António Oliveira: “Os concorrentes de 1980 já não existem, alguma coisa teremos feito de bom e melhor”

  • ECO
  • 23 Março 2021

António Oliveira, 67 anos, engenheiro mecânico e presidente da OLI – Sanitários, é um dos cinco finalistas do prémio EY Entrepreneur of the Year.

Poucos meses após o nascimento de António Oliveira, o seu pai, também António, e o tio, Saul, fundavam, em Aveiro, a Oliveira & Irmão. Até à década de 80 do século passado, a empresa dedicava-se ao comércio de produtos sanitários. Com António Oliveira filho, entrou na indústria, mudou o nome para OLI e conquistou outros países. O gestor é um dos cinco finalistas do prémio EY Entrepreneur of the Year.

Apenas ligeiramente mais velho do que a empresa que lidera, a primeira recordação que António Oliveira guarda da Oliveira & Irmão é também uma das suas primeiras recordações de vida – acompanhar o pai pelas suas instalações. “Gostava muito de andar por aqui, depois das escola e do liceu. Nas férias o meu pai tinha o hábito de convidar-nos para virmos trabalhar, não que agradasse muito”, ri-se. Trabalhar aqui era questão de tempo.

O facto de ter estado sempre na empresa, exceto nos anos da universidade, e ter crescido aqui, sempre me levou a pensar que a minha vida profissional seria feita aqui”, conta ao ECO. “Acabei o curso no dia 31 de janeiro de 1978 e a 1 de fevereiro estava oficialmente a trabalhar na empresa”.

Dois anos depois de ter começado, a Oliveira & Irmão fez a primeira transformação importante da sua história. “Era uma empresa comercial, comprava e vendia. Em 1980 começámos a dar os primeiros passos na indústria”. Terá sido o impulsionador da mudança? António Oliveira prefere pôr as coisas de outra maneira: “Sem a minha vinda para a empresa, essa mudança não teria acontecido”. E os conhecimentos a formação que trouxe da universidade foram bastante importantes, considera. “Havia mais condições para dar esse passo como quando chegou a nova geração foram dados passos que antes não teriam sido dados”, considera. Por exemplo, a internacionalização.

Um dos passos dados nesse caminho foi mudar o nome da Oliveira & Irmão para Oli – Sistemas Sanitários S.A. “A partir do momento em que estamos no mercado internacional em que 80% é faturação internacional, queríamos dar um enfoque internacional à Oli e achámos que faria sentido ter uma designação mais facilmente pronunciável e de mais fácil memorização”.

O primeiro de todos os países onde tentar a sua sorte foi Itália, que hoje continua a ser um dos mais importante destinos da produção da Oli, apenas atrás da Alemanha e seguidos de perto de França e do mercado escandinavo (Suécia e Finlândia).

“São 30 anos de trabalhos e pequenos passos”, diz ao ECO. “Com pequenas vendas em Itália e depois em França”, conta, e acrescenta. “Foram os clientes é que fizeram o trabalho da promoção dos nossos produtos desde 1993, que foi quando a exportação começou a ter alguma expressão. No princípio, as coisas faziam-se muito por simpatia. Foram os clientes que trouxeram outros, também com trabalho, bons produtos, qualidade, competitividade e compromisso.”

No capítulo da inovação, a OLI está associada criação do autoclismo de dupla descarga, “hoje standard na Europa”. “Fomos desafiados por uma empresa cerâmica francesa a fazê-lo e foi uma aventura. Não correu bem à primeira, à segunda correu menos mal e passado pouco tempo estávamos a vender”. Alguns anos depois, esta tornou-se a prática comum e, aceita António Oliveira, “temos alguma responsabilidade nisso”. “Fomos pioneiros nisso e foi de facto um momento importante na vida económica da empresa”.

