“Como especialista da indústria não posso apoiar o desaparecimento da TAP”, diz CEO
Christine Ourmières-Widener foi questionada no Parlamento sobre a possibilidade de fechar a companhia e abrir uma nova aproveitando parte dos ativos. Respondeu que ninguém assumiria a missão da TAP.
Christine Ourmières-Widener, apresentou os cumprimentos aos deputados num português com sotaque espanhol. Mudou depois para inglês, para dizer que “a TAP está no tipo da lista das empresas mais afetadas pela pandemia”, ainda que a crise afete todas as companhias aéreas mundiais. E rejeitou liminarmente a possibilidade de encerrar a empresa, para abrir uma nova ao lado.
Foi a solução encontrada para a italiana Alitalia. A hipótese foi defendida pelo presidente da Associação Comercial do Porto numa carta dirigida à Direção-Geral da Concorrência, onde sugere a criação de uma nova companhia aérea para “tomar o lugar” da TAP nas ligações transatlânticas. Nuno Botelho considera que o apoio do Estado é “irracional e contrário aos interesses económicos”.
Confrontada com esse cenário pela deputada Cecília Meireles, Christine Ourmières-Widener reagiu: “Como especialista da indústria não posso apoiar o desaparecimento da TAP”. A CEO argumentou que a companhia “serve destinos que são críticos para Portugal”, como a ligação às ilhas e à diáspora. “Este é um serviço que faz parte da nossa natureza e que não será assumido por outra organização”, argumentou. “Esta é uma missão que nós queremos cumprir de forma rentável e sustentável.
A CEO da TAP começou por fazer o diagnóstico do que chamou a “maior crise de sempre do transporte aéreo”. “O mundo parou. O turismo parou. Os eventos de relevo desapareceram. As viagens de negócios terminaram”, retratou Christine Ourmières-Widener, acrescentando que “a procura estagnou a tal ponto que é difícil dizer quando vai recuperar ao ponto em que podemos dizer que voltámos ao normal ou talvez de volta a um novo normal”.
Lembrou depois a importância “sistémica” da companhia aérea, antes e depois da pandemia, na economia e no emprego. Referiu as ajudas já recebidas do Estado – 1,2 mil milhões de euros em 2020, a que se somaram mais 462 milhões em 2021 – para “em nome da TAP, quero agradecer aos Portugueses”. Citou mesmo um estudo que aponta um impacto positivo de 10 mil milhões de euros para o PIB até 2030, face a um cenário em que a companhia não receberia qualquer apoio. Análise que os deputados disseram já ter pedido ao Governo e não ter ainda recebido.
A presidente executiva da transportadora aérea garantiu que “o plano já está a ter impactos positivos, com uma redução significativa de custos, uma melhoria da rentabilidade e do ASK (oferta de lugares)”. Mas avisou que “a recuperação está a ser mais lenta do que esperava”, porque já era suposto “as fronteiras estarem abertas este inverno”. “O transporte aéreo global não vai recuperar o nível de 2019 antes de 2024. A indústria vai levar tempo a recuperar se recuperarmos o nível que existia antes”.
Christine Ourmières-Widener, que ocupa a presidência executiva da TAP desde 24 de junho, foi ouvida esta terça-feira na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da COVID-19 e do processo de recuperação económica e social.
A Comissão Europeia anunciou no dia 16 de julho a abertura de uma investigação aprofundada às ajudas públicas à TAP. O Estado já injetou 1,2 mil milhões de euros na companhia em 2020, a que se somaram mais 462 milhões em 2021, valor que deverá ser reforçado até ao final do ano. No Orçamento do Estado para 2022 estarão inscritos mais 990 milhões, revelou o ministro das Finanças em entrevista à RTP. O plano de reestruturação prevê um total de 3,2 mil milhões em ajudas de estado.
A TAP registou prejuízos de 493,1 milhões de euros na primeira metade do ano, uma melhoria de 88,8 milhões de euros quando comparado com o mesmo período de 2020. A recuperação do turismo e do tráfego aéreo tem permitido à companhia reforçar a oferta e lugares, que no inverno já será 80% do nível de 2019.
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