“Uber das lavandarias” cresceu com a pandemia. Nasceu em Lisboa e agora chega ao Porto
Dona Rosa nasceu com a pandemia. Tem crescido para os concelhos à volta de Lisboa, mas agora quer expandir-se para o Porto. Mais tarde, quer entregar roupa lavada além fronteiras.
A Dona Rosa podia ser sua avó, tia, ou a vizinha simpática que lhe dá as melhores dicas sobre como tirar nódoas complicadas da roupa. Podia ser todas essas coisas mas, neste caso, a Dona Rosa é a alcunha que Tomás Noronha deu ao amigo Rodrigo Ruiz, quando ambos eram adolescentes. Anos depois, ambos ressuscitaram a velha alcunha para dar nome ao projeto que estavam a formar: a app Dona Rosa, de entrega e recolha de roupa para lavandaria, engomadoria e limpeza a seco que, agora, planeia expandir-se para o Porto.
Já lhe chamam o “uber das lavandarias”. A ideia surgiu em 2019, numa conversa entre amigos, com o objetivo de “melhorar um setor que estava bastante imutável” como o das lavandarias, “que nunca foram evoluindo muito tecnologicamente”, afirmam os criadores da startup, em entrevista ao ECO. “Um dia, um amigo nosso disse que a forma como as lavandarias faziam as entregas e recolhas [de roupa ao domicílio] não era compatível com a maior parte dos horários das pessoas porque só faziam entregas um dia por semana até às 19h00 e, quem chegasse mais tarde, só na semana seguinte tinha direito a que a lavandaria voltasse a passar lá”, explica Tomás Noronha.
Assim nasceu a ideia de negócio: uma aplicação que permite aos clientes encomendarem o serviço que desejam e agendarem o dia e hora para a entrega e recolha da roupa ao domicílio. Após algum tempo de ponderação sobre o nome da app, Dona Rosa pareceu o ideal: “Tem uma história por de trás, é um nome tradicionalmente português e que transmite também cheiro e limpeza”, diz Rodrigo Ruiz.
O serviço existe desde janeiro de 2020 e funciona das 16h00 à meia-noite, tentando ser “compatível com as horas de trabalho das pessoas” que trabalham até mais tarde e, “na verdade, eventualmente serão aqueles que terão menos tempo para cuidar da própria roupa”, refere Tomás. O valor mínimo para recolha é de 20 euros, mas, segundo a empresa, o valor médio por encomenda ronda os 36 euros. O ECO questionou a empresa sobre os valores de faturação e resultado líquido de 2020, mas a startup tem por política não revelar esses números.
Agendada a recolha da roupa e escolhido o serviço pretendido, a Dona Rosa entrega-a a lavandarias locais, numa lógica de outsourcing do serviço. “Ou entramos em contacto com lavandarias para saberem se estão interessadas ou então as próprias lavandarias é que entram em contacto connosco. Todos os meses recebemos pedidos de lavandarias que gostavam de fazer parceria”, explica Tomás. Para trabalhar com as lavandarias, a empresa apresenta o preçário e exige requisitos de controlo de qualidade, como a filmagem de todas as peças de cada cliente, para que nada se perca e tudo seja localizado. Quando a encomenda estiver pronta, o cliente agenda a entrega. E pode até acompanhar o percurso da sua roupa a partir da aplicação.
De Lisboa para o Porto. Depois, para o resto do mundo
Inicialmente, a Dona Rosa só funcionava em Lisboa, do Parque das Nações até Belém e Restelo. Hoje, já se encontra em Lisboa, Cascais, Oeiras, Amadora, Odivelas, Loures, Almada e Sintra. Os criadores da startup querem expandir para zona Norte, principalmente para o Porto, no último trimestre deste ano.
“A nossa expansão para o Porto vai requerer que nós façamos a gestão à distância e tenhamos uma equipa local. Queremos fazer parcerias e temos muitas lavandarias do Porto a entrar em contacto connosco e queremos ver quais é que são as melhores opções para expandirmos para lá”, explica Rodrigo. Além do Porto, a aplicação já tem “vários registos” de moradores em Coimbra, Braga, Leiria e Évora. “É muito importante para nós que as pessoas se registem na aplicação para sabermos quais os códigos postais que devemos abranger a seguir”, explica Rodrigo.
