Salas de aula do futuro estão a crescer em Portugal
A tecnologia abre novas possibilidades de aprendizagem, que já estão a ser exploradas em Portugal, através de programas como o iClass, no Colégio Vasco da Gama, e outras iniciativas.
Não precisamos de grandes cenários futuristas para imaginar a escola de amanhã. A revolução digital no ensino está em curso e são diversos os exemplos que vão surgindo nas escolas, nas empresas que se dedicam a software educativo e entre professores. Inspiradas no projeto Future Classroom Lab, desenvolvido pela European Schoolnet, as “salas de aula do futuro” têm vindo a ser implementadas de modo crescente em Portugal. Tecnologia e formação de docentes constituem os pilares dos novos ambientes de aprendizagem centrados no aluno, pensados e desenhados para se aprender de forma ativa e visando o desenvolvimento de competências globais.
A pandemia veio acelerar o processo, com as telecomunicações a garantirem a difusão e a conectividade. Só em fevereiro último, no segundo grande confinamento, 1,2 milhões de estudantes portugueses, do ensino básico ao secundário, assistiam às aulas em modo remoto, apoiados por todos os métodos tecnológicos ao dispor. Porém, nem todos as crianças do mundo usufruíram das mesmas condições.
Segundo um relatório da Unicef, a pandemia de Covid 19 veio pôr a nu o contraste entre aqueles que têm acesso a ferramentas online e os que as não têm. O relatório mostra que cerca de 2,2 mil milhões, o equivalente a dois terços, de crianças e jovens, não têm internet em casa. Isto dificultou o estudo em e-learning durante o confinamento, que foi inacessível a 31% das crianças e jovens em idade escolar. Já em Portugal, os dados do EduStat, revelam que, em 2020, cerca de 85% dos agregados familiares tinham computador com ligação à internet. Isto facilitou, em parte, a rápida transição da escola presencial para o ensino remoto, mas muito ainda está por fazer.
Os desafios e constrangimentos foram vários, mas com grandes oportunidades de melhoria. O Governo tem vindo a dotar escolas e alunos de mais equipamentos e ferramentas e as novas tecnologias prometem revolucionar, ainda mais, um ensino em mudança. A tecnologia 5G é uma delas. A velocidade e a estabilidade que confere na ligação à internet respondem às necessidades desses novos ambientes educativos, que se querem rápidos e seguros. Por outro lado, o aumento do fluxo dos dados que fomenta, poderá facilitar novas maneiras de comunicar e de aprender assente em ambientes 3D. A entrada massiva da realidade aumentada, que ajudará a desenhar novos conteúdos e experiências virtuais e interativas, e a realidade mista poderão tornar-se algo muito interessante e a própria sala de aula poderá ser transportada, no seu todo, para uma sala de aula virtual 3D.
Quando a Internet das Coisas (IoT) estiver completamente instalada, vai ser possível otimizar os espaços escolares, como reduzir os consumos de energia e agilizar processos como a marcação de faltas e outros. O big data gerado por toda a entrada de informação nos sistemas possibilitará personalizar aprendizagens, tornando-as mais eficazes, e a Inteligência Artificial (IA), que inclui a Aprendizagem Automática (Machine Learning) e a Aprendizagem Profunda (Deep Learning), poderá potenciar contextos de ensino mais ricos.
A inovação tecnológica já está a acontecer
A inovação tecnológica no ensino já está em marcha e existem bons exemplos em Portugal. Vítor Bastos é professor de Geografia no Colégio Vasco da Gama, em Meleças, e formador de Capacitação Digital de Docentes. No verão de 2016, aceitou o desafio do diretor desta escola do concelho de Sintra para desenvolver um projeto educativo que melhorasse as aprendizagens dos alunos e desenvolvesse competências para fazer face às exigências do século XXI. Assim nasceu o iClass, um programa assente em tecnologias e inovação pedagógica.
Com a devida formação sobre ferramentas digitais e o seu uso pedagógico, paralelamente com o dotar de todos os intervenientes com os suportes necessários, como os computadores/tablets e as bandas largas para acesso à internet, poderemos dar um passo gigantesco rumo à ‘escola do futuro’.
Após um aturado trabalho colaborativo entre os professores, uma turma-piloto estava pronta a entrar em ação ainda em setembro desse ano. Os resultados foram tão promissores que depressa foi alargado a todas as turmas do 3.º Ciclo. Cinco anos depois, continua a ser um sucesso. Para este docente, a chave da transição digital está dentro de cada professor. “Na sua curiosidade de descobrir, na sua vontade de mudar e de se atualizar através de formação. Sem essa vontade, não há transição. Com a devida formação sobre ferramentas digitais e o seu uso pedagógico, paralelamente com o dotar de todos os intervenientes com os suportes necessários, como os computadores/tablets e as bandas largas para acesso à internet, poderemos dar um passo gigantesco rumo à ‘escola do futuro’”.
Esta “escola do futuro” já é o presente em inúmeros estabelecimentos de ensino portugueses, mas o objetivo é que progrida ainda mais. No Plano de Ação para a Transição Digital, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/2020, encontramos algumas iniciativas fundamentais para a transformação da escola industrial do passado na escola do futuro, como a disponibilização dos equipamentos necessários, o acesso a recursos educativos digitais de qualidade e a ferramentas de colaboração em ambientes digitais e a aposta na capacitação digital de docentes, o que permite que os professores adquiram as competências necessárias para a transformação digital plena.
