Vem aí a Tesla dos autocarros
A empresa Proterra, fundada em 2004, produz autocarros elétricos cada vez mais potentes e ecológicos. Já conseguiu vender mais de 400 veículos e, em 2018, quer tornar-se uma companhia pública.
A empresa chama-se Proterra e produz autocarros exclusivamente elétricos. Foi fundada em Golden, no estado do Colorado, em 2004, por Dale Hill, que já antes tinha fundado a Trans Tech, uma companhia que fabricou autocarros híbridos CNG ao longo da década de 90, e ainda a Alumatech, uma companhia que produzia camiões basculantes de alumínio. Incentivado por programas do Governo dos Estados Unidos como o Clean Fuels Grant Program Bus, o TIGER e o TIGGER, Hill passou para o nível seguinte e fundou a Proterra para se dedicar aos autocarros completamente elétricos e amigos do ambiente. Em 2010, a empresa mudou a sua unidade fabril para Greenville, na Carolina do Sul, e Ryan Popple, que já tinha estado na Tesla, tornou-se CEO em 2014.
Desde 2004 que a empresa tem vindo a trabalhar discretamente nos seus autocarros inovadores, mas só em 2009 fez o primeiro grande negócio: conseguiu vender três dos seus veículos à Foothill Transit, uma companhia de transportes públicos no sul da Califórnia. Mas esse foi só o princípio. Hoje, a Proterra já conseguiu mais de 280 mil milhões de dólares em financiamento de capitais de risco, já abriu a sua segunda unidade de produção e vendeu um total de 400 autocarros. E durante o ano de 2018 está a planear tornar-se uma empresa pública, avançou a Bloomberg.
Um gigante amigo do ambiente
A Proterra começou a chamar as atenções quando, em 2015, conseguiu vender 62 dos seus autocarros a 12 companhias rodoviárias diferentes. Mas a sua maior jogada pode ter sido a revelação, em setembro do último ano, da nova linha de autocarros elétricos.
Até aí, os veículos não eram suficientemente potentes, estando abaixo de outros automóveis elétricos. Matt Horton, diretor comercial da empresa, confessou ao site Business Insider que a primeira geração dos seus veículos “não era boa o suficiente para o mercado”: “Não conseguiam fazer todas as rotas que há por aí. Mas, honestamente, não há por aí nenhuns autocarros que consigam”.
Mas isso era antes da nova linha dos Catalyst E2. Os novos autocarros têm mais de 12 metros de comprimento e podem percorrer algo como 563 quilómetros com um único depósito, em condições normais de circulação. Ou seja, os veículos podem estar na estrada um total de 18 horas, o mesmo que um autocarro semelhante, mas a combustível diesel. E é um grande avanço em relação aos primeiros autocarros da Proterra, que só conseguiam percorrer 235 quilómetros sem terem de voltar a abastecer.
Para conseguir este avanço, a Proterra trabalhou durante dois anos e meio na melhoria da tecnologia das baterias e no novo design dos autocarros. Agora, eles são feitos de compostos de fibra de carbono, o que permite que continuem leves, mas resistentes e duradouros. “Se pegássemos num autocarro tradicional e começássemos a enchê-lo de baterias, ele tornar-se-ia muito pesado muito depressa”, explicou Horton.
A Proterra fabrica as suas próprias baterias nas instalações da empresa, em Silicon Valley, e passou a colocá-las debaixo do corpo do autocarro “para ajudar a manter o seu centro de gravidade o mais baixo possível”. A inovação resultou num veículo onde cabem 77 passageiros e que suporta 660 quilowatts de energia para conduzir os tais 563 quilómetros sem ter de recarregar a bateria. Mas estas previsões são traiçoeiras porque, no que toca a autocarros, a condução é afetada por um conjunto de fatores, como as paragens constantes, a variação na temperatura, e as curvas e contracurvas do espaço urbano em que circulam. É por isso que Horton avisa que os 500 e tal quilómetros que os veículos anunciam que podem percorrer não são alcançáveis em zonas urbanas. No entanto, a bateria continua a durar as 18 horas necessárias e, à noite, os automóveis podem ficar a recarregar numa estação de recarregamento normal.
E as vendas já estão a disparar
Matt Horton disse ao Business Insider que as vendas dos autocarros Proterra aumentaram precisamente devido ao crescimento da distância que os autocarros conseguem percorrer sem terem de parar para recarregarem as baterias. “Companhias rodoviárias de todos os géneros estão a começar a perceber que agora já há um tipo de veículo elétrico capaz de fazer quaisquer percursos e rotas nos seus sistemas, que era algo inimaginável até agora”.
No final de janeiro, a Proterra anunciou que tinha conseguido o seu maior negócio até à data: vendeu 73 autocarros à empresa King County Metro Transit de Seattle por 55 mil milhões de dólares. Segundo as contas finais de 2016, a empresa já tinha vendido os seus automóveis a companhias rodoviárias de 20 estados diferentes nos Estados Unidos.
E queremos construir mais 100 veículos este ano. (…) Isso seria certamente mais do dobro do que produzimos em 2016.
À fábrica original em Greenville, no sul da Califórnia, juntou-se recentemente a segunda unidade, em Los Angeles, que deverá entrar em funcionamento em março, e que permitirá à Proterra produzir cerca de 500 autocarros por ano, disse Hourton.
Em janeiro, a Proterra assegurou um financiamento de mais 140 mil milhões de dólares, que perfazem um total de 322 mil milhões, avançou o site da Crunchbase. A Proterra afirmou que a ronda de investimento foi liderada por um investidor anónimo que avançou com 40 mil milhões de dólares. Os outros 60 mil milhões vieram de outros investidores, já conhecidos da Proterra ou que investiram nela pela primeira vez nesta ronda. Entre eles encontram-se a Tao Capital Partners, a Kleiner Perkins e a GM Ventures.
A Proterra não revelou as suas receitas nem a estimativa do total da sua ronda de investimento mais recente. Mas foram tão proveitosas que impulsionaram a produção, numa época áurea para os veículos elétricos em relação aos movidos a combustível fóssil.
Um estudo do Graham Institute do Imperial College London e do grupo de pesquisa independente Carbon Tracker Initiative analisou as previsões de custos dos veículos elétricos e dos painéis solares e descobriu que os valores decrescentes vão deter a procura por petróleo e carvão a partir de 2020. O estudo diz ainda que os combustíveis fósseis podem vir a perder 10% da sua quota de mercado para os painéis solares e veículos elétricos ao longo da próxima década. É uma tendência que Horton já começa a verificar no dia-a-dia e que prevê que seja muito positiva para a Proterra.
“Em grande parte, a razão para esta transição para veículos elétricos vir a ocorrer tão depressa deve-se ao facto de as baterias destes veículos serem incrivelmente fortes. Apostar num automóvel destes é um ótimo investimento a longo prazo”.
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