BRANDS' ECOSEGUROS 0,00000086%. Conhece este número?
Qual a probabilidade de uma pandemia paralisar o mundo? Ou de regressarmos ao medo da inflação alta devido a uma crise energética? Ninguém sabe ao certo, mas sabemos que não é de um em 116 milhões.
Muita gente conhece este número. Alimenta muitas esperanças, é uma parte importante das vidas de muita gente. Trata-se da probabilidade de uma chave simples ganhar o Euromilhões. Se jogarmos todas as semanas afincadamente, digamos com 10 chaves, ao fim de 20 anos a tentar todas as semanas, temos então uns “animadores” 0,0008944%. Serão, mais ou menos, um em cada 112 mil apostadores, ou seja, se 112 mil apostadores fizerem 10 chaves todas as semanas durante 20 anos, em média, um deles vai conseguir o primeiro prémio. O propósito de escrever sobre isto não é a de ser um Grinch neste Natal, a desfazer sonhos de milhões a entrarem pela chaminé (mas força, se achar que consegue à primeira, então desejo-lhe que tenha a sorte de ser o um em 116 milhões que consegue!), mas sim o de constatar que as pessoas dão importância a um evento que lhes pode mudar a vida, por mais improvável que seja.
Que tal continuarmos a fazer de Grinch? Qual a probabilidade de um vulcão estar em atividade durante meses arrasando o património de uma Ilha? E de termos 32 graus Celsius no Alasca? E de uma pandemia paralisar o mundo? Ou de regressarmos ao medo de inflação alta devido a uma crise energética? E… (bato com força na madeira!) de termos um grande sismo em Lisboa?
"O azar também pode ser minimizado, se fizermos os trabalhos de casa nesse campo.”
Na verdade não sei – ninguém sabe com exatidão e apenas se traçam cenários – mas uma coisa sabemos: não é de uma em 116 milhões. A probabilidade de qualquer um destes cinco eventos acontecerem é incomparavelmente mais alta mas, inexplicavelmente, em muitos casos, e ao contrário do ato de entregar religiosamente todas as sextas o boletim do Euromilhões, não nos merece qualquer ação.
O que levará a isto? Desinformação? Falta de visibilidade (quase todas as semanas vemos que o Euromilhões saiu a alguém, mas não vemos os infortúnios que parecem sempre distantes)? Atribuirmos o facto de ganharmos o Euromilhões a um mérito nosso (“só ganho se tiver a disciplina de jogar sempre”), mas descomprometermo-nos com os azares “ninguém previa um ano inteiro quase sem chover, não podia ter feito nada para salvaguardar as minhas colheitas”?
"Quando vir uma probabilidade de 0,1% num evento catastrófico, assuste-se. Ainda assim, é muito superior aos 0,00000086% que tanto o entusiasmam, pelo que devem merecer no mínimo a mesma atenção.”
Na verdade, qualquer um dos azares que possamos pensar, não só é bastante mais provável de acontecer, como acaba por ter um efeito mais decisivo nas nossas vidas. Mais de 90% da população e das empresas não tem folga financeira para que um evento dessa natureza não destrua a sua vida. Já de novos Euromilionários que acabam na miséria, temos nós conhecimento de vários.
De facto estes fenómenos improváveis de severidade alta são talvez o maior drama na gestão de risco. Frequentemente são desvalorizados porque “isso nunca acontece” e há uma tendência para a resignação porque “foi azar”. O azar também pode ser minimizado, se fizermos os trabalhos de casa nesse campo.
Quando vir uma probabilidade de 0,1% num evento catastrófico, assuste-se. Ainda assim, é muito superior aos 0,00000086% que tanto o entusiasmam, pelo que devem merecer no mínimo a mesma atenção. Faça o que estiver ao seu alcance para reduzir o seu impacto negativo.
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