Procura de crédito pelas empresas disparou na pandemia. Bancos apertam critérios de concessão
No segundo trimestre do ano, os bancos tornaram-se mais restritivos na concessão de crédito, mas enquanto a procura de financiamento pelas famílias retraiu-se a das empresas disparou.
Em plena pandemia, a banca apertou os critérios para a disponibilização de crédito às empresas e famílias. Mas em termos da procura assistiu-se a uma evolução distinta: enquanto as famílias travaram fortemente a procura por financiamento, as empresas revelaram um forte apetite por liquidez para fazerem face à sua atividade, revela o inquérito trimestral do Banco de Portugal (BdP) sobre o mercado de crédito relativo ao segundo trimestre.
“No segundo trimestre de 2020, os bancos portugueses que participam no inquérito indicaram que os critérios de concessão de crédito a empresas e particulares se tornaram mais restritivos face ao trimestre anterior”, começa por referir a entidade liderada por Carlos Costa, que adianta ainda que este aperto de critérios foi “especialmente nos empréstimos de longo prazo, no caso das empresas, e no crédito ao consumo, nos particulares“.
O regulador enquadra esta maior restritividade com a “tolerância face aos riscos e a perceção dos riscos associada à situação e perspetivas económicas gerais, à qualidade creditícia do mutuário e, ainda, os riscos associados às garantias exigidas, no caso do crédito a empresas”. Face a este quadro, adianta que “houve um aumento da restritividade nas garantias exigidas a empresas e no spread aplicado a empréstimos a PME de maior risco, e um ligeiro aumento da restritividade no rácio entre o valor do empréstimo e o valor da garantia, no crédito à habitação“.
É dado ainda conta que a proporção de pedidos de empréstimo rejeitados aumentou, em ambos os segmentos de crédito, mas especialmente no caso dos particulares, tanto para habitação como para consumo.
A maior taxa de rejeição de empréstimos ocorreu num período em que os bancos sondados pelo inquérito do BdP sinalizaram que a procura de empréstimos por parte das empresas “aumentou fortemente”, especialmente no segmento de pequenas e médias empresas (PME) e em empréstimos de longo prazo.
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Esse disparo da procura terá na sua base os efeitos da pandemia. “O aumento da procura por parte das empresas terá sido motivado pelo financiamento de existências e de necessidades de fundo de maneio e, em menor grau, pelo refinanciamento ou renegociação da dívida e pela necessidade de financiamento criada pela situação atual quanto à geração interna de fundos”, diz o regulador.
Do lado das famílias a tendência foi oposta, com os bancos a reportarem que a procura “diminuiu fortemente”, em particular no crédito ao consumo, resultado de uma maior contenção face ao atual contexto no país. “A confiança dos consumidores foi o principal fator indicado para a redução da procura, para além de despesas de consumo relativas a bens duradouros, no caso do crédito ao consumo, e as perspetivas do mercado da habitação, no caso do crédito à habitação”, contextualiza o BdP.
Critérios dos bancos vão apertar mais. Procura das empresas vai acelerar
Relativamente ao terceiro trimestre do ano, as perspetivas vão no sentido de uma ainda maior restritividade nos critérios para a disponibilização de financiamento. Os bancos apontam para que esse maior restritividade seja direcionada em particular no caso dos empréstimos às PME, sendo que nos particulares apontam para critérios “ligeiramente mais restritivos” no crédito ao consumo.
Do ponto de vista da procura, os bancos anteveem um “aumento da procura de crédito por parte das empresas, transversal ao tipo de empresa e maturidade do empréstimo, e uma virtual estabilização, no caso dos particulares”.
(Notícia atualizada às 12h00)
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