Portugueses a viver na Alemanha obrigados a alterar férias
Alemanha colocou Portugal na "lista vermelha" de viagens, obrigando quem vive em território alemão a fazer quarentena no regresso de uma viagem a Portugal.
Muitos portugueses a residir na Alemanha estão a cancelar ou a alterar as viagens planeadas ao país de origem, depois de o Governo de Berlim ter decidido colocar Portugal na “lista vermelha”.
As mensagens de tristeza, resignação e alguma confusão multiplicam-se na rede social Facebook. Depois de conhecida a decisão do Instituto Robert Koch, que obriga a uma quarentena de 14 dias para quem viaja de Portugal, são muitos os portugueses que estão a cancelar ou a alterar as férias. Portugal está classificado como uma área de variantes [do SARS-CoV-2] de preocupação, inicialmente durante duas semanas, o que faz da quarentena obrigatória, mesmo com teste negativo, comprovativo de vacina ou imunidade.
“É muito triste”, escreve Maria Relvas, que se vê “impedida de ver a família” este ano, sublinhando que alterar as férias vai ser praticamente impossível. Nicole Saraiva já tinha tudo planeado. Depois de no ano passado ter optado por não viajar a Portugal, vai ter de ficar novamente sem ver a família, apesar de já ter as duas doses da vacina. “Por causa do trabalho, não posso ficar duas semanas de quarentena”, lamentou.
A viver há cinco anos em Berlim, Ângela Fernandes conta à Lusa que tem voo marcado para Lisboa para 10 de julho, mas ainda não desmarcou. “Tenho esperança que as coisas possam mudar até lá (…) Ponho a hipótese de cancelar porque não posso fazer duas semanas de quarentena. O meu empregador diz que ao viajar para uma zona de risco vou por minha conta, é da minha responsabilidade, logo terei de lidar com as consequências, como dedução no salário”, explicou.
“Aqui em Berlim o desconfinamento chegou mais tarde que em Portugal, o que quer dizer que só agora começamos a ter uma pequena ideia de uma vida normal. Os efeitos psicológicos de voltar outra vez atrás são pesados”, revelou.
Com um casamento marcado para dia 3 de julho em Ferreira do Zêzere, Sofia Aleixo vai ter de alterar tudo, outra vez. Primeiro, mudou o voo de ida, que estava planeado para Lisboa. Agora já não há mudança possível. “Já tinha tudo marcado e planeado, e não vou poder estar num acontecimento que não volta a acontecer”, lamentou, em declarações à Lusa.
Rui Couto, a viver em Munique, costuma ir a Portugal todos os verões. Não vê a família há quase ano, e assim vai continuar. “Em março deste ano decidi trocar de emprego aqui na Alemanha (…) Como também vou trocar de apartamento, teria de voltar até dia 14 de julho (…) Com as novas regras, e apesar de já estar vacinado, teria de fazer uma quarentena a iniciar a 5 de julho, o que me impediria de tratar de tudo. Não tenho opção se não cancelar”, diz.
“Já não vejo a minha família há cerca de um ano, e agora finalmente estaríamos todos vacinados, mas a nova variante e as regras apertadas não me deixam outra hipótese que não seja adiar a reunião familiar mais uns meses”, acrescentou o português de Espinho.
Paulo Madeira tinha planeado três semanas de férias. Com a quarentena ficariam reduzidas a duas, o que “não compensa financeiramente”, admitiu à Lusa. “Confio nas decisões das autoridades alemãs, considero-as da máxima competência e se tiveram esta atitude é porque algo não está bem”, diz.
Para Filipa Sofia esta situação é “muito difícil e triste” porque Portugal passou de “bestial a besta numa semana”. Esta portuguesa vai cancelar a viagem para Lisboa já que os filhos, que frequentam a escola, não têm férias e não podem fazer quarentena de 14 dias.
Em declarações à agência Lusa, o conselheiro das comunidades portuguesas, Alfredo Stoffel, admitiu que terá também de cancelar as férias planeadas para Portugal, questionando-se sobre a vantagem de estar vacinado e fazer dois testes por semana. Tem recebido várias mensagens de “desapontamento, incredulidade e insegurança”.
A decisão entrará em vigor às 00:00 de terça-feira (29 de junho). Na sua origem estará o aumento da taxa de incidência de Portugal, que regista 137,5 casos por 100 mil habitantes.
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