É urgente reduzir o impacto ambiental dos gases fluorados

  • Ana Belén Pereiro e João Mendes de Araújo
  • 20 Setembro 2021

Alguns dos equipamentos que temos em casa contêm uma substância que pode ter um impacto até 23 mil vezes maior que o dióxido de carbono no potencial de aquecimento global (efeito estufa).

A emergência climática impôs desafios urgentes ao setor da refrigeração e ar condicionado. Poucas pessoas imaginam que alguns dos equipamentos que têm em casa contêm uma substância que pode ter um impacto até 23 mil vezes maior que o dióxido de carbono no potencial de aquecimento global (efeito estufa).

Desconhecidos do grande público, os gases fluorados (F-gases) começaram a ser utilizados pelo setor da refrigeração e ar condicionado nos anos 90 para evitar a destruição da camada de ozono e estão hoje na mira da Comissão Europeia devido ao seu elevado potencial de aquecimento global e ao aumento das suas emissões nos últimos anos.

Se usados corretamente, os F-gases são seguros uma vez que não são tóxicos, nem inflamáveis e são muito mais eficientes que outros tipos de fluidos de refrigeração. Mas para que assim seja, é necessário aplicar uma economia circular real que permita separá-los e reciclá-los evitando a incineração destes compostos, que é a solução implementada para fluidos de refrigeração provenientes de equipamentos no fim do ciclo de vida, e que também contribui para o aquecimento global.

Apesar de alguns progressos, na Europa apenas 1% dos F-gases são recuperados no final do seu ciclo de vida. A legislação europeia para responder a este desafio já existe, mas há barreiras tecnológicas, económicas e diversos desafios ligados à fiscalização.

Neste contexto, a Europa tem apostado na redução das emissões através do controlo do uso de F-gases e isto impulsionou esforços na investigação de novas alternativas tecnológicas para recuperar, separar e reciclar estes gases.

É precisamente com foco na recuperação e reutilização que se desenvolve o projeto europeu KET4F-Gas, cofinanciado pelo Programa Interreg Sudoe através dos fundos FEDER. Durante três anos, este projeto desenvolveu tecnologias inovadoras para separar e reciclar F-gases no fim do ciclo de vida dos equipamentos de refrigeração e ar condicionado, elaborou manuais de boas práticas para a indústria e gestores de resíduos, e criou um roteiro para as administrações públicas responsáveis pela gestão de resíduos.

Se é possível melhorar a recuperação e reutilização dos gases fluorados, integrando-os no mercado de economia circular e diminuindo o seu impacto ambiental? Sem dúvida. Mas é necessário um maior contributo da indústria, uma maior consciência e pressão social e mais incentivos e fiscalização pelas entidades públicas. Para isso, é essencial informar e consciencializar a sociedade para os riscos destes gases para o meio ambiente e para as vantagens que decorrem de uma adequada gestão destes compostos.

Todos temos um papel a desempenhar. Quando compramos um novo frigorífico ou um ar condicionado, temos que analisar as etiquetas dos equipamentos e comparar os fluidos refrigerantes usados. Além disso, na sua instalação e manutenção, temos que nos assegurar que os técnicos e as empresas estão certificados para o manuseamento deste tipo de compostos, o que permitirá que não se produzam fugas de gases nestas operações.

Adicionalmente, no final de vida dos equipamentos, estes devem ser entregues nos pontos de recolha das juntas de freguesia e nunca deixados na rua. Para apoiar a sociedade nesta tarefa, o projeto KET4F-Gas criou uma ferramenta online gratuita (http://www.ket4f-gas.eu/) que classifica o impacto ambiental dos diferentes F-gases, permitindo que o consumidor tome uma decisão informada e consciente quando compra um novo equipamento.

Em 2050, até 12% do total de emissões globais de gases poderá ter na sua origem estes compostos. Mas ainda é possível inverter esta tendência. Para isso é urgente traçar um plano realista no qual a investigação, a indústria e as administrações públicas trabalhem em conjunto para um futuro mais sustentável.

  • Ana Belén Pereiro
  • Coordenadora do projecto KET4F-Gas, NOVA School of Science and Technology I FCT NOVA, Universidade Nova de Lisboa.
  • João Mendes de Araújo
  • Coordenador do projecto KET4F-Gas, NOVA School of Science and Technology I FCT NOVA, Universidade Nova de Lisboa.

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