Duas transições, o mesmo objetivo económico e ambiental

  • Ricardo Nunes
  • 28 Outubro 2021

O ritmo da transição energética na Europa tem de estar alinhado com o ritmo do desenvolvimento e penetração das tecnologias renováveis.

Nas últimas semanas, os mercados internacionais de energia têm estado em ebulição, com os preços de Gás Natural, Eletricidade, Petróleo e licenças de CO2 a baterem sucessivos recordes em Portugal e na Europa, situação que potencia teorias para todos os gostos. Os negacionistas com um discurso quase irresponsável face à problemática ambiental, alertam que avisaram que a transição energética seria um erro, os otimistas ensaiam um discurso demasiado simplista afirmando que a razão dos preços altos reside unicamente no facto de não existir ainda penetração de renováveis suficiente.

O problema é bastante mais profundo que simples teorias de claque. O ritmo da transição energética na Europa tem de estar alinhado com o ritmo do desenvolvimento e penetração das tecnologias renováveis, com o ritmo da transição dos nossos competidores globais e assente em modelos de mercado adaptados à dinâmica da energia verde. Não é possível fazer uma transição energética sem esforço da população, é absolutamente ingénuo acreditar que uma transição desta magnitude seria feita à escala global sem que os “clientes” assumissem a sua quota parte dos custos.

A velocidade e o sucesso da transição energética serão tanto maior, quanto mais rápidos consigamos desenvolver e promover a consistência das energias renováveis, temos de ter a capacidade de fazer switch de consumo e de produção, de armazenar a energia de hoje para consumir amanha, de estabilizar a variabilidade que a dependência do clima para produção de energia nos obriga.

Assim, para o cumprimento dos objetivos energético-climáticos definidos para Portugal, e para a União Europeia, é premente reformular as formas e modelos de consumo final de energia e desenvolver tecnologicamente a produção de energias renováveis.
Uma transição energética com o sucesso que pretendemos tem de estar alinhada com a transição digital também amplamente noticiada, as duas acabam por ser duas faces dessa mesma moeda.

A maturidade das iniciativas digitais no setor é já bastante diversa, permitindo às empresas de toda a cadeia de valor caminhar no sentido de melhorar o nível dos serviços prestados por via da inovação de produtos centrados no consumidor (cliente).

Desde projetos que recorrem a soluções avançadas de análise de dados para melhoria da utilização de ativos ou de otimização de redes [elétricas e gás], onde se inclui a implementação alargada de contadores inteligentes, passando pelos primeiros passos das produtoras no sentido da gestão e integração de recursos distribuídos de geração, até às oportunidades associadas à utilização de ferramentas digitais pelos utilizadores finais de energia.

O acesso a informação sobre padrões de utilização de energia (smart metering), a utilização de sistemas de gestão e de dispositivos inteligentes (assentes em IoT), a integração da produção renovável (para autoconsumo, incluindo soluções de armazenamento), ou a articulação com a mobilidade (elétrica e hidrogénio), são algumas destas oportunidades.

É inquestionável que os ganhos de eficiência na conjugação destes diversos fatores podem ser muito relevantes. E a tendência é que estes ganhos de eficiência continuem a crescer no futuro próximo, contribuindo simultaneamente para a minimização da volatilidade dos preços da eletricidade, do petróleo, do gás natural, ou até do carbono.

Em conjunto, estas iniciativas podem contribuir para uma significativa poupança energética para todas as organizações do ecossistema, criando ainda inúmeras oportunidades para as que sejam mais céleres na adaptação a esta nova realidade.
A digitalização deverá constituir uma prioridade-chave revelando-se, assim, fundamental que esta transformação digital esteja cada vez mais presente no core business dos fornecedores de energia, e de serviços energéticos.

A ACEMEL, representando as empresas comercializadoras de energia (o agente mais visível junto dos consumidores) tem vindo a colaborar e a propor às diferentes entidades com responsabilidade política e regulatória medidas que permitam o desenvolvimento de um mercado de energia mais próximo dos consumidores e podendo apoiar o desenvolvimento de novos modelos de negócio que respondam a estas mudanças do setor.

  • Ricardo Nunes
  • Economista, Chief Strategy Officer do OMIP, membro do Observatório de Energia da Sedes

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