De quem gosta mais Wall Street? Vença Trump ou Biden, importante é que haja estímulos
Tal como os eleitores, Wall Street não parece decidida sobre qual dos candidatos a presidente dos EUA vai vencer as presidenciais. O perdedor deverá ser o dólar.
Os norte-americanos decidem esta terça-feira se querem Donald Trump mais quatro anos na Casa Branca ou se preferem ter Joe Biden como novo presidente. Os mercados estão em suspenso à espera do resultado e, apesar de os investidores tradicionalmente preferirem os republicanos, uma vitória democrata poderá não ser totalmente uma má notícia. O que interessa são os estímulos que cada um irá implementar.
“O mercado acionista tem um forte histórico de corretamente prever o resultado das eleições presidenciais“, aponta Sean Markowicz, estratega de research e analytics da Schroders. “Sempre que as ações dos EUA sobem nos três meses antes do dia eleitoral, o partido do titular do cargo vence e, sempre que caem, o incumbente perde”.
Desde 1932 que esta metodologia teve sucesso em 86% dos casos, ou seja, em 19 das últimas 22 campanhas. Olhando para o desempenho do S&P desde agosto, o saldo é — tecnicamente — positivo, mas a valorização é de apenas 0,04%, sinalizando que, tal como tem acontecido com as sondagens, a margem não é grande.
"O mercado acionista tem um forte histórico de corretamente prever o resultado das eleições presidenciais.”
Uma das explicações para a curta diferença é que “os preços das ações não indicam simplesmente quem poderá vencer a presidência, mas também o estado da economia, que tem vindo a recuperar das consequências económicas da Covid-19“, lembra Markowicz. A economia dos Estados Unidos expandiu 33,1% no terceiro trimestre do ano (em termos anualizados), um crescimento sem precedentes para o país e que se seguiu a uma contração recorde do PIB de 31,4% no trimestre anterior.
Trump vs Biden: de quem é que os mercados gostam mais?
A Covid-19 criou um cenário de exceção e, neste ciclo eleitoral, os investidores estão a tentar avaliar a capacidade de Trump e Biden estimularem a retoma da economia. Para relançar a economia, Biden foca-se na despesa pública com transferências diretas para as famílias e empréstimos a PME, bem como a reversão do corte de impostos aos mais riscos. Já Trump quer implementar mais estímulos fiscais, apostar nas obras públicas e implementar politicas de repatriação de empregos.
A questão é: de quem é que as bolsas gostam mais? Depende do setor. Donald Trump representa continuidade, propondo maior alocação do orçamento do país para gastos com a defesa, bem como cortes de impostos e menor regulação para os bancos.
É nos temas ligados ao clima que mais se distinguem os dois candidatos. Por um lado, o atual presidente é mais flexível com as emissões de carbono em setores do ferro, aço ou carvão e protege as petrolíferas. Em sentido contrário, o opositor Biden quer apostar na transição energética, através do desinvestimento no petróleo, reforço do financiamento a renováveis e utilities e ainda nas redução de emissões poluentes.
"Políticas para combater alterações climáticas poderão ser essenciais para uma vitória de Biden, especialmente em estados mais afetados por desastres naturais como Florida e Califórnia.”
“Donald Trump já afirmou várias vezes que as alterações climáticas são uma “invenção”, independentemente do aumento de desastres naturais nos EUA, nomeadamente os fogos na Califórnia e os furacões no sul do país”, recordam os analistas do BiG – Banco de Investimento Global.
“Joe Biden por outro lado anunciou políticas para combater as alterações climáticas, que passam pela reentrada no acordo de Paris e investimentos em renováveis. Estas políticas poderão ser essenciais para uma vitória de Biden, especialmente em estados mais afetados por desastres naturais como Florida e Califórnia“, consideram.
O clima, tal como a saúde, é um dos pontos em que Trump e Biden mais diferem, mas há outros temas em que as abordagens são mais próximas, como é o caso das relações comerciais com a China. Tal como Trump, Biden também defende o fomento da indústria nacional, apesar de ter uma postura menos rígida quanto ao país asiático que diz não querer ver como concorrente direto.
"O grande perdedor poderá ser o dólar e a sua posição como divisa de referência e de refúgio.”
Além da relação com a China, há ainda o comportamento face a organizações internacionais como a NATO ou ao banco central dos EUA, a Reserva Federal norte-americana. Certo é que qualquer que seja o escolhido dos norte-americanos, a incerteza é grande e o percurso estará intimamente dependente da pandemia.
Biden poderá ter a vida facilitada para implementar políticas públicas já que, em conjunto com o presidente serão eleitos 35 lugares no Senado. Atualmente, os Republicanos têm a maioria com 23 dos lugares contra 12 dos Democratas. Com um presidente da mesma cor política, para passarem a deter a maioria, é apenas necessário aos segundos roubarem três lugares aos primeiros pois o Presidente tem poder de desempatar em caso de igualdade no Senado.
“Em qualquer caso, o grande perdedor poderá ser o dólar e a sua posição como divisa de referência e de refúgio“, ressalva Hugo Gerald Freitas, responsável de produtos de investimento do Abanca em Portugal. “Uma combinação de défices massivos (em que a probabilidade de que ocorram quer ganhe um candidato ou outro é bastante elevada) associada a estímulos monetários destinados a monetizar a dívida emitida para financiar os referidos défices, será um terreno fértil para um aumento significativo da inflação e para uma desvalorização do dólar”, acrescenta.
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