FMI alerta para risco de retirada prematura de apoios às empresas. Pode ter “impacto severo” nos bancos
Ajustamento demasiado rápido dos estímulos pode comprometer liquidez das empresas e, consequentemente, a qualidade dos ativos detidos pelos bancos, aponta o Relatório de Estabilidade Financeira.
Os apoios sem precedentes lançados por países e bancos centrais desde o início da pandemia têm sido eficazes em manter as condições de financiamento das empresas das maiores economias do mundo, mas é preciso garantir que não há uma retirada prematura das medidas em vigor que comprometa este trabalho. O alerta é feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado esta sexta-feira.
“O financiamento das empresas não financeiras aumentou em março e no segundo trimestre de 2020, com estas a beneficiarem das políticas de apoio sem precedentes resultantes da crise do coronavírus“, começa por dizer o FMI, apontando para condições favoráveis de financiamento nos países do G7.
Foram as medidas orçamentais, monetárias e financeiras que permitiram “normalizar as condições financeiras” e às empresas lidar com os choques de liquidez gerados pela pandemia, que ainda se faziam sentir de forma mais residual no final de junho.
As empresas continuaram a conseguir financiar-se, apesar da deterioração da solvência e das maiores dificuldades sentidas especialmente por empresas mais endividadas. Aliás, a análise do FMI indica que medidas direcionadas diretamente para as empresas tiveram especial efeito nas que já tinham vulnerabilidades de liquidez.
É neste cenário que o fundo de Bretton Woods alerta que é necessário não tirar o tapete às empresas. “A retirada prematura de apoio político poderá comprometer o sucesso alcançado até agora na resposta às necessidades de financiamento e liquidez do setor empresarial“, refere.
É que, além das dificuldades em navegar a reabertura das economias que poderão levar os decisores políticos a agir demasiado depressa, há também os constrangimentos financeiros já que os Estados estão a ficar condicionados no espaço orçamental que têm para responder à pandemia.
O FMI recomenda, por isso, atenção no ajustamento dos estímulos, a par de um maior acompanhamento por parte das autoridades de supervisão das vulnerabilidades das empresas, nomeadamente considerando instrumentos de política macroprudencial para travar o elevado endividamento. Estas opções poderão, na perspetiva do FMI, ajudar a prevenir o eventual impacto da deterioração das condições financeiras para todo o sistema financeiro.
“Além da calibração do apoio ao financiamento e à liquidez por decisores das políticas orçamentais e monetárias, um assunto chave para a estabilidade financeira no curto e médio prazo será a deterioração da solvência no resultado da quebra da rentabilidade induzida pela pandemia e o aumento do endividamento privado”, aponta o FMI.
Esta deterioração poderá ter um “severo impacto” na qualidade dos ativos dos bancos e na adequação de capital, o que por ser turno pode condicionar a concessão de crédito às empresas nos próximos trimestres.
“O nível de eventual cicatrização económica após a crise da Covid-19 vai depender em larga medida de quão bem o sistema financeiro — apoiado de forma excecionalmente grande pelas políticas atuais — conseguir responder à procura das empresas por liquidez durante a crise. Isto significa prevenir empresas ainda solventes de enfrentarem dificuldades de liquidez e tornarem-se entidades insolventes ou forçadas a restringir significativamente as suas atividades”, acrescenta o FMI.
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