Novas obrigações da Mota-Engil valem a pena? Um guia para ajudar a decidir
A Mota-Engil tem em curso uma emissão de obrigações com um juro de 4,25% ao ano. O ECO preparou um guia com perguntas e respostas para decidir se deve investir.
A Mota-Engil regressa ao financiamento junto dos investidores de retalho com uma emissão de, pelo menos, 75 milhões de euros. O juro é atrativo, mas convém fazer bem as contas para perceber o rendimento efetivo do investimento e ter noção dos riscos. O ECO preparou um guia para ajudar as esclarecer dúvidas.
Qual o juro pago e o período de investimento?
As obrigações têm um prazo de cinco anos, durante os quais será pago um juro bruto anual de 4,25%. Retirando a taxa liberatória de 28%, fica um juro líquido de 3,06%. O investidor deve ainda ter em conta que terá de pagar comissões ao seu intermediário financeiro pela operação de subscrição e um montante anual pela custódia dos títulos. Os bancos podem ainda cobrar um valor sobre o pagamento periódico dos juros e pelo reembolso final.
Para o investimento valer a pena, pode ser necessário um montante mais elevado do que o investimento mínimo, de forma a diluir o impacto dos custos acima descritos. Peça uma simulação ao seu intermediário financeiro com a taxa de rentabilidade final.
O pagamento dos juros é feito duas vezes a cada ano, a 2 de junho e a 2 de dezembro. O reembolso final será feito em duas prestações, metade a 2 de dezembro de 2025 e a outra metade no mesmo dia de 2026.
Qual o investimento mínimo?
Cada obrigação terá um valor nominal de 500 euros. A ordem de subscrição mínima é de cinco obrigações, ou seja, 2.500 euros. Tenha em atenção que o intermediário financeiro que receber a ordem de subscrição poderá, nessa altura, solicitar o provisionamento da conta à ordem pelo valor correspondente à subscrição pretendida.
Caso a procura exceda a oferta, a Mota-Engil pode optar por aumentar o montante global da emissão, como aconteceu em 2019, quando o valor saltou de 75 para 140 milhões de euros. Se mesmo assim não for suficiente, as ordens serão sujeitas a rateio. As condições podem ser consultadas no folheto da operação ou no prospeto.
Se, pelo contrário, as ordens não atingirem os 75 milhões previstos na emissão, serão emitidas as obrigações correspondentes ao montante subscrito.
Quais as datas da operação?
O período de subscrição começou esta segunda-feira, dia 15, e estende-se até às 15h00 de 26 de novembro. Até dia 23 de novembro a construtora pode aumentar o montante global da emissão, através de uma adenda ao prospeto a aprovada pela CMVM.
As ordens podem ser alteradas ou revogadas até às 15h00 do dia 26 de novembro. O apuramento dos resultados da operação está previsto para dia 29. A liquidação financeira da operação ocorre no dia 2 de dezembro. Nesse dia o dinheiro sai da conta e o investidor passa a ser titular das obrigações.
Quais os riscos do investimento?
Apesar de muito procurados pelos pequenos investidores em busca de rentabilidade para os seus investimentos, o risco das obrigações é muito superior ao de um depósito a prazo. Não existe um fundo de garantia e se a empresa entrar em graves dificuldades financeiras, pode não conseguir pagar os juros anuais ou ser mesmo incapaz de reembolsar os títulos, com perda parcial ou mesmo total do capital investido.
Convém ainda ter em conta o risco de liquidez. Se precisar do dinheiro antes dos cinco anos, o investidor pode não conseguir vender os títulos pelo mesmo preço a que subscreveu, incorrendo numa perda. Nesse caso, valerá a cotação a que estiverem no mercado.
E o risco de investir na Mota-Engil?
Além do risco genérico de investir em obrigações, existe o risco específico do momento atual da economia e da própria Mota-Engil. No prospeto, a construtora alerta, por exemplo, que “é expectável que os impactos económicos da pandemia de Covid-19 continuem a refletir-se nos resultados da Mota-Engil”.
