Há que evitar erros do passado e não retirar apoios à economia demasiado depressa, alerta ministro francês das Finanças
“No final de 2021 veremos onde estamos e qual será o nível de crescimento para se perceber se é o momento ou não de dar início" ao reembolso das dívidas, diz Bruno Le Maire.
O ministro francês da Economia e Finanças alerta que a União Europeia não deve cometer os mesmos riscos do passado e retirar os apoios à economia demasiado depressa. “Não podemos cometer os mesmos erros feitos na crise de 2008, quando decidimos parar de apoiar as nossas economias demasiado depressa e as consequências foram muito más para todos nós”, frisou Bruno Le Maire, numa entrevista conjunta com vários meios de comunicação social, durante uma visita a Lisboa.
“Esta é a posição adotada pela Comissão Europeia e pelo BCE e creio que deve ser a posição comum de todos os Estados membros”, afirmou, lembrando que “quando as coisas correm mal em Portugal, Grécia ou em Itália têm “consequências direta negativas no nível global de crescimento dos países europeus.
Por isso as regras do Pacto de Estabilidade não devem regressar “enquanto a crise atingir as nossas economias temos de as apoiar”, defendeu Le Maire. “No final de 2021 veremos onde estamos e qual será o nível de crescimento para se perceber se é o momento ou não de dar início à terceira fase da retoma”, o de reembolso das dívidas europeia e nacional, conclui.
E como se gere a dívida que está a crescer? A resposta é simples para Bruno Le Maire. “Quando se enfrenta uma situação complicada é preciso ter ideias simples. É a melhor forma de enfrentar uma crise complexa”. “A minha primeira convicção é que agora temos os instrumentos certos para emitir dívida pública nas melhores condições. E devemos estar orgulhosos disso, porque fomos capazes de tomar as decisões certas no momento certo. O BCE tomou as decisões certas. Fomos capazes, pela primeira vez na história da zona euro de emitir dívida conjunta. É um grande sucesso histórico. E isto explica por que razão o spread da dívida de Itália, Portugal, Espanha não é muito importante e está contido. Simplesmente porque fomos capazes de emitir dívida conjunta.
“Igualmente importante foi o facto de os países terem chegado a acordo na reforma do Mecanismo Europeu de Estabilidade esta segunda-feira. Os ministros das Finanças foram muito eficientes e bem-sucedidos”, diz Bruno Le Maire, em tom de brincadeira, sublinhando que ninguém mais o dirá.
No final de 2021 veremos onde estamos e qual será o nível de crescimento para se perceber se é o momento ou não de dar início à terceira fase da retoma [o reembolso das dívidas].
Para o ministro francês da Economia a solução é “responder à crise passo a passo”. “Se formos demasiado depressa caímos”, alerta. “O primeiro passo é a proteção da economia europeia e dos salários e dos empréstimos com garantia de Estado. Os sistemas de apoio parcial dos salários têm sido a resposta certa para esta crise”, garante, sublinhando que alguns setores ainda estão nesta fase.
A seguir vem a retoma. “Vamos pôr muito dinheiro na retoma económica, para financiar investimentos na área do hidrogénio, inovação para financiar novas tecnologias e melhorar a competitividade da economia europeia, usando o nível de tributação nas indústrias”, elenca Bruno Le Maire. Uma fase em que Portugal e França já se encontram tendo em conta que já aprovaram os respetivos Planos de Recuperação. “Em França, o Plano já foi adotado e implementado”, diz.
O terceiro passo será regressar a Finanças públicas sãs e ao reembolso da dívida. “É muito claro que a dívida europeia e a dívida nacional terá de ser reembolsada. Não há qualquer dúvida sobre isto”, afirmou de modo perentório. “O reembolso terá de ser feito através do crescimento, de finanças públicas sãs e reformas estruturais”, explicou.
Para Le Maire Portugal deveria “estar orgulhoso” porque definiu cerca de 32 reformas estruturais no seu próprio plano de recuperação. “É um modelo para todos nós”
Quanto ao timing de implementação desta terceira fase, o ministro francês explica que “dependerá do ritmo da retoma económica”. Mas a sua aposta está numa forte recuperação das economias em 2021, sendo que em França a previsão é de um crescimento de 6% do PIB. Já Portugal tem inscrito no Orçamento do Estado um crescimento de 5,4%.
“No final de 2021 veremos onde estamos e qual será o nível de crescimento para se perceber se é o momento ou não de dar início à terceira fase da retoma”, conclui.
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