AGCS aponta para aumento de sinistros de aviação na retoma pós-Covid

  • ECO Seguros
  • 15 Julho 2021

Allianz analisou 46 mil participações de sinistros na aviação entre 2016 e final de 2020, somando 14,5 mil milhões de euros. Após paragem ditada pela pandemia, prevê-se subida de sinistros no setor.

A indústria da aviação teve relativamente poucos pedidos de indemnização de seguro diretamente relacionados com a pandemia, excetuando “pequeno número de sinistros de responsabilidade, em que os passageiros processaram as companhias aéreas por cancelamentos/disrupções”, afirma um estudo da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS), também especialista em seguros no setor da aviação.

“A Covid-19 não deixou marca nos sinistros da aviação durante o último ano“, confirma Cristina Schoen, responsável global de Sinistros de Aviação na AGCS. “Como resultado da redução significativa das viagens comerciais das companhias aéreas durante a pandemia, assistimos a menos participações (…) do que teríamos durante um ano normal. No entanto, o setor dos seguros não esteve imune a grandes perdas durante a pandemia, com diferentes regiões a assistir a acidentes trágicos, aterragens de emergência e danos na fuselagem, para citar alguns”.

Segundo relatório divulgado pela AGCS, após análise a mais de 46 mil sinistros de aviação de 2016 até ao final do ano de 2020, por valor global aproximado de 14,5 mil milhões de euros, conclui-se que os incidentes de colisão representam mais de metade do valor de todas as reclamações. Outras causas de danos avultados incluem problemas em trabalhos de manutenção e avaria de maquinaria defeituosa.

Os incidentes de colisão representam mais de metade de todas os sinistros (52% em valor) e quase um terço por número (30%). Isto significa 13 896 incidentes de colisão/crashes na aviação resultantes em participações de sinistros nos últimos cinco anos.

À medida que as aeronaves voltam a rasgar os céus, o braço do grupo Allianz para grandes riscos e o setor corporate elabora cenário pós-pandemia aponta uma série de desafios e riscos relativamente aos quais, as companhias aéreas e a gestão de infraestruturas aeroportuárias estarão atentas.

Tendências e riscos pós-Covid 19

Voltar ao cockpit, descolar e manter os padrões de segurança que sempre caracterizaram a indústria aeronáutica e, em particular a aviação comercial, constituem desafios para a grande maioria dos pilotos, tripulantes de cabine e companhias aéreas que retomam atividade após muitos meses com os aviões no solo por causa da pandemia.

Segundo afirma o relatório Aviation Trends Post Covid-19, durante a longa paragem do setor por causa da pandemia, as companhias aéreas mostraram-se incansáveis na tarefa de manutenção das frotas e treino das tripulações, mas a reativação da indústria poderá confrontar-se com problemas de pilotos; incidentes de “raiva a bordo“; riscos de equipamento e mesmo infestações de insetos. Estes são alguns dos nove desafios e riscos para os quais o setor da aviação se deve preparar e que interessam às seguradoras, sustenta o estudo Allianz.

A falta de pilotos no setor constitui risco e merece alerta de médio e longo prazo. Estimando-se que a procura global supere 250 mil profissionais na próxima década, Dave Warfel, responsável regional para o setor da aviação na AGCS, sublinha: “Em países menos regulamentados, a escassez [de pilotos] pode levar a que operem aeronaves comerciais com qualificações limitadas e poucas horas em experiência de voo”. A fadiga dos pilotos “é também um risco conhecido entre os pilotos existentes que deve ser devidamente gerido”, alerta Warfel.

No ar, os incidentes com passageiros que têm episódios de raiva aérea são outra tendência e desafio apontado no estudo: num ano normal, há cerca de 150 relatos de incidentes com esses passageiros a bordo. Mas, só em junho de 2021, registaram-se 3 000 casos, “a maioria envolvendo passageiros que se recusam a usar uma máscara,” refere o documento da AGCS citando informação da FAA, agência norte-americana da aviação.

O panorama da aviação no período pós pandemia, com novas rotas de voo; nova geração de aeronaves traz vantagens mas também custos de reparação mais elevados. A perspetiva de manutenção de uma forte procura no setor de carga aérea implica desempenho humano exigente e prontidão operacional e de equipamento para descolagem da atividade.

Aviões que estiveram longo período parados em hangares, ou mesmo a céu aberto em plenas placas aeroportuárias expostos a tempestades de neve e granizo e até de furacões, também sofreram danos. A reativação destas frotas representa riscos, sobretudo para as companhias de menor dimensão ou com serviços de manutenção menos eficazes, assinala o documento.

No entanto, de acordo com a análise da seguradora global de Specialty, o impacto direto da crise causada pela Covid-19 no setor da aviação “é limitado”. As falhas de aterragem e os incidentes de queda nos aeroportos diminuíram, mas as grandes perdas devidas à inatividade continuaram.

Até à data, a indústria da aviação tem visto relativamente poucos pedidos de indemnização diretamente relacionados com a pandemia. Num pequeno número de processos de responsabilidade, passageiros reclamaram contra transportadoras por cancelamentos/atrasos de voos, recorda o documento. Com a retoma pós-pandemia espera-se que à medida que os passageiros voltam a embarcar, a dinâmica de sinistralidade acompanhe a tendência.

Quando a atividade retomar níveis pré-pandemia, “esperamos que o volume de sinistros aumente em conformidade,” antecipa Schoen na versão inglesa do relatório.

 

 

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