Hotelaria “em apneia” devido à falta de mão de obra
Cristina Siza Vieira considerou ainda assim que há razões para se estar “muito otimista”. “O país tem tudo para se poder afirmar, sem qualquer timidez, uma potência no turismo”, realçou.
A presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, considerou esta quarta-feira que o setor está “em apneia”, após dois anos de pandemia, a enfrentar desafios, como a falta de mão de obra, mas otimista.
“Diria que estamos em estado de apneia, ainda temos oxigénio no pulmão, mas estamos a atravessar em apneia estes tempos dificílimos, ainda”, afirmou a responsável, durante uma iniciativa do Jornal de Negócios, no âmbito do Prémio Portugal Inspirador/Lado a Lado com as Empresas, dedicada ao turismo, em que participaram também o presidente executivo (CEO) da Coleção Torel Boutiques, João Pedro Tavares, e o administrador do banco Santander Miguel Belo de Carvalho.
A responsável da AHP sublinhou que o setor do turismo, particularmente o da hotelaria, “está ainda muito combalido” dos últimos dois anos marcados pela pandemia de covid-19 e que o primeiro trimestre deste ano, afetado pela quinta vaga da pandemia, que atingiu Portugal em dezembro, “vai ser muito desgraçado”.
No entanto, a expectativa é a de que a partir da Páscoa se possa começar a recuperar e que já se sinta uma maior procura internacional no segundo semestre deste ano. Ainda assim, Cristina Siza Vieira considerou que há razões para se estar “muito otimista”. “O país tem tudo para se poder afirmar, sem qualquer timidez, uma potência no turismo”, realçou.
“Há desafios, há, mas há que saber organizar-nos para poder responder a esses desafios, para poder, de facto, sustentar o nosso crescimento no turismo”, defendeu a responsável.
Um desses desafios prende-se com a escassez de mão de obra que o setor enfrenta, conforme apontou o administrador do banco Santander Miguel Belo de Carvalho, lembrando que Portugal perdeu 140.000 trabalhadores direta ou indiretamente ligados à indústria do turismo e 90.000 diretamente ligados aos operadores turísticos.
Cristina Siza Vieira realçou que não se trata de um problema específico de Portugal, mas sim do mundo ocidental, onde, disse, já não são os trabalhadores que têm de se adaptar às empresas, mas sim o contrário, o que exige uma maior flexibilidade para se conseguir atrair e reter talento.
Para fazer face ao problema, a AHP teve já encontros com a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, no sentido de analisar a possibilidade de contratar profissionais daqueles países.
“Há aqui mitos patéticos, quando dizem que queremos ir buscar pessoas aos países da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), porque pagaremos pior, isso nem sequer é legalmente possível, eu fico absolutamente irritadíssima com estas afirmações”, admitiu a responsável, acrescentando que não será possível satisfazer a necessidade de mão de obra só com os recursos internos.
A braços com este problema, o grupo hoteleiro Torel começou, em setembro, a fazer protocolos com algumas embaixadas de países “para quem normalmente Portugal é atrativo”, como, por exemplo, Marrocos, explicou João Pedro Tavares.
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