Microsoft e Galp discutem sustentabilidade digital em Lisboa
Brad Smith e Andy Brown participaram num encontro com líderes de negócio promovido pela Câmara de Comércio Americana em Portugal.
“Se pensarmos na transição energética que o mundo precisa de fazer nos próximos 30 anos como um filme, espero que a Galp e a EDP ganhem os prémios de melhores atores e que a Microsoft seja, pelo menos, nomeada para melhor ator secundário. Isso é verdade para todas as indústrias, negócios e clientes”. A analogia de Brad Smith, President & Vice-Chair da Microsoft, com o universo cinematográfico arrancou uma gargalhada da plateia de líderes de negócio que se reuniu esta quinta-feira no Hotel Intercontinental, em Lisboa, a convite da Câmara de Comércio Americana em Portugal.
As expectativas face aos resultados da COP26, a decorrer em Glasgow, deram o mote para a conversa entre os líderes da Microsoft e da Galp, presentes em Lisboa para participarem no Web Summit. Dos incentivos governamentais aos compromissos assumidos por cada uma das empresas rumo à sustentabilidade, passando pelos desafios da transição digital, o resultado foi uma visão panorâmica sobre os temas mais quentes da atualidade.
Resultados de Glasgow
A necessidade de os governos assegurarem não apenas incentivos, mas também recompensas e punições quanto à utilização de combustíveis fósseis foi enfatizada por Andy Brown, CEO da Galp, que considerou este tipo de medidas indispensáveis para que as mudanças necessárias aconteçam. “Se não houver este balanço, vamos ter uma crise no sistema energético”, admitiu. O responsável teceu, ainda, críticas quanto ao facto de as empresas de combustíveis terem sido “excluídas” da conferência sobre as alterações climáticas, sublinhando que “o sistema energético não vai mudar apenas construindo energias renováveis”.
“Em 2050, teremos de produzir mais energia”, concordou o presidente da Microsoft. “Não podemos aumentar a prosperidade sem aumentar a produção de energia. Podemos tornar as coisas mais eficientes, mas ao mesmo tempo que reduzimos as emissões de carbono teremos de aumentar de forma massiva a produção energética”, vaticinou.
Em tom mais otimista, reconheceu nos vários intervenientes da COP26 um estado de espírito de “determinação partilhada, de que vamos arregaçar as mangas e fazer progressos”. Admitiu, no entanto, que “as pessoas foram realistas, reconhecendo que estamos globalmente a andar mais depressa, mas ao mesmo tempo a ficar para trás”. Neste contexto, defendeu a importância de serem adotadas “medidas de avaliação estandardizadas”, uma vez que “não se pode gerir algo que não é mensurável”. Sem este tipo de medidas, que considerou basilares, “todos acreditamos que estamos a sair-nos melhor porque estamos a esforçar-nos mais”.
Medidas internas
Ambas as empresas estão a adotar medidas internas para reduzir os impactos ambientais e fazer a transição necessária. No caso da Galp, o responsável destacou que “as renováveis são apenas o início” da mudança do sistema energético, que terá de se “transformar completamente”. Por exemplo, será preciso pensar em questões como “como fabricar cimento ou aviões verdes?”, o que requer uma atitude de “humildade e procura de apoio e parcerias”.
No caso da Microsoft, o principal desafio relacionado com o tema do carbono são os data centers. O objetivo, segundo Brad Smith, é torná-los “100% renováveis” até 2025, o que implica que a quantidade de energia consumida e produzida por estas infraestruturas seja igual. Até 2030, o objetivo é que essa energia seja totalmente proveniente de fontes renováveis, indicou o responsável.
Estender o impacto à sociedade
Os estímulos económicos ao investimento em novas tecnologias e à adoção de soluções verdes e a discussão pública sobre a “pegada do mundo verde” são, para o líder da Galp, temas que estarão em foco nos próximos anos. “É muito conveniente porque a pegada dos combustíveis fósseis normalmente está noutros países — por exemplo, temos refinarias no Brasil e Médio Oriente. As soluções renováveis são muito mais distribuídas e locais, o que significa que teremos de ter soluções solares em vales, que precisamos de refinarias de lítio… Isso implica escolhas diferentes feitas pelas pessoas”.
Já o líder da Microsoft referiu a criação de um “imposto interno de carbono”, referente ao dinheiro que é preciso gastar para reduzir as próprias emissões. “Tem sido fascinante porque toda a gente começou a prestar atenção”, comentou. Esta medida, referiu, está também a desencadear inovação nos processos de negócio dos fornecedores porque “não conseguimos calcular as nossas emissões sem eles reportarem as suas próprias emissões”. Por outro lado, a empresa fez recentemente a “maior doação filantrópica da empresa, de 100 milhões de dólares, ao fundo Bill Gates”, valor focado em quatro áreas em que “é necessária tecnologia o mercado ainda está numa fase precoce de desenvolvimento: captura de …, hidrogénio verde, armazenamento de baterias de longa duração e combustível sustentável para aviação”.
O futuro passa pela gestão de dados para melhorar a eficiência, apontou o líder da Galp. Neste âmbito, a inteligência artificial e o machine learning “são ferramentas para fazer o que precisamos melhor e mais depressa”, indicou o responsável da Microsoft, segundo o qual “a automação é fundamental, para medir com a escala necessária”. O objetivo, disse, é tornar a “contabilidade do carbono tão sofisticada como o controlo financeiro para as empresas e depois teremos de a automatizar”. Esta é, enfim, uma “oportunidade inspiradora para apoiar a inovação”.
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