A equipa, composta por oito elementos incluindo os criadores, não descarta a hipótese de expandir a app além fronteiras. “Esta expansão para o Porto é uma pequena escala daquilo que queremos fazer a nível internacional”, explica Tomás, “o modelo que vamos fazer no Porto terá de ser aplicado por vários países ou várias cidades fora de Portugal”.
Esta ambição tomou ainda mais forma quando a startup foi uma das escolhidas para estar presente na WebSummit, em 2020. Os criadores concordam que esta experiência foi “ótima” e permitiu que aprendessem “quais são os passos que uma empresa nacional deve ter em conta quando quer escalar para o mercado internacional”. “Muitos dos contactos que fizemos acabaram por nos dizer que o nosso negócio era muito interessante, que seria mais interessante quando conseguíssemos torná-lo internacional porque o mercado português é muito pequeno para qualquer investidor, seja de cá, seja estrangeiro”, diz Tomás.
Montar um negócio em tempos de pandemia
Tendo começado no início do ano passado, Tomás e Rodrigo não conhecem outra realidade do que a de começar uma empresa durante o novo coronavírus. Remando contra a maré do que tem sido a situação da generalidade dos negócios afetados pela Covid-19, a empresa tem crescido, tendo tido apenas dois meses de estabilidade, durante ano e meio de funcionamento. No último mês de julho, a aplicação ganhou 200 novos utilizadores. Atualmente, a app conta com cerca de 9.000 clientes registados e sensivelmente 1.500 já usufruíram dos seus serviços.
"A nossa expansão para o Porto vai requerer que nós façamos a gestão à distância e tenhamos uma equipa local. Queremos fazer parcerias e temos muitas lavandarias do Porto a entrar em contacto connosco e queremos ver quais é que são as melhores opções para expandirmos para lá.”
Ainda assim, a empresa perdeu alguns acordos que conseguira fechar com restaurantes, cabeleireiros, ginásios, entre outros negócios antes do Sars-CoV-2 entrar em Portugal, devido às medidas impostas para travar a transmissão da Covid-19, que levaram muitos destes estabelecimentos a encerrarem durante os confinamentos. Por esse motivo, alguns acordos só regressaram em meados de 2021. Para além disso, como o público-alvo são famílias em teletrabalho, alguns serviços não foram tão usados, como a limpeza a seco de roupa executiva.
Mais do que um desafio, a Dona Rosa viu a pandemia como uma oportunidade de ajudar. A empresa criou duas campanhas para profissionais de saúde, no início da pandemia e um ano depois, para que quem esteve na linha da frente do combate ao novo coronavírus usufruísse de um plafond para usar no tratamento da sua roupa. “Mais do que qualquer pessoa, [os profissionais de saúde] tiveram o seu tempo reduzido a quase nada”, explica Tomás.
Mas a startup não se ficou por aqui. Os clientes podem juntar à roupa para lavar, brinquedos, utensílios ou outra roupa que já não usam para a Dona Rosa entregar na associação Dona Ajuda. Entre as várias campanhas e vertentes da instituição lisboeta, a Dona Ajuda tem uma loja onde vende artigos em segunda mão, em bom estado e a preços baixos, desde roupa a eletrodomésticos doados. O dinheiro reverte para a ajuda aos necessitados mas, quem se dirigir à loja e estiver referenciado, pode levar o que necessita de forma gratuita. A campanha “tem tido muita adesão”, referem, “temos tido imensas coisas que os nossos clientes nos dão para deixarmos lá”.
Para além de uma preocupação social, a empresa tenta ser sustentável da forma que sabe e consegue. A startup substituiu os sacos de plástico por reutilizáveis, reduziu a utilização de papel, consciencializa os clientes a escolherem a opção de não receberem a sua roupa com plástico e exige que as lavandarias utilizem produtos eco-friendly nas limpezas.
Para além disso, a startup otimizou as rotas de entrega, isto é, passou a ter a opção de escolha de um horário alargado de quatro horas, em vez de apenas uma hora, quando o cliente tiver essa disponibilidade, para reduzir as viagens e, assim, as emissões de CO2. “Somos uma startup que acabou de começar e ainda não nos podemos dar ao luxo de fazermos grandes eventos, mas, o que pudermos, nós tentamos fazer para ajudar”.
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