Nacionalização do Novo Banco? Também há empresários a defendê-la
No mundo das empresas, a nacionalização é defendida não por convicção, mas por força das circunstâncias. Vender mal parece pior opção do que nacionalizar temporariamente para vender no futuro.
O processo de venda do Novo Banco continua a decorrer, mas a ideia de nacionalização vai ganhando força entre atores: políticos e económicos. E até no setor empresarial, a tese da nacionalização é também defendida, não por convicção, mas por força das circunstâncias. Entre vender mal, ou mesmo muito mal, há empresários que preferem manter o Novo Banco nacional, arrumar a casa e vender mais tarde, sem pressas, e com um preço mais apetecível. A liquidação essa está fora de questão.
Entre os empresários contactados pelo ECO apenas João Miranda, presidente da Frulact se opõe à ideia de nacionalizar o banco presidido por António Ramalho. Miranda diz que “Portugal tem muitos maus exemplos”. O presidente da Frulact não acredita em nacionalizações temporárias e defende que o Governo devia, a seu tempo, ter “criado uma base nacional que permitisse que o terceiro maior banco do país continuasse na mão de portugueses“.
“O tempo devia ter sido utilizado para encontrar outras soluções de modo a que não tivéssemos apenas como alternativa a venda ou a nacionalização”. Miranda evoca a grande ligação do Novo Banco ao tecido empresarial e acrescenta: “A Frulact não poderia fazer parte dessa solução porque não está no seu ‘core’, mas seguramente que existem grandes grupos nacionais que podem fazer parte de uma solução“.
Nacionalização à “Lloyds”
Entre os que defendem a nacionalização temporária estão nomes como Jorge Armindo da Amorim Turismo, Fortunato Frederico, do grupo Kyaia, José Teixeira do grupo DST e Armindo Monteiro da Compta.
“Nacionalização porque acredito que há bons gestores em Portugal, e tal como aconteceu em Inglaterra com o LLoyds, que por acaso tem um presidente português, a situação do Novo Banco pode ser invertida num espaço de tempo razoável“, adianta Jorge Armindo.
A situação do Novo Banco pode ser invertida num espaço de tempo razoável.
O nome de António Horta Osório é de resto evocado também por Fortunato Frederico que adianta: “O Novo Banco já devia ter sido nacionalizado, não se pode perder mais tempo, sobretudo porque até temos exemplos de coisas que se fizeram e estão a ter bons resultados”.
Opinião semelhante tem o empresário da DST. José Teixeira defende que o Novo Banco “tem de ser nacionalizado provisoriamente, numa analogia ao que foi feito com o Lloyds”.
“Não podemos vender ao desbarato. A economia precisa de uma segunda Caixa Geral de Depósitos“, refere Teixeira. Já sobre o cenário de uma eventual fusão entre a Caixa e o Novo Banco, José Teixeira é taxativo: “Nem pensar. Nós os empresários, o que queremos é dispersão e não concentração bancária”.
O Novo Banco já devia ter sido nacionalizado, não se pode perder mais tempo.
Armindo Monteiro, presidente da Compta, por seu turno, diz que “Portugal já tem vários exemplos de como a impaciência do regulador – Banco Central Europeu – pode ser ruinosa, e portanto não deve vender à pressa por pressão externa“.
Como há um ‘gap’ entre o potencial valor do banco e o valor que os eventuais compradores estão dispostos a pagar “a única solução que permite tempo é a nacionalização”, acrescenta.
Nacionalizar sim, mas só se…
Mário Centeno, ministro das Finanças joga uma cartada decisiva na resolução do dossier do Novo Banco. A questão é complexa, arrasta-se há demasiado tempo e não tem uma solução fácil e muito menos consensual.
Todos os empresários inquiridos pelo ECO defendem o papel fundamental que a instituição tem no apoio à economia real, leiam-se as empresas e, portanto, há quem vacile ainda entre uma resposta concreta. Até porque há contornos que ainda não são totalmente conhecidos. Para Manuel Violas, a escolha é, no entanto, simples: “Se houver garantias do Estado defendo a nacionalização, se não houver garantias do Estado prefiro a venda”, diz o presidente da Solverde.
Se houver garantias do Estado defendo a nacionalização, se não houver garantias do Estado prefiro a venda.
Já o presidente da Riopele, José Alexandre Oliveira escusa-se a definir qual a melhor solução. Mas o empresário não tem dúvidas que “qualquer decisão que vier a ser tomada tem de ter em atenção que o Novo Banco é muito próximo das empresas, das pequenas, as médias e das grandes e portanto a subsistência do mesmo é indispensável para a economia”.
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