Preocupações ambientais exigem “revolução verde” no mercado imobiliário

  • Elsa Duarte
  • 7 Dezembro 2021

Atualmente, as políticas de sustentabilidade estão a ser implementadas de modo a incluir todas as suas dimensões, quando aplicadas a ativos imobiliários.

A preocupação pela implementação de políticas ambientais é, hoje, uma exigência, mais do que uma mera intenção, nomeadamente no que respeita ao mercado da consultoria imobiliária, no qual, até há bem pouco tempo, eram somente sugeridas alterações para a implementação de políticas mais sustentáveis nos imóveis, tendo como único propósito a redução de custos de consumo. Atualmente, as políticas de sustentabilidade estão a ser implementadas de modo a incluir todas as suas dimensões, quando aplicadas a ativos imobiliários.

Esta mudança de abordagem, que se tem consolidado nos últimos anos, procura maximizar o potencial de comercialização de um imóvel, porque, hoje em dia, apenas se afigura viável equacionar a comercialização de imóveis que já tenham estas características incorporadas, ou que estejam em processo de implementação dessas políticas, de modo a que os ativos possam corresponder às exigências de procura de investidores e empresas internacionais que se pretendem fixar também em Portugal.

Nestas situações, a principal preocupação passa por adquirir e promover ativos com um maior valor de mercado, com menores custos de ciclo de vida e de utilização e com uma gestão mais eficiente de recursos, bem como atrair investidores e inquilinos para espaços mais saudáveis.

Não nos esqueçamos também que diversas empresas europeias assumiram o compromisso de atingir a Neutralidade Carbónica (Net Zero) até 2050 (em consequência da assinatura do Acordo de Paris e Pacto Ecológico Europeu), sendo este compromisso também assumido pela Savills, a qual implementou como meta o ano de 2030.

De modo a dar resposta a este desafio, as certificações BREEAM e LEED (diretamente vocacionadas para a certificação de edifícios sustentáveis), as políticas/critérios ESG (environmental, social and governance), bem como a certificação WELL, que se debruça sobre o impacto do edifício na saúde e bem-estar dos seus ocupantes, são fundamentais na implementação e desenvolvimento das estratégias de transformação dos imóveis, permitindo alcançar a sustentabilidade exigida e esperada nos dias de hoje.

Importa também referir que tais políticas e diretrizes são aplicáveis tanto a imóveis de serviços, como a ativos residenciais. As estratégias a implementar podem ser das mais variadas características, podendo, assim, fazer-se as transformações que melhor se adequem aos objetivos e exigências dos investidores e ocupantes. Dessas estratégias, destacam-se algumas, que se podem apresentar como centrais:

i) intervir sobre o “envelope/pele” do edifício – aplicação de sistemas de capoto, ou outros igualmente eficientes em isolamento térmico, janelas com caixilharias e vidros mais eficientes e com isolamento térmico e acústico;

ii) instalar sistemas de impermeabilização eficientes e, em complemento a estes, a instalação de coberturas verdes, que enriquecem em muito o edifício, pelo conforto térmico que imprimem, pelo facto de serem fonte de biodiversidade, pelo positivo valor visual que acrescentam e por poderem ser consideradas uma estratégia de mitigação dos impactes negativos sobre o ambiente e das emissões de carbono;

iii) introduzir zonas verdes como parte integrante dos imóveis – nos diversos níveis do edifício, e não só aplicados às coberturas – com a adoção desta medida estaremos também a contribuir para a Estrutura Ecológica Urbana;

iv) utilizar eficientemente os recursos água e energia;

v) instalar sistemas de monitorização da qualidade do ar, consumos de água, consumos de energia, sistema AVAC, permitindo uma automatização dos sistemas de modo a operarem de forma mais eficiente;

vi) instalar painéis fotovoltaicos;

vii) instalar postos de carregamento de veículos elétricos e a criação de parqueamento próprio para bicicletas;

viii) promover a utilização de meios de circulação alternativos, consolidando a rede de transportes pública, car sharing, ciclovias, etc.;

ix) avaliar o potencial de reciclagem dos materiais e equipamentos a remover e introduzir, bem como considerar a utilização e aplicação de matérias de revestimentos, pavimentos, mobiliário, etc., que sejam sustentáveis, com pegada de carbono reduzida e/ou provenientes de materiais reciclados, promovendo a economia circular;

x) ouvir quem está nos edifícios, com o desenvolvimento de questionários de satisfação relativamente ao edifício, mas também sobre a gestão do mesmo;

xi) considerar sempre a implementação de sistemas de mitigação dos efeitos das alterações climáticas e trabalhar para a construção de espaços seguros, saudáveis e, logo, mais produtivos.

Em suma, todo o design e a componente técnica inerente à renovação ou construção de qualquer imóvel terá, necessariamente, de passar a incluir no pensamento lógico de conceção do imóvel ou espaços a gestão de recursos, resíduos, impactes social, ambiental e económico.

Os desafios do AGORA são cada vez maiores e mais interessantes, o que permitirá conseguir espaços de elevada riqueza arquitetónica e com um rigor e níveis de excelência ímpares e sustentáveis em todas as dimensões, levando a um exponencial aumento da qualidade de vida de quem habita e vive nestes espaços.

  • Elsa Duarte
  • Paisagista da Savills Portugal

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