Os CEOs estão a criar o “mundo em que queremos viver”?
Quantos CEOs e membros de Conselhos de Administração compreendem a importância e urgência de atingirmos a neutralidade carbónica em 30 anos?
No dia 16 de setembro a Presidente da Comissão Europeia realizou um discurso sobre o Estado da União Europeia em 2020 e as ambições para o futuro. Este discurso intitulado “Building the world we want to live in” evidenciando que temos de construir um mundo novo, uma vez que queremos viver de forma diferente, sem pandemia, sem fome, com justiça e equidade. Afirmou também que 37% do pacote de financiamento de apoio à recuperação europeia (chamada bazuca) irá incidir sobre projetos associados com a Economia Verde e o Pacto Ecológico. Inicialmente este valor era de 30%… agora subiu… e isso é bom. Há que conseguir aproveitar esse investimento de forma correta, criando os critérios de investimento apropriados e os indicadores certos.
Não há dúvidas de que a Comissão Europeia e a sua Presidente querem viver num mundo mais verde, mais inovador e com um salário mínimo que garanta um bem-estar digno a todas as pessoas.
E será que nós queremos? Será que aqueles que decidem as opções de investimento privado, e também publico, estão alinhados com esta ambição? Será que ele/as sabem o que significa apostar na economia verde? E o que irá ocorrer a médio prazo se não enveredarmos por este caminho? Acredito que poucos sabem, e muitos deveriam aprender bem depressa.
Vivemos tempos em que, o que aprendemos sobre economia e gestão na escola, não chega para compreender a realidade nem para gerir todos os ângulos que começam a surgir no radar da decisão.
Quando não sabemos sobre um assunto e não temos informação, temos sim a tendência para ignorar o tema e para rejeitar os argumentos dos outros, pois não os entendemos. Quantos CEOs e membros de Conselhos de Administração compreendem a importância e urgência de atingirmos a neutralidade carbónica em 30 anos? Quantos percebem a importância de alinhar a sua estratégia de negócio com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável? Quantos sabem que têm de reportar, a partir de 2022, a % de turnover verde, % de Capex verde e % de OPEX verde? Quantos desenvolvem a sua estratégia com base em cenarização, seguindo as recomendações da TCFD? Pouquíssimos!
Estes temas não se ensinavam quando frequentaram as melhores escolas, mas são temas da agenda internacional de há mais de 20 anos. Então porquê tanta ignorância? Porque há uma tendência nos Conselhos de Administração em se acreditar que tudo se sabe, e que assistir a conferencias e participar em cursos é uma perda de tempo. Assim sendo, rapidamente temos Conselhos de Administração ignorantes e anacrónicos que, por serem assim, podem aumentar a exposição das empresas ao risco, tornando-as em investimentos menos atrativos para alguns dos acionistas. Estes órgãos de gestão precisam de ter literacia, pelo menos, sobre riscos ambientais, sustentabilidade e financiamento sustentável.
Vivemos tempos loucos. Se antes da pandemia “não tínhamos tempo”, hoje ainda temos menos.
Mas se não dermos tempo á aprendizagem e ao conhecimento, como podemos nós ter a legitimidade para tomar decisões que afetam as pessoas e o planeta? Se um CEO e o seu Conselho não se atualizar sobre a agenda internacional e setorial, que legitimidade têm para liderar a empresa, contrair dívida, fazer investimentos?
Quando achamos que temos a certeza absoluta e que não precisamos de ouvir ninguém, é o princípio do fim. Por isso seria tão bom ver mais CEOs e membros de Conselho de Administração a estarem presentes em conferencias, fazerem perguntas e não apenas discursos ou presenças de abertura. Seria tão bom vê-lo/as a frequentar cursos, a interagir com a diversidade e a desenvolver a empatia, uma vez que esta lhes permite captar tanta informação…Seria tão bom sentir que em Portugal existe uma vontade de aproveitar esta bazuca de forma correta, séria, transparente e em prol do futuro desconhecido e não do conforto do presente.
O ISEG teve a coragem de ser pioneiro ao lançar o curso para executivos sobre Sustainable Finance que se tornou, no último ano, um dos principais temas da Agenda Europeia. A primeira edição deste curso de 8 dias inicia-se a 17 de setembro e termina a 9 de outubro. Avança com 32 alunos, tendo mais de 40 pessoas concorrido às 5 “Bolsas Gulbenkian Competências Verdes para Executivos” que foram atribuídas pela Fundação. Constatamos assim que há uma imensa apetência para saber mais sobre como podemos e iremos financiar a economia verde. Tudo faremos para que este conhecimento consiga subir na hierarquia das organizações. O país precisa!
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