Em que direção sopram os ventos do futuro?
2022 perspetiva-se, globalmente, como um ano de grandes avanços da eólica flutuante offshore em toda a Europa.
A Escócia está a apostar fortemente nas energias oceânicas. Disponibilizou, recentemente, 8.600 km² de espaço marítimo para a instalação de eólica offshore em concurso. Dezassete projetos foram escolhidos e vão garantir uma capacidade instalada de quase 25 GW numa área total de 7.000 km². A maior parte destina-se a eólica flutuante, que se baseia em estruturas flutuantes em mar alto, em vez de estruturas fixas.
A elevada participação no concurso, que reuniu 74 propostas, é reveladora do interesse que as tecnologias offshore estão a gerar na Europa. Não só a eólica offshore tradicional, mas sobretudo a flutuante, que está a disparar. O sistema que os escoceses adotaram, com valores de licitação mais baixos e um teto máximo de preços, garante que a energia gerada nestes novos parques eólicos offshore representará menos custos para os consumidores.
Este concurso permitirá que a Escócia consolide a sua posição como líder nesta tecnologia. Esta aposta revela-se, ao mesmo tempo, como uma grande oportunidade para a indústria escocesa. As empresas vencedoras comprometeram-se a dedicar 25% das despesas dos projetos à economia nacional. Esta será uma forma de fortalecer a engenharia marítima escocesa, permitindo ainda a criação de emprego e garantindo mais receitas para os cofres públicos.
Mas 2022 perspetiva-se, globalmente, como um ano de grandes avanços da eólica flutuante offshore em toda a Europa. França lançou o primeiro leilão mundial para construir um parque eólico flutuante em larga escala com 250 MW. Em breve surgirá também o quarto parque eólico flutuante na Europa, o Hywind Tampen, na Noruega, com capacidade instalada de 88 MW.
Grécia, Itália e Espanha avançam na estratégia de eólica flutuante offshore para o Mediterrâneo e Atlântico. A Grécia prevê lançar o primeiro leilão no primeiro semestre de 2022. A Itália recebeu 64 manifestações de interesse para o desenvolvimento de projetos eólicos flutuantes offshore e o governo espanhol está a desenvolver um roadmap para alcançar até 3 GW em 2030.
Portugal iniciou a incursão na eólica offshore com entusiasmo, a partir de Viana do Castelo. O projeto WindFloat iniciou a exploração em 2020, com três turbinas e 25 MW de capacidade instalada, mas desde aí mais nada aconteceu. Portugal arrisca-se a deixar passar ao lado a oportunidade do eólico flutuante offshore quando muitas outras nações já marcaram bem as suas posições neste domínio.
Um estudo que a Deloitte desenvolveu para a APREN revela que as energias verdes vão possibilitar o aumento do emprego no setor de 51 mil para 160 mil postos de trabalho até 2030. Uma maior ambição climática e a introdução do Hidrogénio verde podem fazer subir esse número para os 190 mil.
Consequentemente aumenta também a contribuição anual do setor para o PIB que pode atingir os 12,8 mil milhões de euros no fim da década.
É possível que a contribuição anual para a segurança social atinja os 1,6 mil milhões de euros, o IRS ultrapasse os 10 mil milhões de euros e o IVA represente 1,9 mil milhões de euros em 2030.
Até 2030 as renováveis poderão atrair 20 mil milhões de euros de investimento privado, o que constituiu uma enorme oportunidade que Portugal não pode perder e que passa, indubitavelmente, por uma aposta também na eólica offshore.
Portugal, tal como a Escócia, deverá pensar num sistema de estabilidade de preços e de desenho de mercado que estabeleça um mecanismo de valores de licitação mais baixos e um teto máximo de preços, assegurando desta forma a bancabilidade dos projetos reduzindo, simultaneamente, os custos de produção de eletricidade.
Portugal deverá também requerer que as empresas vencedoras, em linha com as regras da União Europeia, se comprometam a afetar 25 por cento das despesas e custos dos projetos à economia nacional.
A tecnologia flutuante offshore impõe-se como uma solução para gerar grandes volumes de eletricidade renovável e ajudar impulsionar a transição energética na Europa. 80% do potencial eólico offshore da Europa está a 60 metros de profundidade ou mais. Isso significa que há enormes recursos no Mar Mediterrâneo, no Mar Negro e no Mar norueguês, mas também no Atlântico ao largo da vasta costa portuguesa. É lá que estão algumas das grandes oportunidades do futuro. É para lá que Portugal deve olhar ciente de todo o valor social, ambiental e económico que este recurso endógeno pode proporcionar.
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