Petit e Ramón avançam com hotel numa ruína fabril do Porto
Ex-gestores ligados à Total e à Somague juntaram família e negócios no Porto, onde já têm 76 apartamentos turísticos e somam um hotel de oito milhões numa carcaça industrial comprada ao Santander.
Era uma vez um francês, um espanhol e uma brasileira que desenvolveram um projeto hoteleiro com uma área total de 5 mil metros quadrados e uma vertente cultural ligada à música, localizado na zona oriental do Porto, que reabilitou uma zona industrial abandonada adquirida ao banco Santander e representou um investimento de oito milhões de euros.
A abertura de uma nova unidade hoteleira na cidade Invicta até parece uma história repetida dos últimos anos. Mas este é mais do que um alojamento com 62 quartos, restaurante, bar, jardins e piscina. Inclui uma sala de espetáculos para 300 pessoas em pé ou 180 sentadas, três salas de ensaios e uma musicoteca que junta coleções de discos de vinil e livros sobre música.
No espaço agora ocupado pelo M.Ou.Co – acrónimo de Música e Outras Coisas – funcionou na década de 1950 uma grande fábrica de componentes elétricos, com três naves, que acabou por falir. O terreno na freguesia do Bonfim, comprado há cinco anos ao Santander Totta, alberga a mais recente investida de uma dupla de empresários que aposta desde 2012 na promoção imobiliária e na exploração turística. Sob a marca Aparthotel Oporto, são também donos de um total de 76 apartamentos, divididos por quatro empreendimentos na cidade.
Nascido há 39 anos em França, Mickael Petit é engenheiro industrial, com um MBA na Porto Business School, e músico de Conservatório, tendo o trompete como instrumento favorito. A viver há década e meia na Invicta, trabalhou durante dez anos para o grupo petrolífero Total, tendo sido diretor de supply chain da Hutchinson, uma subsidiária ligada ao ramo automóvel e aeroespacial.
Ramón Rodriguez, 46 anos, cresceu em Viana do Bolo, na Galiza, morou em cidades como Valladolid, Madrid e Lleida e chegou ao Porto em 2011. É também formado em Engenharia, com MBA em Gestão Ambiental, tem interesse pela arquitetura e estudou teoria musical e piano durante cinco anos, embora tenha a guitarra como “instrumento de escape”. Era administrador da Somague Ambiente (área dos resíduos) e, tal como o cunhado francês, abandonou o emprego há quatro anos.
“Entre 2012 e 2017, ambos mantivemos as funções diretivas que tínhamos cá em Portugal, até porque isto era mais um hobby, era feito em paralelo. Mas depois [o negócio imobiliário e turístico] ganhou importância e tamanho para deixarmos os nossos empregos”, relatou Mickael Petit, em declarações ao ECO.
Aos dois sócios da empresa e cofundadores do M.Ou.Co juntou-se a brasileira Sofia Miró, que é a responsável cultural do M.Ou.Co e está “na essência artística do projeto”. Tem 33 anos, cresceu em São Bernardo do Campo e começou a percorrer o mundo aos 19. Morou em São Paulo, Munique, Londres ou Faro, mas foi no Porto que criou raízes em 2013. Tem formação de base em Fisioterapia e é pós-graduada em Produção Cultural, dedicando-se há uma década à área cultural e ao turismo criativo.
Com a assinatura Stay. Listen. Play., o projeto foi “pensado com o objetivo de agregar de forma integrada o turismo, a cultura e a comunidade, tendo a música como elemento convergente”. No número 65 da Rua de Frei Heitor Pinto, a três minutos da estação ferroviária de Campanhã ou de outra estação de metro (Heroísmo) e a menos de 15 minutos a pé da rua de Santa Catarina, foi nesta zona que os promotores encontraram espaço suficiente para permitir uma construção diferente. “Não queríamos ser mais um hotel vertical com 10 andares, sem um jardim, sem alma”, acrescenta Petit.
"Entre 2012 e 2017, mantivemos as funções diretivas que tínhamos cá em Portugal, até porque isto era mais um hobby. Mas depois [o negócio imobiliário e turístico] ganhou importância e tamanho para deixarmos os nossos empregos.”
Dos oito milhões de investimento, a parte da construção em si e os respetivos equipamentos representaram seis milhões, com o restante a pagar a aquisição do terreno, o projeto de arquitetura, as especialidades e outras despesas. O projeto foi objeto de uma candidatura ao Portugal 2020, com o auxílio de uma consultora. Perto de 60% acabou por ser financiado por fundos comunitários — metade disso a fundo perdido — e 40% por capitais próprios.
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