A guerra e nós, as pessoas
Por cá muitos enchem as redes sociais de manifestações contra a guerra na Ucrânia. Parece pouco (e na verdade sabe a pouco) mas talvez seja um ativismo que pressione as lideranças a agir.
A conversa começou como tantas outras de trabalho mas não terminou da forma habitual. À despedida ‘espero que esteja tudo bem contigo’ chega do outro lado da linha um rojo de dias de angústia e a ‘guerra lá longe’, assume uma cara. Uma família dividida entre Portugal e Ucrânia e um mundo de preocupação pelos sogros, septuagenários — uma médica e um ex-militar — que à chegada à fronteira com a Polónia decidem voltar a Kiev para prestar a ajuda que podem a um país a ser invadido. Aqui mesmo ao lado.
Desde ontem que a guerra regressou à Europa. E nós, à distância assistimos, com um sentimento de impotência, à angústia de milhares que temem pela sua vida e pela dos seus. E tudo assume contornos de irrealidade e questionamo-nos como chegamos aqui. “Isto é mais do que uma guerra na Ucrânia. É a luta por uma visão do mundo. Temos de fazer o que podemos”, diz-me João do outro lado da linha, com um sentimento de urgência.
E o que podemos nós, as pessoas, fazer? Muito pouco, sentimos. Mas se calhar, esse muito pouco, pode ser muito. Na Rússia milhares saíram à rua em protesto contra este conflito que não querem. Um ato de coragem num país onde manifestações não são vistas com bons olhos. Dúvidas houvesse, é ler o ‘lembrete’ de um porta-voz do governo russo: “À luz da lei, sem que sejam seguidos os procedimentos apropriados, estes cidadãos não têm o direito de organizar protestos para expressarem o seu ponto de vista”, disse citado pela CNN.
Para protestar na Rússia — mesmo num assunto destes — é preciso pedir autorização com antecedência mínima de 10 dias. Sem o ‘papel’ — não fosse este um assunto sério, mais parecia um sketch dos Gato Fedorento — quem se manifesta arrisca a detenção. E não é um risco teórico, pois chegam-nos relatos de milhares de cidadãos detidos pela imensa coragem de dizer na rua não à guerra.
Por cá muitos exercem o seu direito ao protesto, enchendo as redes sociais de manifestações contra este conflito. Parece pouco (e na verdade sabe a pouco) mas talvez seja um ativismo que pressione as lideranças a agir. A prestar ajuda a quem mais precisa, a usar os meios necessários para parar este conflito a quem ninguém serve ou serve a muito poucos. Porque certamente, a nós, as pessoas, não nos serve e não queremos isto.
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