Riscos empresariais: Construir resiliência a longo prazo
O CEO da Zurich Portugal verifica que questões financeiras de curto prazo levam os empresários a desvalorizar riscos que serão de crucial importância em poucos anos.
Em Portugal, quando se fala em risco para o desenvolvimento dos negócios, as questões financeiras ainda dominam as preocupações das empresas. Mas o foco no imediato adia a resposta a outros riscos, como é exemplo a crise climática. A resiliência a longo termo fica, assim, comprometida.
A resiliência empresarial está estreitamente ligada à forma como percecionamos, analisamos e respondemos aos riscos inerentes a cada atividade. Perante um contexto económico global de fraco crescimento, é expectável que a perceção de risco acabe por ser dominada por preocupações financeiras de curto e médio prazo.
Portugal, à boleia de uma Zona Euro extremamente vulnerável a crises políticas, sociais e económicas, não é exceção. Neste sentido, é natural que o relatório “Riscos Regionais dos Negócios 2019”, do Fórum Económico Mundial (FEM), em parceria com a Zurich e a Marsh, aponte a bolha de ativos como a maior ameaça percecionada pelos líderes empresariais portugueses. Seguem-se as falhas de mecanismos financeiros ou institucionais e as preocupações com falhas de governance nacional.
Estas perceções refletem os desafios da economia portuguesa numa Europa com elevada dívida pública, juros cada vez mais baixos – negativos para muitos países da Zona Euro – e uma inflação a níveis mínimos. O contexto tem precipitado recordes no preço de ativos, o que contribui para aumentar os riscos financeiros. Sobretudo perante uma guerra comercial entre Estados Unidos e China que pode fazer da economia europeia um dano colateral, e de uma guerra bélica entre Estados Unidos e Irão que terá impacto na economia global. Fazendo uma leitura atenta à interligação de todos estes riscos e ao enquadramento financeiro, nomeadamente ao ciclo de baixas taxas de juro, é possível associar este momento à necessidade e oportunidade de apostar em investimentos para estimular a economia, protegendo-a de um eventual período adverso.
Da economia para a tecnologia, importa destacar que, para os empresários portugueses, os ciberataques são o quarto maior risco para o desenvolvimento dos negócios. No entanto, esta preocupação nacional ainda está aquém de outros mercados tecnologicamente mais maduros – os ciberataques são a maior ameaça percecionada a nível europeu e a segunda maior a nível global. De nada serve ignorarmos os riscos, na esperança que desapareçam. É preciso conhecê-los em detalhe, para uma preparação, mitigação e resolução eficazes.
Podemos ignorar a crise climática?
No relatório “Riscos Globais dos Negócios 2020”, também do Fórum Económico Mundial, pela primeira vez, na perspetiva a 10 anos, os cinco riscos mais prováveis são todos ambientais. Eventos climáticos extremos, fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas, desastres e danos ambientais provocados pelo homem, perda significativa da biodiversidade com colapso de ecossistemas e grandes catástrofes naturais, preocupam mais de 750 especialistas e decisores mundiais.
Em contraste, no relatório “Riscos Regionais dos Negócios 2019”, o impacto das alterações climáticas permanece ausente do topo de preocupações empresariais portuguesas. Os riscos ambientais são apontados apenas em regiões que já sofrem diretamente e em larga escala os efeitos das alterações climáticas, como a Ásia-Pacífico. No entanto, diferentes preocupações – como a escassez de água no Médio Oriente ou o choque nos preços da energia, a quarta maior ameaça percecionada na Europa – começam a surgir no topo de outras regiões e não podem ser dissociáveis da crise climática.
A desvalorização do impacto das alterações climáticas é preocupante, essencialmente, porque adia uma resposta de mitigação em tempo útil. O setor segurador, enquanto detentor de um conhecimento global na gestão de riscos, é hoje um aliado de peso do ecossistema empresarial mundial na procura de estratégias de mitigação e de eliminação de diferentes riscos. É crucial que estas sinergias comecem também a ganhar relevância no panorama nacional, como um importante caminho e contributo para uma verdadeira resiliência a longo prazo no desenvolvimento dos negócios e da proteção das pessoas e do património.
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