Realização da COP27 no Egito é “recompensa ao poder repressivo” de al-Sisi
O Egito foi designado para a realização da conferência internacional da ONU sobre alterações climáticas (COP27) em 2022. “Uma escolha incrivelmente má”, lamenta a organização Human Rights Watch.
A entrega ao Egito da responsabilidade da organização da conferência da ONU sobre alterações climáticas (COP27) em 2022 é uma “recompensa ao poder repressivo” do presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, criticou esta segunda-feira a organização Human Rights Watch (HRW).
O Egito, que segundo várias organizações não-governamentais tem cerca de 60 mil presos de consciência, corre o risco de usar o “papel de anfitrião” da COP27 “para levar as pessoas a esquecerem o histórico pavoroso do país em termos de direitos humanos”, alertou a organização de defesa e promoção dos direitos humanos, num comunicado.
Na semana passada, na COP26, em Glasgow (Escócia), o Cairo foi designado para a realização da conferência internacional, “uma escolha incrivelmente má”, afirmou Joe Stork, vice-diretor do departamento de Médio Oriente da HRW.
Os países participantes da COP27 “devem pressionar o Egito a libertar os milhares de presos por apenas terem exercido a liberdade de expressão e o direito de reunião”, como é o caso de Ahmed Amacha, diretor da Associação Árabe para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, detido desde 2020 e citado no comunicado.
Além disso, sublinha a HRW, a COP27, que terá lugar na estância balnear de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, não poderá acolher eventos de protesto habituais durante encontros internacionais pelo clima porque estão proibidos no Egito desde 2013.
Desde que Sissi assumiu o poder, naquele ano, o regime tem reprimido toda a oposição e visado, em particular, a sociedade civil. Tal, porém, não impediu o Egito de, em 2018, acolher a sede da COP14 sobre biodiversidade, também em Sharm el-Sheikh.
No sábado, após duas semanas de intensas negociações, cerca de 200 países aprovaram um texto considerado “morno” destinado a acelerar o combate ao aumento das temperaturas, que não garante, contudo, o cumprimento da meta de conter o aquecimento a 1,5° Celsius em relação à era pré-industrial, nem responde aos pedidos de ajuda dos países mais vulneráveis.
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente, no sábado, uma declaração final com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.
A alteração foi proposta pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento da COP26 pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.
A proposta acabou por ser aprovada pelo presidente da cimeira, Alok Sharma, que afirmou de voz embargada “lamentar profundamente a forma com este processo decorreu”.
O documento final aprovado, que ficará conhecido como Pacto Climático de Glasgow, preserva a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC (graus celsius) acima dos níveis médios da era pré-industrial.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, comentou o acordo alcançado em Glasgow alertando que apesar de “passos em frente que são bem vindos, a catástrofe climática continua a bater à porta”.
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