BRANDS' ECOSEGUROS Seguros de habitação: a franquia
Da próxima vez que rever o seu seguro de habitação, invista algum tempo a garantir que o mesmo é adequado ao que tem e quer proteger, aconselha Rui Ferraz, diretor comercial da Innovarisk.
A questão que mais frequentemente me colocam sobre seguros de habitação para Altos Patrimónios tem a ver com a franquia que habitualmente propomos para as coberturas de Edifício e Recheio normal (por norma, 1000€).
A segunda tem a ver com o desconto que podemos aplicar a este tipo de clientes já que a perceção é que capitais mais altos e clientes de renome devem ter uma tarifa especial.
Curiosamente, estas duas perguntas têm mais a ver uma com a outra do que podemos imaginar à primeira vista.
Eu explico.
Existe uma tendência para analisar os clientes como sendo todos iguais, e tendo todos as mesmas necessidades. Isto decorre muito da uniformização da oferta de seguros por parte do mercado e entende-se: afinal, se o seguro for massificado e acomodar 75 a 80% do universo de clientes, então também terá o efeito da redução de custo do produzir em série.
"Dada maior importância à questão da obrigação de ter o seguro que à própria necessidade de o contratar, o tempo despendido a garantir que o mesmo é adequado ao risco é muito pequeno, o que leva a que muitas vezes estejamos mal protegidos, com capitais, e coberturas, sacrificados para garantir um prémio competitivo.”
Para esta franja de clientes, onde por exemplo me incluo, um sinistro de 500€ faz alguma mossa. E, por isso, vemos que a franquia normal oferecida tende a ser muito baixa ou, em alguns casos, 0. Isto é visto como um grande benefício para o cliente.
No entanto, e ao mesmo tempo, existe uma preocupação com o prémio do seguro. Faz algum sentido também: se o seguro é cada vez mais genérico, o preço torna-se um fator mais importante que a cobertura na análise a uma proposta.
Isto é uma questão mais cultural (e de literacia financeira) que propriamente racional: o seguro de habitação é visto por muitos como algo obrigatório do ponto de vista legal (ou do empréstimo bancário), e uma chatice, e não o que devia ser: uma proteção efetiva do nosso património, acumulado e investido ao longo de anos. Como tal, tem de ser fácil, barato e de uso regular para compensar o que se paga.
E isso não é um seguro.
"De facto, uma das maiores vítimas da pressa em despachar a questão do seguro, ou de tentar garantir um prémio baixo, é o capital seguro. Por norma, indicamos um valor mental, que pensamos estar perto do real (devidamente arredondado para baixo), e que costuma estar bem longe da verdade.”
Dada maior importância à questão da obrigação de ter o seguro que à própria necessidade de o contratar, o tempo despendido a garantir que o mesmo é adequado ao risco é muito pequeno, o que leva a que muitas vezes estejamos mal protegidos, com capitais, e coberturas, sacrificados para garantir um prémio competitivo.
Sem investir tempo na proteção dos nossos bens é praticamente impossível ter um seguro adequado às nossas necessidades. Quer ao nível do capital necessário quer ao nível das coberturas que nos garantem que, se algo acontecer, podemos rapidamente repor o nosso nível e estilo de vida.
Ou seja, o genérico é bom e barato, mas não resolve tudo.
De facto, uma das maiores vítimas da pressa em despachar a questão do seguro, ou de tentar garantir um prémio baixo, é o capital seguro. Por norma, indicamos um valor mental, que pensamos estar perto do real (devidamente arredondado para baixo), e que costuma estar bem longe da verdade. Se não investirmos tempo numa correta contabilização do que temos em casa (existem coisas que sempre nos esquecemos se não olhamos para elas, como a roupa, os eletrodomésticos, os cortinados, os brinquedos, entre outros), e procurarmos o posterior aconselhamento correto por parte de um intermediário ou de uma seguradora sobre a cobertura mais adequada ao nosso caso, o nosso seguro vai certamente sair demasiado caro quando mais dele precisarmos, independentemente do barato que foi contratá-lo.
Assim como a qualidade de um seguro não se mede pelo valor do seu prémio, o preço também não: o seu verdadeiro custo só pode ser calculado no momento do sinistro.
E, se nesse momento, o seguro não responde corretamente e não nos garante um regresso rápido ao nosso anterior estilo de vida, deixando-nos um sabor amargo na boca, então saiu caro, por muito baixo que tenha sido o prémio pago por ele.
Se, por outro lado, tudo corre bem e somos bem tratados, e rapidamente ressarcidos, então o preço pago foi certamente barato.
"uma franquia mais alta pode efetivamente garantir uma melhor cobertura que uma franquia mais baixa naqueles sinistros que realmente importam. E pode garantir que, mesmo com esta cobertura e capitais mais adequados, o prémio pago é comparativamente mais baixo.”
No entanto, isto não quer dizer que tenhamos de pagar um prémio o mais alto possível para ter uma boa cobertura em caso de um sinistro grave. E é aqui que entra a malfadada franquia.
Esta, que não é mais que um valor de copagamento em caso de sinistro, e que pode assumir uma forma fixa ou variável do valor do sinistro ou do capital seguro, é um instrumento poucas vezes utilizado com essa função mas que pode ser utilizado para reduzir o prémio pago.
Também é fácil de saber porquê: se a seguradora souber que o cliente está disposto a não participar sinistros abaixo de um determinado valor de franquia, ou pelo menos de não ser ressarcido abaixo desse valor tornando-se efetivamente corresponsável pelo risco, então compensará essa assunção de responsabilidade cobrando um prémio mais baixo.
Ou seja, uma franquia mais alta pode efetivamente garantir uma melhor cobertura que uma franquia mais baixa naqueles sinistros que realmente importam. E pode garantir que, mesmo com esta cobertura e capitais mais adequados, o prémio pago é comparativamente mais baixo.
E uma pechincha no momento do sinistro.
Da próxima vez que rever o seu seguro de habitação, invista algum tempo a garantir que o mesmo é adequado ao que tem e quer proteger. Que o mesmo é o que realmente precisa.
O prémio, se precisar de ser ajustado, deve fazê-lo prescindindo do que o afetará menos: o pequeno sinistro, que se calhar nunca participaria de qualquer maneira.
E, desta forma, o barato não sairá necessariamente caro.
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