BRANDS' CAPITAL VERDE O adeus ao carvão

  • Capital Verde + APREN
  • 1 Março 2021

Portugal, em termos de recursos endógenos, é rico e competitivo em fontes renováveis e tem as condições para suportar uma transição energética custo-eficaz, refere Pedro Amaral Jorge, CEO da APREN.

Foi na véspera de Natal, a 24 de dezembro de 2020, que a central termoelétrica da EDP em Sines queimou carvão pela última vez. A licença para operar ia até às 23h59 de dia 14 de janeiro, mas em dezembro o stock, que era já residual, acabou.

A central a carvão da EDP fica para a história pela sua utilidade e serviço ao país nos últimos 35 anos, mas, como sabemos nem tudo são rosas. Analisando números mais recentes, a central foi, em 2018, a 17ª central térmica a carvão e a 22ª instalação com maiores emissões de dióxido de carbono da União Europeia; já em 2020 foi responsável pela emissão de 1,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono, um número desajustado face ao novo paradigma de descarbonização que se pretende para a União Europeia e, consequentemente, para Portugal.

Efetivamente, a emergência climática e consequente necessidade de descarbonização é a mais recente luta da União Europeia e dos seus estados-membros, refletido nas últimas políticas europeias e também na recentemente aprovada “bazooka” europeia para a recuperação económica pós-pandemia.

Pedro Amaral Jorge, CEO da APREND.R.

Mas o tema não está a ser tratado com a mesma emergência no resto do mundo. Pese embora nos cheguem finalmente boas perspetivas por parte dos Estados Unidos da América, se olharmos para os gigantes asiáticos, a luta não é tão linear: a China e a Índia, por exemplo, tencionam chegar aos 75.000 MWh de potência a carvão, um número gigantesco.

A explicação para esta diferença não é simples, mas existe. Tanto a China como a Índia têm nos seus territórios elevadas reservas de carvão, ao contrário de Portugal, por exemplo, que está dependente da importação de mercados externos e sujeita as variações de preço desta commodity.

Por outro lado, estamos a falar de economias em forte expansão, mas ainda com índice de pobreza significativo. Por exemplo, o PIB per capita da China é de cerca de 10.200 dólares e da Índia de 2.000 dólares, enquanto que em Portugal é de 23.200 dólares (como referem as estatísticas do Banco Mundial para 2019). Estes países enfrentam desafios socioeconómicos completamente díspares da realidade Europeia e Nacional, ainda com elevadas perspetivas de aumento de consumo de energia, enquanto a Europa já aposta na eficiência energética e redução do mesmo.

"Portugal está na linha da frente das renováveis e assim pretende continuar, como o denota a mais recente estratégia nacional definida para o Hidrogénio, que pretende tornar o nosso país num polo de desenvolvimento de Hidrogénio Verde, com claros benefícios para a economia no futuro.”

Pedro Amaral Jorge

CEO da APREN

Além disso, no top 50 das cidades mais poluídas encontram-se 26 cidades da Índia e 14 da China, devido à elevada dependência dos combustíveis fosseis, nomeadamente de carvão que, para além das emissões de CO2, é responsável pela emissão de gases como o SO2 e o NOx, que são a causa de várias doenças respiratórias. Salientamos que a doença pulmonar obstrutiva crónica e as infeções respiratórias inferiores são das principais causas de morte em todo o mundo (Organização Mundial da Saúde, 2019).

A potência referida, por ano, corresponde a emissões de uma ordem de grandeza dos 740 milhões de toneladas de CO2, segundo uma estimativa da APREN, assumindo-se um fator de emissão de 1,23 tCO2/MWh e 8.000 horas equivalentes de funcionamento das centrais. Como comparação, pode adiantar-se que a geração de total eletricidade em Portugal continental, ao longo de 2020, contribuiu com a emissão de 8 MtCO2.

Portugal, em termos de recursos endógenos, é rico e competitivo em fontes renováveis, tendo as condições ideais para suportar uma transição energética custo-eficaz com uma contribuição determinante para a redução dos custos de produção de eletricidade, com base nas tecnologias disponíveis atualmente. Fomos também pioneiros na apresentação de um roteiro para a descarbonização e também na redução das emissões, prevendo alcançar, já em 2030, 80% de eletricidade renovável.

Portugal está na linha da frente das renováveis e assim pretende continuar, como o denota a mais recente estratégia nacional definida para o Hidrogénio, que pretende tornar o nosso país num polo de desenvolvimento de Hidrogénio Verde, com claros benefícios para a economia no futuro. No que toca ao passado, sabemos que é por lá que, eventualmente, a exploração de carvão deverá ficar.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

O adeus ao carvão

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião