Risco macroeconómico pintado a vermelho no Painel de seguros

  • António Ferreira
  • 4 Maio 2020

O aumento de volatilidade nos mercados financeiros e a redução abrupta da atividade económica mundial são principais fatores de agravamento dos riscos macroeconómico, de crédito e de mercado.

Com o emergir da pandemia, no início de 2020, “o panorama de riscos conheceu uma alteração profunda, tendo-se materializado, à data, um aumento expressivo da volatilidade dos mercados financeiros e a redução abrupta da atividade económica mundial”, realça a nota da Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF).

Fonte: “Painel de Riscos do Setor Segurador -2019”, ASF – abril 2020

 

Nesta edição do “Painel de Risco do Setor Segurador”, uma publicação trimestral da autoridade de supervisão (ASF) , o relatório considera dados reportados pelas empresas do setor segurador com referência a 31 de dezembro de 2019.

Abordando os riscos específicos da atividade seguradora, “os dados disponíveis não incorporam ainda os efeitos doCOVID-19, mas incorpora também informação de variáveis financeiras relativa a 24 de abril e reflete a evolução dos mercados de capitais após a declaração de pandemia (Covid-19)”, explica a ASF.

Avaliando a situação a final de dezembro 2019 e a tendência, o painel fixa risco “alto” de tendência “ascendente” no grupo de indicadores Macroeconómicos (PIB; desemprego; défice orçamental e dívida pública e de particulares) na maioria com agravamentos “significativos decorrentes dos efeitos da pandemia”, detalha o relatório trimestral. Com os níveis de risco representados por cores, os macroeconómicos são os únicos assinalados a vermelho.

No Crédito, o nível de risco considerado “médio-baixo”, embora ascendente, é condicionado pela evolução do prémio de risco soberano nacional. “Embora não se tenha procedido a uma revisão da classificação, o risco de crédito permanece também sobre forte pressão, em particular face às perspetivas de revisão em baixa da qualidade creditícia de emitentes de títulos mobiliários”, observa o organismo liderado por Margarida Corrêa de Aguiar.

Mercado e Liquidez são componentes da envolvente da indústria que o supervisor classifica, respetivamente, como sendo de risco “médio-alto” e “baixo”, por efeito da volatilidade (mercados obrigacionista e acionista) e, no caso da liquidez – a única classe a merecer cor verde – refletindo os rácios de capital e de eficácia na indústria.

Prosseguindo na avaliação detalhada por classe de risco, o relatório indica nível de risco “médio-alto” com tendência constante específicos nos seguros Vida e Não Vida (sobretudo ao nível de produção e sinistralidade), mas também risco “médio-alto” e constante nas Interligações (produtos ligados), nomeadamente pela manutenção dos níveis de exposição a títulos de dívida soberana portuguesa, assim como a ativos emitidos pelo setor bancário.

Recordando que o ramo Vida evidenciou compressão de 14% no final de 2019, a ASF admite que, “confrontada com a atual conjuntura macroeconómica, a produção das empresas de seguros pode ser negativamente afetada pelo abrandamento do crescimento económico e pelos desenvolvimentos do mercado de trabalho”.

Abordando indicadores “rendibilidade e solvabilidade” das empresas do setor, o documento recorda: no que respeita à posição no final de 2019, “a rendibilidade do setor evoluiu favoravelmente, tantos no ramo Vida como nos segmentos Não Vida”. O presente Painel aponta risco “médio-baixo”, sustentando a aferição com “ligeira melhoria dos resultados técnicos provisórios na maioria das empresas de seguros que operam nos ramos Vida e Não Vida, ainda que a um ritmo inferior ao registado com o crescimento dos prémios brutos emitidos”.

Em termos de solvabilidade, “notou-se uma melhoria do rácio de cobertura do requisito de capital de solvência, justificada pelo aumento dos fundos próprios elegíveis na maioria dos operadores, com o rácio agregado a posicionar-se em 181% (140,4% excluindo a medida transitória das provisões técnicas).”

Numa ótica prospetiva, a nota do supervisor salienta, contudo, que “os impactos do COVID-19 nos mercados financeiros e na economia terão inevitavelmente reflexo negativo nos indicadores do setor.”

No entanto, apesar de os indicadores de negócio segurador não refletirem ainda os efeitos da atual crise, “o presente Painel constitui um referencial importante para a mensuração dos impactos que se tornarão visíveis nas edições subsequentes”, adianta a ASF. O relatório detalhado será revisto antes do final de 2020.

(Atualizado às 22h05)

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