"É expectável que os impactos económicos da pandemia de Covid-19 continuem a refletir-se nos resultados da Mota-Engil.”
A construtora salienta ainda que “uma parte significativa das empresas do Grupo Mota-Engil que se dedicam à área de engenharia e construção (representando 72% do volume de negócios registado em 2020) dependem, quanto à formação da sua estrutura de custos, da evolução dos preços internacionais de algumas commodities, como sejam o petróleo, o aço e o cimento”. A estes acrescem “riscos associados à cadeia de abastecimento e logística de fornecimentos nos mercados onde está presente”.
Outro risco particular da Mota-Engil diz respeito aos países onde opera, 14 deles em África e seis na América Latina, mercados emergentes mais propensos a alterações políticas, sociais, económicas e financeiras que podem por em causa os negócios aí realizados ou o recebimento de valores em dívida.
A empresa sublinha também os riscos relacionados com a implementação do acordo de investimento com a China Communications Construction Company, Ltd, que este ano passou a deter 32,4% do capital da Mota-Engil.
Como está o negócio da Mota-Engil?
O Grupo que está presente em três continentes e 25 países viu o negócio afetado pela pandemia em 2020, com um decréscimo do volume de vendas para 2.429 milhões e do EBITDA (resultados antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações) para 380 milhões.
A tendência manteve-se no primeiro semestre de 2021 no que toca ao volume de negócios, que recuou 2% para 1.138 milhões de euros. Já o EBITDA recuperou de 144 para 181 milhões, com uma melhoria da margem de 12% para 16%. O resultado líquido atribuível ao grupo passou de prejuízos de cinco milhões a lucros de oito.
Outro dado importante para quem investe em obrigações é da dívida líquida da empresa, que no final de junho era de 1.141 milhões, 2,7 vezes o EBITDA dos últimos 12 meses. No final de dezembro situava-se em 1.243 milhões.
A Mota-Engil tinha uma carteira de encomendas de 7,4 mil milhões de euros no final de junho, um montante recorde. No dia 8 de novembro a construtora apresentou um plano estratégico até 2026 onde traça como objetivo alcançar um volume de negócios anual superior a 3,8 mil milhões de euros até 2026, com o “contributo equilibrado” de mercados como Europa, África e América Latina.
Porque é que a emissão é considerada sustentável?
A Mota-Engil sustenta a ligação à sustentabilidade ao seu compromisso de atuar de forma a “promover a melhoria de um indicador-chave de desempenho”, neste caso do índice dos acidentes de trabalho não mortais com baixa. Este indicador estava em 5,51 no final de 2020 e terá de descer para 3,30 até ao final de 2025. Se a construtora não cumprir este critério, terá de entregar aos investidores uma remuneração adicional de 1,25 euros por obrigação, na data do reembolso final. A averiguação será feita por uma “entidade independente”, assegura a Mota-Engil.
Quais as condições das ofertas de troca?
Além da emissão de novas obrigações, a operação anunciada pela Mota-Engil envolve ainda duas ofertas públicas de troca, que visam levar os titulares de duas emissões antigas a trocar os seus títulos pelos novos. Em causa estão as “Obrigações Taxa Fixa Mota-Engil 2018/2022 e o empréstimo obrigacionista denominado “Mota-Engil 2018/2023”, com taxas de juro de 4,5% e 4%, respetivamente.
Para convencer os investidores a fazer a troca, a construtora oferece um prémio de 11,44 euros por obrigação, o equivalente a uma remuneração extra bruta de 2,287%, no caso das obrigações com maturidade em 2022. No empréstimo com prazo até 2023, os investidores recebem 20 obrigações da nova emissão e um prémio de 195,3 euros, equivalente a 1,953%.
Os investidores que aceitarem a troca receberão os juros corridos das atuais obrigações até 2 de dezembro. Na oferta de troca não existe mínimo de investimento, mas está sujeita a rateio.
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