Reorganização na Generali Seguros abrange 54 trabalhadores. Mais 25 aderem ao plano da empresa
Numa ação de protesto contra o plano da empresa, o sindicato do setor (Sinapsa) questiona os argumentos para o despedimento e diz que a seguradora devia ter optado por requalificações profissionais.
O despedimento coletivo em curso na Generali Seguros vai abranger um total de 54 trabalhadores, alguns dos quais manifestaram-se em protesto em Lisboa, tendo mais 25 aderido ao plano de rescisões por mútuo acordo lançado pela empresa.
Segundo um comunicado divulgado pela Generali, que em Portugal opera as marcas Tranquilidade, Açoreana e LOGO, “a rescisão do contrato de trabalho abrange 54 colaboradores de um universo de cerca de 1.100 trabalhadores”, sendo que “25 outros colaboradores aproveitaram este processo de reorganização interna para voluntariamente solicitarem a rescisão dos respetivos contratos de trabalho”.
A decisão de “avançar para um plano voluntário de rescisões contratuais, seguido de um programa de cessação de contratos de trabalho por iniciativa da empresa”, é justificado com a “implementação de um modelo organizacional assente numa estrutura empresarial única, em consequência da aquisição da Seguradoras Unidas pela Generali, que em Portugal detinha a Generali Companhia de Seguros e a Generali Vida”.
“A junção das companhias originou uma duplicação de funções e redundâncias que importa gerir a bem do futuro da companhia, de modo a responder aos desafios de solidez, competitividade e sustentabilidade financeira, preparando-a para enfrentar as atuais e futuras condições de mercado”, sustenta a empresa no comunicado.
Para o Sindicato Nacional dos Profissionais de Seguros e Afins (Sinapsa) – que organizou frente à empresa, em Lisboa, uma concentração com alguns dos trabalhadores incluídos no despedimento coletivo para exigir a manutenção dos postos de trabalho – estes argumentos não justificam o recurso ao despedimento coletivo.
“Este setor de atividade deu 199 milhões de euros de lucro no primeiro semestre de 2020. Mesmo nesta altura de pandemia, esta empresa conseguiu ter, de janeiro a setembro, um aumento de produção de 2% (que passou de 825 para 838 milhões de euros) e é, neste momento, a terceira seguradora, com uma quota de mercado de 13%”, afirmou o dirigente sindical Jorge Martins em declarações à agência Lusa.
Salientando que, com a pandemia, “está mais do que comprovado que o volume de sinistros diminuiu drasticamente”, o dirigente do Sinapsa antecipa que, conjugando a subida da produção com a diminuição dos sinistros, “a empresa vai ter, certamente, lucros de milhões”.
A este facto acresce, segundo Jorge Martins, a “redução drástica dos custos operacionais” da empresa, já que “os trabalhadores estão desde março maioritariamente em teletrabalho”.
“A empresa quer manter um despedimento 54 trabalhadores porquê? Que impacto é que isto tem? Vão recuperar a empresa? Porque não foram estudadas outras medidas, como requalificações profissionais, que é um dos procedimentos legais que o Código do Trabalho prevê?”, questiona.
Considerando não haver argumentos financeiros ou de sustentabilidade para que “uma empresa que apresenta lucros de milhões queira levar a cabo um despedimento coletivo”, o dirigente sindical acusa o grupo de estar a “esvaziar as empresas” que integra: “Ao longo dos últimos cinco anos já são mais de 500 trabalhadores que saíram”, sustenta.
E se para os trabalhadores que até agora foram dispensados “houve o aval do Governo para ser alargada a quota para terem acesso ao Fundo de Desemprego”, Jorge Martins diz que, “neste momento, querem fazer um despedimento coletivo para terem, também, esse mecanismo”.
“O que concluímos é serão todos os contribuintes, através do apoio do Fundo de Desemprego, a sustentar e a suportar estes atos de gestão das empresas, o que é inadmissível e inaceitável nos tempos de hoje”, considerou.
Anunciado aos trabalhadores no passado dia 4 de novembro, o processo de rescisões contratuais na Generali prevê, segundo a empresa, “um conjunto de compensações aos colaboradores envolvidos claramente acima do estabelecido pela lei”.
Adicionalmente, o grupo segurador diz ter lançado “um esquema de proteção na saúde, manutenção de condições favoráveis nos seguros pessoais e no acesso aos serviços de ‘outplacement’ para apoio na reintegração no mercado de trabalho ou, dependendo das circunstâncias, na programação da passagem para uma situação de reforma ativa”.
“A Generali Seguros considera que este movimento é absolutamente inevitável para que, no âmbito da sua reorganização, a empresa possa enfrentar com firmeza e êxito os desafios que se lhe colocam de forma a continuar o seu crescimento e a manter-se na liderança do mercado segurador português”.
Em 1 de outubro, as seguradoras Tranquilidade e Generali concluíram o processo de fusão das suas atividades em Portugal, depois de em janeiro passado o grupo italiano ter comprado a companhia Seguradoras Unidas (que integrava as marcas Tranquilidade, Açoreana e Logo) e a prestadora de serviços de saúde AdvanceCare, num negócio que a agência de informação financeira Bloomberg estimou em 600 milhões de euros — as partes envolvidas não divulgaram o montante.
O grupo segurador Generali, que tem operação em 50 países no mundo, está presente em Portugal desde 1942.
A Tranquilidade pertencia ao Grupo Espírito Santo (GES) e passou na resolução do Banco Espírito Santo (BES) para o Novo Banco. Em 2015, foi comprada pelo fundo de investimento Apollo, num negócio em torno de 215 milhões de euros.
Já em 2016, a Apollo ficou com a Açoreana, seguradora que pertencia ao Banif antes da resolução do banco, e formou o grupo Seguradoras Unidas, juntando as marcas Tranquilidade, Açoreana e Logo.
Foi esse grupo, que já tinha passado por vários processos de reestruturação, com a saída por acordo de centenas de trabalhadores, que a Generali Seguros comprou no início deste ano.
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