Covid-19: Estimativa da AIR aponta 1 200 mortos em Portugal no final de abril

  • ECO Seguros
  • 20 Abril 2020

A AIR Worldwide, filial do grupo Verisk, afirma que os números oficiais sobre covid-19 positivos representam 40% da realidade. Para esta empresa, Portugal não é exceção.

A AIR Worldwide é especialista em modelação de dados para avaliação de risco em catástrofes e também para epidemias e pandemias, contando mais de 400 clientes, entre seguradoras, resseguradoras e corretoras e organismos internacionais. Há alguns dias, a AIR apresentou a sua ferramenta de monitorização da doença que abala o mundo.

A plataforma da subsidiária do grupo Verisk Analytics é ambiciosa, dada a pretensa utilidade ‘preditiva’ que oferece a parceiros e clientes. A ferramenta permite obter projeções (de casos e letalidade da covid-19) num horizonte de uma a quatro semanas, por país e para três cenários de gravidade diferenciados por níveis de incidência na evolução local e global da pandemia.

Segundo Dough Fullam, responsável de modelação nos ramos vida e saúde na AIR, a solução apresentada é uma “ferramenta complementar para dar às comunidades, empresas, governos e seguradoras uma melhor compreensão de como poderá ser o futuro próximo da pandemia covid-19″.

A ‘COVID-19 Projection Tool’ é uma ferramenta de modelação especialmente concebida para a pandemia do novo coronavírus. Os resultados atualizados em base diária, explica a AIR, têm em conta diversas variações consoante a disponibilidade de informação local, a sua credibilidade e o elemento de underreporting (sub-reporte, em tradução literal). Os números oferecidos pela AIR não são previsões, avisa a consultora, são apenas estimativas e, em parte, dependem de avaliações subjetivas, frisa.

Ora, sustenta a AIR, é precisamente o pressuposto dos erros de reporte e o sub-reporte de casos, que a entidade considera serem fatores críticos – devido sobretudo ao número de pessoas assintomáticas que por diversos motivos não são testadas e, também porque, em certos países os sistemas de reporte são ineficazes – que explicam a discrepância entre os números oficiais e as estimativas que a sua ferramenta de projeção apresenta.

Quanto aos fatores críticos de disseminação da doença, alguns praticamente incontroláveis do ponto de vista do esforço de contenção dos contágios, um trabalho de investigação publicado em março, na revista Science, baseado em modelos matemáticos e com participação de diversos académicos, sustenta igualmente que os focos de contágio desencadeados por indivíduos não documentados pelas entidades oficiais [como tendo contraído a infeção] por serem pouco ou mesmo assintomáticos – os mesmos que a AIR inclui na categoria underreportedtêm influência determinante na propagação espaciotemporal da covid-19, em particular nos focos e ciclos de contágio mais rápido.

No caso de Portugal, por exemplo, os dados oficiais atualizados a 17 de abril indicavam que, de um total aproximado de 159 mil casos suspeitos, o país contabilizou cerca de 19 mil covid-19 positivos e perto de 660 falecidos com a doença, em termos acumulados. Na apresentação do boletim epidemiológico diário, Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, aconselhou cautela na interpretação dos números, sublinhando que ao invés dos dados diários deve-se privilegiar a ‘série temporal’: O que se sabe até à data “é que temos tido um achatamento da curva – e isso é notório -, que temos tido um planalto com tendência descendente, mas temos que aguardar mais dias para perceber o significado dos números de hoje”, disse.

Na aceção da AIR, assumindo que 60% a 80% das pessoas infetadas não chegam a ser testadas – por não exibirem sintomas ou terem sintomas leves -, a empresa conclui que os números oficiais reportados refletem, na melhor das hipóteses e para a generalidade dos países, 20% a 40% do total (real) de infetados. Por outro lado, a plataforma considera apenas casos suspeitos e mortalidade (excluindo o apuramento estatístico de casos confirmados, como se faz em Portugal). Nesta perspetiva, para 17 de abril e considerando o cenário de gravidade mais baixa de evolução epidemiológica (curva mais próxima de planalto achatado), a AIR estima para Portugal, 160,3 mil casos (suspeitos no conceito local) e um total de 1072 falecidos, contra os 657 falecidos da estatística oficial.

Se até agora, a projeção para o número de suspeitos está próxima da estatística oficial, já o desvio no logaritmo da mortalidade é claramente discrepante… Olhando para a frente, de acordo com a ferramenta da AIR, no final de abril, Portugal terá um número estimado de suspeitos superior a 180 mil, com total de falecidos por covid-19 a rondar 1,2 mil, um número que, face aos 657 mortos contabilizados oficialmente desde o início da pandemia, configura uma progressão assinalável.

 

 

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