Ferramentas digitais essenciais
Há quatro tipos de ferramentas digitais que este professor do 3.º Ciclo considera importantes, nomeadamente as de comunicação, avaliação, armazenamento e as de suporte às apresentações. Elege o Teams como a melhor ferramenta de comunicação e colaboração, pois possibilita, ao mesmo tempo, integrar outras ferramentas da Microsoft, como o Forms, para avaliação. Além disso, permite construir rubricas, que são um suporte fundamental para uma avaliação formativa, integrar apresentações em PowerPoint e também ferramentas externas de suporte à aprendizagem, como a Escola Virtual. Os dados são armazenados na nuvem. Nunca se perdem e estão sempre disponíveis.
“Quando integrado com o OneNote, temos um ambiente digital de suporte à aprendizagem, quanto a mim, perfeito, pois os alunos reúnem num único espaço digital, o caderno diário (OneNote), os recursos digitais de suporte à aprendizagem (produzidos pelo professor ou outros colegas, ou ainda pelas editoras) e os suportes para a avaliação, sejam eles formulários, rubricas, portefólios, sites, fóruns, testes mais ‘formais’, entre outros”, explica.
Transformação tecnológica nas escolas acelera
A pandemia exigiu que professores e estudantes se adaptassem a novas formas de ensino e aprendizagem muito rapidamente. O ensino à distância, suportado por tecnologia e telecomunicações, foi praticamente adotado de um dia para o outro. Modelos testados não havia e na maioria dos casos nem condições técnicas. O improviso imperou.
Alguns dos métodos e técnicas que os professores usaram durante a “aprendizagem remota de emergência” foram adaptados da sua utilização em aulas presenciais ou para apoiar estratégias de aprendizagem híbridas. Mas uma coisa é certa: a transformação digital nas escolas tem vindo a acelerar em resultado desta experiência.
Esta é a opinião da Promethean, organização especializada em soluções tecnológicas que tornam possível ambientes educativos mais dinâmicos, imersivos e motivadores, e que está a poucos dias de apresentar um estudo sobre o “Estado da Tecnologia na Educação 2020/21”. Com base nas conclusões retiradas do relatório, e num olhar mais amplo sobre a forma como as escolas continuam a utilizar tecnologias educacionais, a empresa prevê, num futuro próximo, um aumento de utilização das soluções baseadas na nuvem. Quer sejam utilizadas para planeamento e entrega de aulas/recursos ou em processos como o acompanhamento do progresso dos alunos, estas ferramentas facilitarão aos docentes a partilha de informação com os seus colegas e o acesso aos recursos de que necessitam, onde quer que estejam localizados.
Estamos também a antecipar um desejo crescente de tecnologias de sala de aula que possam apoiar os professores numa vasta gama de atividades. É o caso dos ecrãs interativos, que funcionam como o centro de ligação da sala de aula moderna.
“Estamos também a antecipar um desejo crescente de tecnologias de sala de aula que possam apoiar os professores numa vasta gama de atividades. É o caso dos ecrãs interativos, que funcionam como o centro de ligação da sala de aula moderna. A adoção de soluções interativas não é nova, mas irá certamente continuar nos próximos anos”, destaca Hugo Dantas, Head of Sales Portugal and Sub-Saharan Africa da Promethean.
O modelo híbrido de que tanto se fala
Os modelos de ensino acompanham as tendências da tecnologia e das circunstâncias e os híbridos são disso exemplo. Falamos de metodologias e estratégias diferenciadas que alternam a presença física com a digital, podendo trazer vantagens quando parte da turma está presente e a outra parte participa de forma remota. Exigem o recurso às novas tecnologias e são uma solução de futuro que pode ser útil no presente, a qual está a ser debatida entre as várias esferas da comunidade educativa.
Um movimento de apoio ao e-learning emergiu no Facebook logo em março de 2020, com o primeiro confinamento, para partilhar informação sobre o Ensino Remoto de Emergência. Seis meses depois, deu origem à associação #Somos Solução com o objetivo de ajudar profissionais ligados ao ensino e à formação em diversas áreas, entre elas a promoção e organização de atividades para a integração e transição digital na educação, incluindo eventos educativos como webinares. O próximo está marcado para dia 10 e debate, precisamente, os ambientes de aprendizagens híbridos.
O evento “Escolas On, Aprendizagens In” assume, também ele, um formato online e ao vivo, a ser transmitido na página da associação naquela rede social e na StartUp Sintra. Conta com a presença de vários especialistas e do secretário de Estado da Educação, João Costa.
Entre os diferentes parceiros do projeto estão empresas tecnológicas como a HP, a Logitech e a Promethean, que desenvolveu o programa AMADA para apoiar as escolas a implementar rápida e facilmente uma estratégia de aprendizagem híbrida ou semipresencial. Este novo cenário educativo baseia-se em soluções simples, como o ActivPanel, computadores portáteis e webcams, tendo como requisito fundamental uma boa ligação à Internet, para garantir que as ferramentas de colaboração, partilha de ecrãs e de videoconferência funcionam de maneira fluida.
Mais uma oportunidade para a 5G. Ao assegurar um número maior de conexões simultâneas, além de um maior volume de transferência de dados num menor tempo, esta tecnologia prestes a chegar a Portugal contribui para que a aula decorra com normalidade, sem interrupções.
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