Portugal perto do pico da infeção no final do mês. Número diário pode chegar a sete mil novos casos
Portugal está prestes a chegar ao pico de pessoas infetadas com o novo coronavírus no final do mês, alerta o epidemiologista Manuel do Carmo Gomes.
Portugal está prestes a atingir o pico de infeções. O epidemiologista Manuel do Carmo Gomes prevê que o país atinja o pico de novos casos por Covid-19 no fim de novembro, o que corresponde a uma média diária de sete mil novos casos. Quanto ao número de mortos, deverá aumentar ainda até meados de dezembro. Na reunião do Infarmed, o especialista respondia às questões do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que alertou para o risco a importância dos comportamentos individuais numa terceira vaga.
“Vamos atingir o pico, de acordo com as nossas previsões, entre finais deste mês e inícios do próximo. Se mantivermos a pressão, o R irá para baixo de 1 e, se se mantiver aí, a incidência começará a descer. Depois disso depende do que fizermos. O R está sempre preparado para disparar por aí acima”, disse Manuel do Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em relação ao indicador que mede o número de infeções geradas por cada doente.
O especialista respondeu assim à pergunta de Marcelo sobre se “em janeiro e fevereiro, haverá outro pico a seguir a este pico?”. Manuel do Carmo Gomes defendeu que, apesar do abrandamento, não é possível desagravar as medidas, mas sim torná-las mais direcionadas. Neste momento, o conjunto de medidas está num nível intermédio face ao que foi adotado em março. “Se não quisermos voltar a março — e não defendo de forma nenhuma — defendo que devemos adotar uma faca mais cirúrgica”, sublinhou.
O Governo determinou já medidas diferenciadas (com destaque para o recolher obrigatório) por concelho, consoante o número de novos casos. Manuel do Carmo Gomes sugere quatro medidas concretas: a determinação de níveis de risco, a clarificação de como se transita de um nível para outro, o elencar de medidas comuns a vários concelhos e a adoção de medidas específicas decididas a nível regional além das gerais. Exemplificou com as diferenças entre um concelho em que haja 10 ou 20 cadeias de disseminação e outro em que haja um surto num lar. “É muito diferente”.
UCI em rutura. Vacinação esperada no verão
Marcelo quis saber também até onde devem ir as medidas e por quanto tempo deverão manter-se. O epidemiologista respondeu ao Presidente que também isso está dependente da eficácia. “Não tenho uma resposta. Depende da direção que estamos a seguir em cada região”, afirmou.
João Gouveia, médico especialista em Medicina Interna e Medicina Intensiva, não avança datas, mas considera que “haverá uma terceira e uma quarta onda”. O responsável tomou a palavra para responder às perguntas do Chefe de Estado sobre a situação das unidades de cuidados intensivos e disse estar “muito preocupado” com a situação já que está atualmente 84% da capacidade preenchida. No Norte, as unidades já excederam mesmo as capacidades, estando em 113%.
“Estou muito preocupado. Estamos em risco de não conseguir receber todos os doentes com necessidades de medicina intensiva com Covid-19”, alertou. Há a possibilidade de aumentar o número de camas para 967, o que implicaria adiar a atividade programada. “Vamos pagar isso no futuro. Não estamos em situação de catástrofe, mas estamos em situação de rutura em muitos sítios“.
A vacina contra a Covid-19 foi igualmente um tema incontornável, numa altura em que Portugal prepara um plano de vacinação para quando esta estiver pronta. Questionado pelo Presidente sobre um calendário, o presidente do Infarmed, Rui Ivo, afirmou esperar que as primeiras doses estejam disponíveis no início do próximo ano (tal como o Governo). “O processo vai acontecer durante o próximo ano, espero que no verão já tenhamos número significativo de pessoas abrangidas”, acrescentou.
(Notícia atualizada às 13h57)
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