Nestlé Portugal adapta produção e aumenta preços, apesar de não comprar cereais às zonas do conflito

Nestlé reconhece “incrementos de custos enormes” tanto em matérias-primas como a nível energético, levando a aumentos do preço do café e alguns produtos de alimentação infantil e animal.

A Nestlé Portugal aumentou o preço do café, e de alguns produtos de alimentação infantil e animal, tendo ainda adaptado a sua produção, apesar de não comprar cereais às zonas afetadas pela guerra na Ucrânia, avançou o diretor-geral da empresa, Paolo Fagnoni, esta quarta-feira na apresentação dos resultados de 2021. Globalmente, a empresa viu aumentar os custos mais de 15%, tendo o preço médio junto do consumidor, dentro de produtos selecionados, subido entre 7% a 8%.

Paolo Fagnoni admitiu “incrementos de custos enormes por diferentes motivos”. O responsável da filial portuguesa da multinacional aponta para um misto de aumentos no custo das matérias-primas e da energia, e admite ainda a possibilidade de os custos continuarem a seguir esta tendência. No entanto, também reconheceu esforços da companhia de modo a absorver esta subida. “Internamente, estamos a fazer tudo o possível para evitar transferir ao consumidor este aumento de custo”, disse.

Ainda que a empresa não compre cereais às zonas afetadas pela guerra na Ucrânia, o diretor-geral admitiu que a companhia se encontra a “identificar áreas de poupança em todas as atividades, para evitar aumentar os custos”. Apesar da subida do preço de matérias-primas como café, cacau e cereais, Fagnoni diz não ser possível refletir no preço do produto todos estes aumentos, pelo que o “grande desafio é identificar sinergias e áreas de poupança”.

Neste sentido, o diretor-geral divulgou que os cereais usados são comprados diretamente em Portugal, Espanha e França, mas adverte: “Faltando a produção russa e ucraniana, toda a procura mundial vai colocar pressão sobre os restantes produtores.”

À questão da guerra na Ucrânia somam-se ainda outros problemas. A falta de óleo de girassol, muito utilizado na produção alimentar, apresenta um risco que já obrigou a alterar e adaptar receitas da Nestlé. Contudo, de momento é impossível semear colheitas nas zonas afetadas pelo conflito na Ucrânia, pelo que o impacto no futuro pode ser ainda maior. “Está claro que a situação mundial vai mudar, há que ver como evolui a procura global”, diz Fagnoni.

Os consumidores portugueses são extremamente fiéis à marca, garante o diretor-geral, embora reconheça que esse não é um motivo para subir preços.

Fagnoni também aponta o dedo ao preço da energia, e menciona aumentos dos custos energéticos de 6 a 7 milhões de euros nas fábricas em Portugal. Entre a guerra na Ucrânia e o custo da energia, o diretor-geral admite ainda não haver um impacto direto devido ao conflito, mas sim um impacto superior da volatilidade energética.

Fruto dos constrangimentos em vigor, a Nestlé procedeu com uma simplificação do portefólio. Fagnoni explica que, em algumas linhas de produtos, houve opções a ser colocadas em pausa de modo a priorizar outras mais populares, mas as alterações e a subida dos preços não são uniformes e variam entre produtos e categorias.

No geral, o aumento de custos ultrapassou os 15%, mas a distribuição é desigual. A matéria-prima do café sofreu aumentos na ordem dos 50%, enquanto nos cereais a subida já é de 13% a 15%. No que toca ao aumento médio dos preços junto do consumidor, dentro de produtos selecionados, este foi de 7% a 8%. Apesar destas subidas já estarem em efeito, Fagnoni diz que a “elasticidade no consumidor não é infinita”.

Apesar de todos estes fatores, o diretor-geral diz esperar um forte crescimento em 2022 à boleia do consumo fora do lar. De igual modo, embora a Nestlé tenha sido alvo de críticas face à sua posição relativamente à guerra na Ucrânia, Fagnoni diz não registar a nível global uma variação de vendas ou fidelidade.

O responsável admite o contacto de 120 pessoas que lamentam a postura da Nestlé neste conflito, mas também esclarece que a marca tem uma posição clara neste assunto, e que esta trabalha para os consumidores, estando inclusive a operar na Ucrânia junto da Cruz Vermelha.

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