Subida dos juros é “desejável”, mas não pode ter origem em tensões geopolíticas, diz Centeno
"Não são boas notícias" aquelas que vêm a crise na Ucrânia, admite Centeno. Governador sublinha que a normalização da política monetária deve ter "razões boas" que não sejam a tensão geopolítica.
O governador do Banco de Portugal diz que “não são boas notícias” aquelas que vêm da crise militar entre a Ucrânia e a Rússia e, embora indicando que a subida das taxas de juros na Zona Euro seja “desejável”, sublinha que a normalização da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) não deve estar “indexada às tensões geopolíticas”.
Mário Centeno reagia assim à decisão de última hora de Moscovo de reconhecer a independência das regiões de Donetsk e Luganks, afirmando que se deve aguardar por mais desenvolvimentos no desenrolar da grave crise militar no leste europeu.
Enquanto sublinha que a política monetária do BCE nada pode fazer para resolver problemas nos preços que derivam do risco geopolítico (nem do choque da oferta que resulta dos constrangimentos nas cadeias de distribuição), Centeno considera que ela deve ter em conta as consequências que o potencial conflito na Ucrânia trará para a Europa.
“As tensões geopolíticas não estão dentro do conjunto de choques económicos aos quais a política monetária pode dar resposta”, afirmou Mário Centeno numa aula de Economia Monetária no ISEG. Mas a “política monetária deve acautelar aquilo que são as consequências de um deflagrar de um conflito dessa natureza” na estabilidade de Zona Euro, acrescentou logo a seguir.
Com uma inflação na região nos 5%, um máximo histórico, o BCE está a ser pressionado a aumentar as taxas de juro para combater a aceleração dos preços, e Christine Lagarde já disse que só fará depois de terminar as compras líquidas de dívida, previstas para acabar no final do ano.
Centeno voltou a lembrar que estamos a entrar num novo ciclo da política monetária e que os juros baixos não eram desejáveis nem eram possíveis de manter durante longos períodos. Mas a subida dos juros tem de ter “boas razões e essas boas razões não podem ser choques na oferta nem tensões geopolíticas”, frisou.
A melhor forma de Portugal estar preparado para esta nova fase passa por manter a trajetória da redução da dívida que tem vindo a concretizar e que retomou assim que a pandemia aliviou o seu custo económico e financeiro, destacou o governador.
O governador do Banco de Portugal falou na aula aberta de Economia Monetária e Financeira do ISEG, a propósito do lançamento da 4.ª edição do livro Economia Monetária e Financeira da autoria de Margarida Abreu, António Afonso, Vítor Escária e Cândida Ferreira.
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