Ferramentas digitais da última geração tornam negócios mais verdes

  • Palmira Simões
  • 30 Agosto 2021

A transformação digital está a contribuir para que as empresas e as economias em geral caminhem para as metas de desenvolvimento sustentável. Há start-ups portuguesas que já oferecem soluções.

“As empresas têm um papel decisivo na ação climática, não só pelos impactos das suas cadeias de valor, mas sobretudo pelo seu potencial de investimento, conhecimento e inovação”. Palavras de João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, no âmbito do lançamento do manifesto “Rumo à COP26” a cerca de dois meses da 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que terá lugar em Glasgow, na Escócia, entre 31 de outubro e 12 de novembro.

O manifesto, assinado por 82 empresas, traça 11 objetivos para travar as alterações climáticas. Um deles aponta como caminho a investigação, desenvolvimento e inovação para apoiar a criação de novas tecnologias e a alteração de métodos produtivos, através da colaboração entre empresas e academia e da dinamização de parcerias público-privadas em prol da neutralidade carbónica.

Entretanto, em maio último, mais de 40 empresas tecnológicas assinaram um compromisso para acelerar o cumprimento das metas de sustentabilidade das Nações Unidas até 2030. O movimento dá pelo nome de “Digital with Purpose Movement”, uma iniciativa coordenada com a GeSI (Global Enabling Sustainability Initiative). Para Luís Neves, CEO desta organização internacional, “à medida que entramos na quarta revolução industrial impulsionada por 5G, IA, IoT e big data, a sustentabilidade torna-se um elemento ainda mais crítico para nossa indústria e para aqueles que dependem de novas tecnologias”.

"À medida que entramos na quarta revolução industrial impulsionada por 5G, IA, IoT e big data, a sustentabilidade torna-se um elemento ainda mais crítico para nossa indústria e para aqueles que dependem de novas tecnologias.”

Luís Neves

CEO da Global Enabling Sustainability Initiative

A prová-lo está o leque de tecnologias disponíveis nesta era da Indústria 4.0 para ajudar as organizações a transformar os seus negócios em negócios de sucesso e mais verdes, seja qual for o setor de atividade em que operam.

A tecnologia 5G, por exemplo, oferece uma latência mais baixa, uma capacidade de transmissão de dados maior e uma comunicação mais rápida. Fatores que colocam esta rede no topo das tecnologias de última geração, até porque é grande aliada de outras, como o machine learning, a inteligência artificial (IA), a big data e a internet das coisas (IoT).

A IoT permite, por exemplo, uma melhor gestão das redes de transportes e de logística ou, na agricultura, de controlo de colheitas e regas, com impacto numa maior eficiência energética e de outros recursos, como os hídricos. Uma análise e tratamento da informação monitorizada em tempo real e mais detalhada resultam em conhecimento útil de apoio à tomada de decisões mais sustentáveis.

Start-ups portuguesas desenham soluções

No Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), que visa ser um fio condutor verde para que todas as atividades na Europa se tornem neutras em carbono já em 2030, a rede 5G, a par da IA, do hidrogénio limpo e das energias marinhas renováveis, é apontada como tecnologia-chave para promover a digitalização em massa, a recuperação das economias pós-covid e alavancar a transição climática.

Ainda neste campo, o estudo da Deloitte “Reshaping the future”, de outubro de 2020, identifica seis prioridades para uma recuperação bem-sucedida após a pandemia. Entre elas, uma diz respeito à necessidade da transformação digital para fazer face à urgência climática. É, por isso, inegável que a revolução digital é um caminho para um futuro mais sustentável e muitas são já as empresas que são exemplo.

A start-up Aroundinspire, sedeada no Taguspark, em Oeiras, recorreu à inteligência artificial para desenvolver um sistema que ajuda a reduzir o desperdício de água, contribuindo para a eficiência hídrica das cidades, nas áreas residenciais e de serviços. Os consumos e as poupanças de água são monitorizados através de uma app. Chama-se AQVA MORE e venceu o prémio Start Up Portugal Smart Cities Summit 2019.

Outro bom exemplo de tecnologia ao serviço da sociedade, é a Omniflow, empresa focada em soluções sustentáveis para cidades inteligentes. Nascida no Porto, a empresa disponibiliza no seu portfólio o Smart IoT Lamppost, um poste de iluminação alimentado por energia eólica e solar, que integra células 5G, sensores de qualidade do ar, carregadores elétricos e edge computing.

Com recurso à IA, a Scemai, de Vila Nova de Gaia, criou um sistema para monitorizar os setores das águas, energia e resíduos sólidos. Analisa dados físicos e digitais, como a energia consumida, e usa uma ferramenta de alerta e controlo de anomalias que permite antecipar a manutenção. Foi vencedora do prémio H20 Inovação Águas de Gaia.

Vencer o desafio da mudança

“Nada é permanente exceto a mudança”. A famosa frase atribuída ao filósofo da Grécia Antiga Heráclito faz mais do que nunca sentido quando pensamos na contemporaneidade. E se tempos houve em que natureza e progresso humano pareciam ignorar-se, hoje o paradigma é outro, obrigando toda a sociedade, e as empresas em particular, a um ritmo de esforço de transformação e adaptação inigualável que só a tecnologia pode mitigar.

De acordo com um estudo da consultora Accenture, existe, efetivamente, um valor adicional na combinação entre as tecnologias digitais e a sustentabilidade, referindo que as organizações que saibam tirar partido desta combinação, as já chamadas twin transformers, têm duas vezes e meia maior probabilidade de serem as que apresentarão melhor desempenho no futuro. Mas como podem as empresas reconhecer esta oportunidade e aproveitá-la? Para esta consultora, as organizações precisam de compreender o seu potencial e de aplicar com sucesso estratégias de twin transformers, entre elas promover modelos de negócio orientados para a sustentabilidade e facilitados por tecnologia; combinar recursos para escalar aplicações tecnológicas às práticas sustentáveis; incentivar os parceiros para que os ciclos de vida dos produtos sejam sustentáveis e para que a rastreabilidade seja reforçada; envolver toda a organização; liderar, capacitar e cultivar o talento.

O tempo não pára. Temos menos de três décadas para conseguir atingir o objetivo do Acordo de Paris em fortalecer a resposta global à ameaça das alterações climáticas. Governança, mudança de mentalidade, foco, investimento em inovação, educação e formação são algumas das “ferramentas” capazes de vencer os desafios presentes e futuros que as empresas têm pela frente.

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