Costa admite que novo Governo não tem “sequer dois meses de estado de graça”

Na tomada de posse, o primeiro-ministro preparou os portugueses para os impactos económicos da guerra na Ucrânia, prometendo ainda “humildade democrática” e estabilidade até outubro de 2026.

Depois de em outubro de 2019, na posse do anterior Executivo, ter dito que aquele seria “um Governo para os bons e para os maus momentos e quanto maior a tormenta, maior a determinação em ultrapassá-la” — que interpreta agora como uma “premonição” da pandemia –, António Costa frisa que “desta vez, a tormenta não dá sequer dois meses de estado de graça” ao novo Governo.

“Ainda enfrentamos a pandemia, estamos a sarar as feridas que abriu e agravou, e já temos de combater os efeitos da guerra da Rússia contra a Ucrânia”, contextualizou o primeiro-ministro, notando que o conflito militar na Europa “acrescenta um enormíssimo fator de incerteza” para as famílias, para as empresas e para os empregos em Portugal.

Aludindo à pressão inflacionista, ao risco de ruturas no abastecimento de produtos, ao controlo do custo da energia e das matérias-primas essenciais e ainda ao apoio às famílias e às empresas mais atingidas pela atual conjuntura, Costa confiou que “se conseguimos em 2015 recuperar da austeridade e em 2020 responder à pandemia, em 2022 vamos saber enfrentar os impactos da guerra e prosseguir a estratégia de crescimento”.

No discurso proferido no Palácio da Ajuda, em Lisboa, referiu ainda que os portugueses “exigem a recuperação do tempo perdido por uma crise política que não desejavam” e prometeu “coragem e ambição” para os próximos quatro anos e meio. Elencou quatro grandes desafios – emergência climática, transição digital, inverno demográfico e desigualdades – e frisou que a conjuntura mais adversa não o fará desistir dos objetivos nem esquecer os compromissos.

O XXIII Governo Constitucional, o terceiro a ser chefiado por António Costa, tomou posse ao final da tarde no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, dois meses depois das legislativas realizadas a 30 de janeiro, que o PS venceu com maioria absoluta, elegendo 120 deputados num total de 230. O novo Executivo é composto por 17 ministros e 38 secretários de Estado e tem a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, como “número dois” na hierarquia governativa.

“Humildade democrática” e estabilidade até outubro de 2026

O programa de Governo vai ser aprovado amanhã em Conselho de Ministros e será apresentado na sexta-feira, com Costa a sublinhar que ele até já é conhecido, pois corresponde ao programa eleitoral sufragado nas urnas em janeiro. E salienta que a proposta de Orçamento do Estado para este ano também já está pronta e mantém os “compromissos assumidos” no documento chumbado em novembro, como o aumento extraordinário das pensões com retroativos, a redução do IRS para a classe média ou o início da gratuitidade das creches.

No plano político, e já depois de dirigir um apelo à participação dos jovens qualificados, o primeiro-ministro concordou com Marcelo na tese de que “a maioria absoluta não significa poder absoluto”. Pelo contrário, “corresponde a uma responsabilidade absoluta para quem governa, sem álibis e desculpas”. “Os portugueses resolveram a crise política e garantiram a estabilidade até outubro de 2026”, assegurou, numa resposta à intervenção do Presidente da República.

“Temos a obrigação de aproveitar a estabilidade para antecipar a incerteza, enfrentando corajosamente os desafios estruturantes com que nos confrontamos. Isso implica trabalho em conjunto, com humildade democrática, com lealdade institucional, garantindo o envolvimento dos partidos e dos parceiros sociais na criação de soluções”, completou o governante, prometendo “uma maioria de diálogo político, parlamentar e social”.

Apesar de ter vencido com maioria absoluta, tal como antes tinham feito Cavaco Silva e José Sócrates, o atual secretário-geral do PS lembrou que as competências próprias dos órgãos de soberania, os princípios de separação de poderes e da autonomia regional e local não sofreram alteração. “O Presidente da República e o primeiro-ministro são os mesmos. Os portugueses podem contar com normalidade constitucional e com a continuação da saudável cooperação institucional” entre Belém e S. Bento, concluiu.

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