Inquérito termina de forma abrupta e insólita. Vasconcellos não admitiu ter dívidas e foi acusado de “calotes”
Presidente da comissão de inquérito ao Novo Banco acabou com audição de Nuno Vasconcellos menos de uma hora depois do início. "É claro que a sua única preocupação é construir a sua defesa".
E ao fim de 50 minutos acabou de forma abrupta a audição a Nuno Vasconcellos, da Ongoing, que deixou dívidas de 600 milhões no Novo Banco. A comissão de inquérito recusou ouvir o depoimento do empresário que não admitiu ter dívidas e foi acusado de “calotes”. A audição vai ficar para a história.
“É claro, de forma pública e notória, que o senhor se recusa sistematicamente e sem explicações plausíveis a admitir que seja titular de qualquer dívida. Surge igualmente claro que não responde a nenhuma pergunta de forma construtiva. E, por último, resulta ainda claro que a sua única preocupação é construir a sua defesa. Nestes termos, em nome da dignidade dos trabalhos desta comissão, eu e todos os deputados entendemos dar por terminada a audição. E por isso está encerrada esta audição”, disse Fernando Negrão, presidente da comissão de inquérito ao Novo Banco.
Os últimos 5 minutos da audição
Eis os últimos minutos de uma audição inédita, em que foram protagonistas Nuno Vasconcellos, a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua e o presidente da comissão, Fernando Negrão:
Nuno Vasconcellos: “Se existe algum culpado ou culpados, que se encontrem esses culpados e sejam repreendidos pela lei”
Mariana Mortágua: “O dr. Nuno Vasconcellos ajudou Ricardo Salgado a rebentar com o BES e parte da economia portuguesa…”
Nuno Vasconcellos: “Isso é uma acusação, senhora deputada!”
Mariana Mortágua: “É uma acusação e eu quero acabá-la! Deixou um calote no Novo Banco de 600 milhões e tem o desplante de vir aqui falar do alto da sua moral sobre a crise e os governos! Já percebi que não está aqui para nos ajudar nem para esclarecer nada. Por mim acabei a intervenção e não pretendo fazer mais nenhuma pergunta, nem dar-lhe qualquer tempo de antena ou palco para vir aqui defender a versão que nos apresentou.
Nuno Vasconcellos: “Senhora deputada, desculpe lá, mas não tem o direito de falar num tom acusatório comigo, estou aqui como convidado e não aceito essas acusações. A senhora deputada prove aquilo que está a falar!”
E foi neste momento em que Fernando Negrão cortou a palavra para colocar um ponto final na audição.
“Quem tem dívidas é a Ongoing!”
A audição de Nuno Vasconcellos era aguardada com expectativa tendo em conta que a Ongoing é um dos grandes devedores do Novo Banco.
O empresário está a viver há mais de uma década no Brasil, onde tem vários negócios. O seu grupo em Portugal — que entretanto foi para a insolvência em 2016 — é responsável por dívidas de 605 milhões de euros junto do Novo Banco e que o banco dá como perdidos.
Vasconcellos por várias vezes recusou admitir esses financiamentos. “Essa dívida foi provisionada. Quem tem de pagar é a Ongoing, que tinha contrato no BES“. “A pergunta foi feita no pessoal, mas é a Ongoing que tem de pagar“. “Quem tem dívidas é a Ongoing”. Foram estas as respostas dadas pelo empresário à única deputada que teve oportunidade de colocar questões na audição.
O empresário também disse que essas dívidas “tinham ativos garantidos”. “Havia ações da PT, havia um depósito de 70 milhões de euros, ativos imobiliários, ativos imobiliários que eu prestei adicionalmente. Todos esses ativos em finais de 2013 estavam avaliados em mais de mil milhões de euros”.
Nuno Vasconcellos explicou que deixou de ser responsável pelos destinos da Ongoing a partir de 2016, quando entrou em processo de insolvência. “A empresa tem um gestor de falência. Eu não sei se os ativos foram vendidos da forma mais correta, eu acho que não. “Não consigo entender o que foi feito com esses ativos. Muitos desses ativos continuam no Novo Banco”.
“Mas como vai pagar?”, questionou um e outra vez a deputada Mariana Mortágua. “É perguntar a quem lá está, a quem fez a gestão da falência”, respondeu Vasconcellos.
(Notícia atualizada às 17h28)
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