Não seríamos mais competitivos sem o Fórum para a Competitividade?
O Fórum para a Competitividade transformou-se numa associação tremendista, que se limita a dizer mal de tudo e de todos. O Fórum para a Competitividade transformou-se numa associação irrelevante.
Felizmente o associativismo empresarial em Portugal está bem de saúde e recomenda-se. Em maio, nasceu o Conselho Nacional das Confederações Patronais, que junta os patrões da agricultura, comércio, indústria, imobiliário e turismo. Esta organização chega com uma agenda pela positiva, de ajudar a “recuperar e a acelerar o desenvolvimento do país”.
Em junho nasceu a Business Roundtable Portugal, uma nova associação empresarial que quer colocar Portugal entre os 15 países europeus com maior PIB per capita. Esta espécie de think tank também traz uma agenda pela positiva: “Queremos um Portugal capaz de valorizar e qualificar os portugueses, apoiar a criação, desenvolvimento e a escala das nossas empresas e melhorar o desempenho do Estado como facilitador da atividade económica e de criação de riqueza para toda a sociedade”, sintetiza Vasco de Mello, um dos fundadores.
É importante que apareçam novas associações e grupos de pressão com ideias novas e pela positiva para que a representação dos empresários e dos patrões não fique nas mãos de associações retrógradas, catastrofistas, tremendistas e que pouco ou nenhum contributo trazem para a discussão sobre o desenvolvimento do país e das empresas.
É o caso do Fórum para a Competitividade, uma associação que nasceu na década de 90 com o relatório Porter, e que está transformada numa central de queixas irrelevante e que faz pouco jus ao nome. Na semana passada, num debate no Centro de Congressos de Lisboa, Luís Todo Bom, membro da direção do Fórum para a Competitividade, afirmou que só “um louco investe em Portugal”.
Felizmente que têm aparecido muitos “loucos”. Ainda vamos a meio do ano e o investimento direto estrangeiro apoiado pela Aicep está quase a igualar o melhor ano de sempre. No início deste mês, os “loucos” da Repsol anunciaram que vão investir 657 milhões em Sines para fabricar materiais poliméricos recicláveis. É o maior investimento industrial estrangeiro realizado em Portugal nos últimos dez anos. A estes “loucos” juntam-se outros igualmente “loucos” como a João de Deus e Filhos, a Rauschert, a Siemens Gamesa Renewable Energy Blades, a Tryba ou a Vila Galé Internacional. Um autêntico manicómio industrial.
Este membro da direção do Fórum para a Competitividade também criticou o nosso “fascínio provinciano por startups. Para mim, sempre foi um enigma, as startups não mexem o ponteiro. As empresas grandes é que inovam”. Este senhor nunca deve ter ouvido falar na Farfetch, a startup de roupa de luxo fundada por José Neves. Ou na Talkdesk, na OutSystems ou na Feedzai, empresas que há poucos anos eram startups e que hoje todas juntas valem mais de 30 mil milhões de dólares.
Esta visão retrógrada e empoeirada do Fórum para a Competitividade não é só de Luís Todo Bom. O próprio presidente deste Fórum, Pedro Ferraz da Costa, a cada entrevista que dá, anuncia o fim do mundo e faz declarações polémicas e bombásticas a propósito da economia e das empresas. Tive o cuidado de pesquisar as últimas entrevistas dadas por Pedro Ferraz da Costa e este é o resultado:
13 de outubro de 2016, no Jornal de Negócios: “Temos gestores fracos e bem pagos.”
20 de outubro de 2016, no Público: “Porque é que somos os piores dos piores?”
23 fevereiro de 2017, no Jornal de Negócios: “Tenho pena que a troika tenha ido embora.”
16 de fevereiro de 2018, no jornal i: “As empresas não conseguem contratar porque as pessoas não querem trabalhar.”
8 março de 2019, no jornal i: “Os nossos salários são baixos? Muitas pessoas até ganham mais do que deviam.”
26 de setembro de 2020, no Dinheiro Vivo/TSF: “Subir o salário mínimo agora é uma ideia criminosa.”
7 outubro de 2020, na Agência Lusa: “Portugal não tem condições para acudir a todos. As pessoas vão ter de se fazer à vida.”
5 de fevereiro de 2021, no Jornal Económico: “Uma parte importante do tecido empresarial vai morrer.”
8 de maio de 2021, no Expresso: “Portugal é um país muito decadente.”
12 de julho de 2021, no Diário de Notícias a propósito do teletrabalho: “Na Administração Pública, já trabalhavam muito pouco e agora desabituaram-se disso.”
É esta a visão que o Fórum para a Competitividade tem do país: gestores fracos e bem pagos, que gerem empresas condenadas a morrer, que empregam trabalhadores que não merecem o que ganham e que não querem trabalhar, atendidos por funcionário públicos preguiçosos e que se desabituaram a trabalhar, num país provinciano e decadente, volta e meia visitado por loucos que querem cá investir.
Chamem-lhe Fórum do Apocalipse, Fórum Tremendista, Fórum Catastrofista, Fórum do Velho do Restelo. Mas não lhe chamem Fórum para a Competitividade.
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