Continua a ser na Europa que a empresa, com uma faturação na ordem dos 60 milhões de euros em 2020, concentra a maioria da sua atividade. Além de uma filial na Itália, têm uma na Rússia, “onde temos produção para fornecer o mercado russo e alguns mercados”, refere António Oliveira. A partir de Esgueira, em Aveiro, desenvolvem os sistemas sanitários e colaboram com designers e arquitetos, como os dois prémios Pritzker portugueses. Souto Mouro concebeu em 2001 a placa de comando de autoclismo SM15, com as dimensões do típico azulejo português (15x15cm), Álvaro Siza criou em 2014 Trump, inspirada no jazz.

Por esta altura, o filho do gestor, que também se chama António, também trabalha na empresa. A OLI mantém-se uma empresa familiar, mas 50% do capital é italiano e o conselho de administração reflete-o. Três administradores são da família Oliveira, que detém a administração executiva, e dois representam Itália. A composição deste conselho serve, segundo António Oliveira, “também para manter um equilibro”. “Ajuda a que a governação seja feita por parâmetros de profissionalismo e não apenas de dinastia ou de família”, diz.

Ser uma empresa familiar tem “vantagem” e “desvantagem”, nota o gestor. “A moeda tem duas faces”. E, no seu caso, considera as mais-valias superam as contrariedades. “Naturalmente tem de haver regras na governance. Tem de haver garantia de que as pessoas têm condições de estar à frente da empresa”, defende.

Em 2020, com a pandemia, os números do primeiro semestre recuaram. “Não recorremos ao lay off, mas chegámos ao final do primeiro semestre atrás dos valores de 2019. No segundo semestre, recuperámos a faturação e chegámos aos mesmos valores [do ano anterior, 2019]. Houve perda em França, Itália e Espanha, mas houve crescimento na Europa central e de leste, o que compensou a perda da Europa do sul. Complicado foi, mas acabamos por no final do ano fizemos os mesmos números de 2019.”

Tudo somado, diz, “o que trouxemos foi melhor qualidade do que havia no mercado, produtos mais atuais, um serviço melhor e muito trabalho. Na altura, não estávamos sozinhos, mas os concorrentes da altura já não existem, alguma coisa teremos feito de bom e melhor e, para já, a empresa está de boa saúde”, avalia o finalista do prémio Entrepreneur of the Year. “Continuamos a trabalhar para mais conforto, redução do consumo de água – hoje o mercado está muito sensível e valoriza estas soluções.”

Para este ano, “o que temos previsto é um crescimento de 10% em relação ao ano passado, mais mercados, novos clientes e mais produtos”.

“Ser finalista é uma honra para mim”

Finalista do prémio EY Entrepreneur of the Year, António Oliveira diz que não contava estar neste lote. “Estou agradavelmente surpreendido. Só o facto de ser finalista é uma honra para mim, para a família e para a empresa”.

Considerado o mais antigo prémio de empreendedorismo a nível global, a entrega do galardão começou nos EUA em 1986. Seguiram-se edições regionais e nacionais nos mercados onde a EY opera. Atualmente é organizado em 145 cidades e mais de 60 países. Anualmente, 10 mil candidaturas são analisadas.Entre os vencedores estão gestores Michael Dell (Dell Computers), Jeff Bezos (Amazon), Jeff Weiner (LinkedIn) ou Serguei Brin/Larry Page (Google). Gui Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, é um dos vencedores do troféu global.

Entregue a cada dois anos, em Portugal esta será a 8.ª edição do prémio. Entre os finalistas do júri liderado António Gomes Mota estão, além de António Oliveira (OLI), António Carlos Rodrigues (Casais), Carlos Mendes Gonçalves (Mendes Gonçalves), Guy Villax (Hovione) e Rupert Symington (Symington).

O vencedor, que representará Portugal no EY World Entrepreneur of the Year, será conhecido em abril e junta-se a Belmiro Azevedo (Sonae), Carlos Moreira da Silva (BA) e António Amorim (Corticeira Amorim), distinguidos em anos anteriores.

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