Trump pode travar a recuperação da Volkswagen
Quase 60% das viaturas da marca alemã vendidas nos Estados Unidos no último ano foram produzidas no México.
Depois de a empresa alemã já ter visto a sua imagem lesada pelo “escândalo diesel“ — tendo tido de pagar mais de 23 mil milhões de euros para a limpar junto do governo dos Estados Unidos da América — agora pode voltar a ficar em mãos lençóis. É que dois dos seus modelos mais populares, o Jetta e o Beetle, são maioritariamente produzidos no México, pelo que a taxa sobre as importações que Trump quer impor virá dificultar-lhes o futuro.
A dita taxa pode chegar aos 35%, algo que Fred Emich, diretor-geral da concessionária da Volkswagen em Denver, no estado do Colorado, considera que seria “catastrófico”. Os automóveis da empresa já custam dois a três mil euros a mais que os de marcas concorrentes como Honda, Nissan ou Toyota, o que torna difícil a Emich imaginar como é que os clientes aceitariam pagar ainda mais pelos dois modelos referidos.
Durante anos, a Volkswagen manteve-se aquém das necessidades dos norte-americanos, com carros demasiado pequenos ou demasiado caros para eles. O escândalo das emissões em automóveis a diesel piorou a sua imagem aos olhos do governo dos Estados Unidos, mas a gota de água pode chegar agora, devido à produção dos seus automóveis em fábricas mexicanas e da venda posterior aos norte-americanos. Ao todo, perto de 60% do total das viaturas são fabricadas a sul da fronteira, mais precisamente na fábrica em Plueba.
Inaugurada em 1960 de propósito para a produção dos Beetles — o modelo do tão amado Herbie The Love Bug –, a fábrica já representa as segundas maiores instalações da marca, além das na sua cidade-natal da empresa, Wolfsburg, na Alemanha. Por ano, são produzidos cerca de 600 mil Jeetas, Golfs e Beetles. Em contraste, a única fábrica da marca localizada nos Estados Unidos foi pensada para ter capacidade de produzir cerca de 150 mil veículos por ano, embora uma expansão mais recente, para adicionar a produção de 30 mil SUV do modelo Atlas, tenha aumentado essa capacidade anual para 250 mil automóveis.
Mas Trump já ameaçou que quer taxar todas as marcas automóveis que produzam os seus veículos no México e depois os venham vender ao seu país. Também já avançou que vai rever a taxa de importações na fronteira.
Estas imposições não vão afetar tanto outras marcas, que terão melhores possibilidades de ajustarem a sua produção e não perderem demasiado dinheiro. A Nissan, por exemplo, só no último ano fabricou 850 mil veículos no México, sendo a maior produtora localizada nesse país, mas, ao mesmo tempo, construiu um milhão de automóveis seus nas quatro fábricas que tem nos Estados Unidos. Não terá, por isso, uma quebra tão acentuada nas vendas com as medidas que Trump quer impor. Também as alemãs BMW e Daimler se conseguirão aguentar melhor, já que ambas têm operações de grande escala nos Estados Unidos – a Daimler detém as carrinhas Freightliner e produz os carros da Mercedes-Benz no estado do Alabama, enquanto a maior fábrica da BMW a nível mundial fica na Carolina do Sul.
Em maus lençóis com o governo norte-americano
A Volkswagen é, de entre todas as gigantes automóveis, a que tem os escritórios mais próximos de Washington D. C.. Mas é também a que tem menor influência junto do governo, alertou Dave Sullivan, analista da AutoPacific. “Eles não têm capacidade de pedir qualquer tipo de favores ou ajuda ao governo neste momento”.
Mas a empresa não está ainda completamente de rastos. Pode socorrer-se das suas instalações em Chattanooga, no Tennesse, que agora produz o modelo Atlas além do Passat, já incluídos no plano de expansão de 900 mil milhões de dólares. E também pode recorrer-se da sua longa relação com a história automóvel dos Estados Unidos, com os norte-americanos a adorarem o Herbie e a carrinha da era hippie Microbus.
“O grupo Volkswagen faz parte da cultura americana há seis décadas”, defendeu Jeannine Ginivan, assessora da companhia nas unidades dos Estados Unidos. “Estamos ansiosos para começar a trabalhar com a nova administração e com o Congresso porque queremos aumentar a nossa presença no mercado norte-americano”.
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