votaram na mudança, no despejo do atual líder. E cerca de nove mil dos 40 mil militantes ativos ficaram em casa, o que pode baralhar as contas para a segunda volta.

Estas eleições tinham, mais do que em anteriores, dois projetos (um de Rio e outro de Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz) opostos. Um que quer ser um substituto do PS, à espera da derrota de António Costa, e outro alternativa ao PS, à espera de uma vitória sobre António Costa. E o que se viu foram dois partidos, dois PSD, um para cada lado.

É já possível antecipar que o resultado da segunda volta, já no próximo sábado, vai ser profundamente divisor do partido, e esta divisão será tanto maior se for Rui Rio o vencedor, apesar das promessas do líder-candidato-a-líder de que contará com todos. Está-lhe no sangue. Luís Montenegro tentou, logo no discurso de sobrevivência (foi isso que sucedeu nesta primeira volta) uma narrativa de consenso e união, e não tem um lastro de dois anos como os de Rio que, por culpas próprias e alheias, foi de rutura interna (apesar dos esforços de ‘meter’ a gente do derrotado Santana Lopes há dois anos nos órgãos nacionais).

Rui está mais próximo da vitória, e Luís Montenegro vai ter de pensar bem no que quer fazer na próxima semana. Porque a responsabilidade estava do seu lado, e falhou. Só não falhou totalmente por 0,56% dos votos… E Rio está mais próximo da vitória porque os seus votos são mesmo seus, e dificilmente mudarão de quadradinho no próximo sábado. Os de Montenegro, como se sabe, não chegam, e é preciso convencer todos os votantes em Miguel Pinto Luz, mas todos mesmo, coisa difícil ou virtualmente impossível. Sobra, a Montenegro, a capacidade de agarrar os, ou alguns, dos que não votaram neste sábado, de um universo de nove mil militantes. Conseguirá? Finalmente, há um distrito onde Montenegro perdeu, e perdeu por muitos, foi o do Porto, terra de Rio, e se não conseguir reequilibrar as contas aí, dificilmente poderá ganhar no país.

É que os militantes já conhecem os projetos, por um lado, e as virtudes e defeitos de cada um, por outro. Daí que se perceba bem o desafio de Luís Montenegro para um debate televisivo com Rui Rio, poderia irritá-lo o suficiente para que os militantes que não votaram, os abstencionistas, apareçam. E percebe-se melhor ainda que Rio se esconda do debate, fuja a ele a sete pés. Rio tem de fazer mais do mesmo, é isso que uma quase maioria do PSD quer, Montenegro tem de fazer muito melhor do que já fez, e vai ter uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão.

O resultado destas eleições no PSD é relevante para o país, para o que vão ser os próximos dois anos, até às autárquicas, com as presidenciais pelo meio. Sobretudo com um Governo em gestão, a olhar para o dia seguinte. Este PSD de Rui Rio foi muleta de Costa em dois acordos que não deram em nada, e foi sobretudo um partido que nunca quis ser alternativo, mas substituto. É um caminho, que até agora não deu resultados, também é uma visão do país. O PSD de Luís Montenegro é alternativo, quer federar as direitas, e assumir as diferenças em relação ao PS, mas Montenegro teria de ser melhor líder do que está a ser como candidato a líder para que essas diferenças tivessem tradução eleitoral.

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