BRANDS' CAPITAL VERDE Rethinking Sustainability: reforçar a ligação das organizações com a biodiversidade

  • BRAND'S CAPITAL VERDE
  • 28 Julho 2020

A pandemia colocou as empresas perante novos desafios nas áreas da sustentabilidade e alterações climáticas. Terceiro artigo da série “Rethinking Sustainability”.

A Covid-19 veio chamar a atenção da sociedade para uma ligação cada vez mais evidente entre degradação ambiental, destruição de habitats decorrente da crescente pressão sobre os recursos naturais e o aumento do risco de ocorrência de doenças infecciosas provenientes de animais (zoonoses). A relação cada vez mais enfraquecida entre as pessoas e a natureza está a colocar em risco os meios de subsistência, a resiliência da economia e a qualidade de vida.

A perceção e o interesse público relativamente ao papel da conservação dos ecossistemas e da biodiversidade tem vindo a aumentar, dado o reconhecimento da dependência da espécie humana à sustentabilidade deste capital natural. Esta relação tem vindo a ser promovida através do conceito de Serviços dos Ecossistemas, definido como os contributos que os ecossistemas fornecem para o bem-estar humano.

Bernardo Rodrigues Augusto, EY Manager, e João Machado Fernandes, EY Consultant, ambos Climate Change and Sustainability Service.EY

A avaliação global publicada em 2019 pela Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES) evidencia a diminuição destes contributos ao longo dos últimos 50 anos, assim como um registo de perda de biodiversidade em todos os habitats terrestres e marinhos. A perda de biodiversidade coloca em risco a integridade dos ecossistemas e, por conseguinte, o fornecimento de serviços essenciais, cuja perda anual é avaliada em pelo menos 479 mil milhões de dólares. O Global Risks Report 2020 do World Economic Forum coloca inclusivamente a perda de biodiversidade como o segundo maior risco com probabilidade de ocorrência e o terceiro com maior gravidade de impacto para a próxima década.

Os conceitos de biodiversidade e serviços dos ecossistemas têm sido cada vez mais integrados nas agendas políticas. Existe um compromisso ao nível da União Europeia de mapear e avaliar a condição dos ecossistemas e serviços por eles prestados em cada Estado Membro, assim como avaliar o valor económico do capital natural e dos serviços dos ecossistemas de modo a serem integrados nos sistemas contabilísticos e de reporte. Em Portugal, este esforço tem como objetivo último a preservação do capital natural como um ativo estratégico promotor da coesão territorial, social e intergeracional.

Este contexto reforça a necessidade das empresas alinharem a sua estratégia de negócio e as suas políticas de responsabilidade social com esta agenda. Apesar de as empresas já enfrentarem pressões por via dos seus stakeholders para agirem de forma mais responsável nesta área, ainda foram poucos os avanços na internalização destes temas nos respetivos modelos de gestão. Recentemente, têm surgido diversas iniciativas, protocolos e definição de métricas comuns de quantificação e reporte (e.g.: Natural Capital Protocol; Act4Nature; IUCN Global Standard for Nature-based solutions) que pretendem alavancar a operacionalização destes conceitos nos modelos de gestão de risco, decisão e reporte corporativos.

"A biodiversidade deve ser cada vez mais encarada como uma oportunidade para a geração de valor sustentável, o que permitirá às organizações reforçar a sua resiliência e simultaneamente contribuir para objetivos societais mais vastos.”

A identificação, quantificação e valorização dos impactos diretos e indiretos no capital natural, assim como a avaliação do risco da dependência das empresas ao mesmo, é crucial para compreender totalmente a interligação complexa e dinâmica entre as suas atividades e os ecossistemas e serviços por eles prestados. Este conhecimento constitui uma base para diminuírem a sua pegada ecológica e estabelecerem medidas de minimização e compensação dos seus impactos.

As instituições financeiras terão um papel fundamental neste caminho, dado que influenciam alterações no paradigma económico e nos modelos de negócio, através dos seus modelos de investimento. O alinhamento dos seus portfolios de produtos com metas para a preservação de biodiversidade e dos seus investimentos em atividades que não comprometam a integridade dos ecossistemas é um instrumento importante neste novo modelo. A mais recente Taxonomia para as finanças sustentáveis estabelece já critérios de classificação de atividades sustentáveis de acordo com critérios ambientais, entre os quais, a biodiversidade.

Esta é a altura para as empresas reforçarem o seu conhecimento sobre os impactos e dependências das suas atividades e cadeia de valor, impulsionando o seu papel na preservação da integridade dos sistemas ecológicos nesta nova normalidade. A biodiversidade deve ser cada vez mais encarada como uma oportunidade para a geração de valor sustentável, o que permitirá às organizações reforçar a sua resiliência e simultaneamente contribuir para objetivos societais mais vastos.

Por Bernardo Rodrigues Augusto, EY Manager, e João Machado Fernandes, EY Consultant, ambos Climate Change and Sustainability Services.

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